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Edição de 30-04-2025
Jornal Online

SECÇÃO: Destaque


51.º ANIVERSÁRIO DO 25 DE ABRIL

Intervenção de Miguel de Oliveira (presidente da Junta de Freguesia de Ermesinde)

FOTO HÉLDER TEIXEIRA (JFE)
FOTO HÉLDER TEIXEIRA (JFE)
Há dias que não são apenas datas, são marcos, são bússolas morais, são memórias coletivas que se tornam herança viva. O 25 de Abril é um desses dias.

Hoje, celebramos os 51 anos da Revolução dos Cravos. Mas mais do que celebrar, recordamos, e mais do que recordar, afirmamos! Afirmamos que a Liberdade vive e que em Ermesinde, ela tem raízes fundas e floresce todos os dias.

É para mim uma honra imensa estar aqui hoje, na condição de Presidente da Junta da Freguesia da Cidade de Ermesinde, a falar-vos numa data tão simbólica. Mas permitam-me começar com uma confissão pessoal: nasci depois do 25 de Abril, tenho 39 anos. Nunca vivi num país sem liberdade. Nunca conheci a censura. Nunca temi falar. Nunca tive de pedir autorização para sonhar.

Sou filho de Abril!

Sei que tudo o que tive e dei como certo - o direito de votar, de aprender, de discordar, o direito de me expressar - só o foi porque outros, antes de mim, se recusaram a viver calados. Porque outros disseram “basta”. Porque houve um dia, 25 de Abril de 1974, em que a dignidade venceu o medo.

Por isso hoje, falo-vos como herdeiro dessa coragem, mas também como guardião do seu legado. Porque a Liberdade que me foi oferecida não me pertence, porque a Liberdade não tem dono.

Cabe-me, por isso, honrá-la, cuidá-la, cabe-me passá-la adiante.

É manifestamente impossível compreender verdadeiramente o valor do 25 de Abril sem recordar o que era Portugal antes dele.

Um país fechado, um país pobre, um país de silêncios forçados, um país de sonhos adiados, onde uma mulher precisava de autorização do marido para viajar, onde um estudante podia ser preso por ler um livro “proibido”, onde o Estado dizia o que se podia dizer - e punia quem ousava sonhar diferente. Havia a censura, a polícia política, a tortura. Havia a guerra colonial, que levou milhares de jovens a combater num conflito que não escolheram.

Havia o medo e onde há medo, não pode haver liberdade.

Esse era o país que os capitães de Abril enfrentaram, mas não o fizeram com ódio ou violência. Fizeram-no com esperança e com um cravo.

Devolveram ao povo o direito de ser dono do seu destino.

Com a Revolução, nasceram conquistas que hoje fazem parte da nossa vida, do nosso dia-a-dia, mas que tiveram de ser conquistadas:

O direito ao voto livre e universal;

O Serviço Nacional de Saúde;

A escola pública, gratuita e democrática;

A liberdade de expressão, de associação;

A liberdade de imprensa (que permita aos jornalistas relatar os factos com rigor e exatidão e interpretá-los com honestidade!!);

Os direitos laborais, a proteção social, a igualdade de género;

O fim da guerra colonial e a autodeterminação dos povos.

Abril não nos deu um paraíso, deu-nos a possibilidade de o construir. É essa possibilidade que nos exige ação, cidadania e responsabilidade.

Abril não é um ponto de chegada. É um caminho!

Um caminho que se fez de conquistas e uma das maiores conquistas e vitórias de Abril foi sem dúvida a criação do poder local democrático. Pela primeira vez, há 50 anos a esta parte, os cidadãos passaram a escolher diretamente quem os representava nas assembleias de freguesia, nas câmaras e nas assembleias municipais.

A democracia desceu à rua. À aldeia. Ao bairro. A Democracia desceu à nossa porta.

É aqui que quero prestar a minha homenagem a todos os que, desde então, deram corpo à democracia local em Ermesinde. A todos os ex-presidentes de junta, a todos os autarcas, que serviram esta terra com dedicação, com sentido de missão e com amor ao próximo — o meu profundo respeito e gratidão. Foram eles, também, construtores de Abril.

É no poder local que a política se faz com rosto, com voz direta, com urgência concreta. É aqui que se sentem os problemas reais. É aqui que se tomam decisões que mudam vidas.

A Junta de Freguesia não é apenas uma instituição. É um ponto de encontro. É uma presença constante. É a primeira linha da democracia.

E aqui estamos nós, em Ermesinde, terra de liberdade e de futuro.

Uma terra de trabalhadores, de artistas, de empresários, de voluntários, de jovens com talento e de seniores com memória.

Ermesinde é uma terra que vive da força do seu povo.

É para ele, esse povo, que todos os dias trabalhamos.

Ermesinde honra Abril quando acolhe, quando ouve, quando integra, quando protege, quando constrói.

Somos uma freguesia que não esquece o passado, mas que acredita no futuro e o futuro que queremos é solidário, participativo, sustentável e, acima de tudo, livre.

Hoje, 51 anos depois da Revolução dos Cravos, há quem tente relativizar Abril.

Há quem procure reescrever a história. Há quem fale da ditadura com nostalgia ignorante. A esses, respondemos com a força da memória. Porque a liberdade não foi um acaso. Foi uma conquista. E as conquistas defendem-se.

Porque a história nos ensina que o silêncio pode voltar a crescer onde o medo encontra espaço.

Por isso, é urgente educar para a memória. É urgente ensinar às gerações mais novas o que foi o fascismo. É urgente cultivar a participação, o debate, a empatia, a cidadania ativa.

Porque a liberdade não é apenas um direito. É uma conquista. É um dever. É uma responsabilidade coletiva.

Hoje, neste momento da nossa história, em que enfrentamos desafios sociais, económicos, ambientais e democráticos, precisamos de Abril mais do que nunca. Precisamos do seu espírito generoso, do seu inconformismo, da sua coragem.

Precisamos de acreditar que é possível mudar. Precisamos de gente que queira fazer parte dessa mudança.

Abril é um compromisso renovado. É uma celebração da liberdade, mas também uma celebração da esperança. Esperança de que o nosso futuro se renove em cada Abril. Esperança que esse futuro comece agora. Com cada um de vós. Com cada jovem que aprende o que foi Abril, com cada pessoa que se emociona a lembrar, com cada cidadão que acredita que vale a pena lutar por uma comunidade mais justa, mais unida, mais viva.

Abril é aqui. Abril é agora. Abril é sempre.

Termino com três palavras e uma frase. Três palavras que são bandeira, cravo e promessa:

Liberdade.

Porque sem ela, nada é inteiro.

Memória.

Porque quem esquece, repete.

Ermesinde.

Porque esta terra sabe de onde vem, e sabe para onde quer ir.

E uma frase, que embora parecendo fora do contexto, teve o condão de ao longo da última dura, injusta, desafiante e inacreditável semana reforçar a minha fé inabalável em Abril e na Liberdade.

A verdade não precisa gritar, basta aparecer que desmonta qualquer mentira!

Viva o 25 de Abril!

Viva a Liberdade!

Viva o Poder Local!

Viva Ermesinde!

25 de Abril sempre! Fascismo nunca mais!

25 de Abril sempre! Fascismo nunca mais!

Muito obrigado.

 

 

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