50 ANOS DO 25 DE ABRIL
A Fita do Tempo da Revolução: As movimentações militares na Revolução dos Cravos (12)
A ORDEM DE FOGO PESADO SOBRE O QUARTEL DO CARMO
Salgueiro Maia tinha cercado o quartel do Carmo, sede do Comando-geral da GNR. Marcelo Caetano, o Presidente do Conselho de Ministros, tinha-se aí refugiado. A resistência militar do Regime era débil, mas Caetano não mostrava sinais de se render. Acalentava ainda a esperança de que alguma coisa pudesse acontecer de bom para o seu lado.
A DGS tentava o que podia para o retirar do quartel, mas o cerco impedia praticamente todos os movimentos. Sugeriu-se uma manobra na qual Caetano deveria utilizar uma escada de madeira. Mas Caetano recusou. Colocou-se como hipótese a recolha deste por via aérea (helicóptero). Mas tal não teria sucesso. Mesmo que houvesse possibilidades de a aeronave aterrar no quartel, esta seria seguramente abatida pela tropa revoltosa.
A situação estava num impasse.
Havia por parte das forças revoltosas receio de algumas manobras desesperadas por parte do Regime.
Não estava descartada a hipótese de intervenção do Exército Espanhol, nos termos no Pacto Ibérico assinado pelos ditadores Salazar e Franco, logo a seguir ao final da Guerra Civil espanhola. A todo o tempo poderia haver um ataque às forças revoltosas por parte dum helicanhão que, segundo algumas fontes, nomeadamente fotográficas, teria sobrevoado o Largo do Carmo. O general Kaúlza de Arriaga não estava inativo, embora não tivesse arranjado tropa para qualquer intervenção. Havia unidades militares não afetas aos revoltosos que poderiam intervir.
Salgueiro Maia evitava a utilização da força, pois um ataque frontal ao quartel iria gerar um sem número de vítimas, não só nas forças da Guarda, como também do lado dos revoltosos e, principalmente, do lado dos civis que se amontoavam no Largo e não arredavam pé, apesar de todos os apelos dos militares nesse sentido. Só a rendição de Caetano resolveria o impasse e esta não dava mostrar de acontecer.
O Posto de Comando contacta telefonicamente o quartel do Carmo. Atende o Chefe do Estado-maior, Coronel Ângelo Ferrari. Procede a manobras dilatórias, dizendo nada saber de Marcelo Caetano, “mas ia ver”… Pelo megafone Salgueiro Maia tenta também fazer-se ouvir no quartel, mas os resultados práticos são nulos.
Do Posto de Comando ordenam a tomada pela força, começando por disparos de aviso. Maia hesita, dado o número de civis aí presentes. Mas acaba por abrir fogo com as metralhadoras dum blindado “chaimite”. Foi alvejada a fachada principal do quartel. As balas partiram vidros e penetraram no quartel, mas não houve vítimas.
Eram 15:30 horas.
Sabe-se que estes disparos trouxeram enorme desconforto no interior do quartel do Carmo. Caetano começou a ser pressionado pelos próprios militares. Mas não dava sinais de desistência.
Ocorre aqui o episódio da entrada em cena do Coronel de Cavalaria Abrantes da Silva. Este militar nada tinha a ver com o Movimento e a sua presença no Largo do Carmo apenas se deveu ao pedido a Salgueiro Maia para este interceder pelo seu filho que estava detido em Caxias. O Coronel serviu de intermediário entra as Forças Revoltosas e o Comando-geral da GNR.
Igual intermediação ocorreu com um militar da GNR, o Major Fernando Velasco. Este militar era primo de Otelo Saraiva de Carvalho e era militar revoltoso. Saiu do quartel e conversou com Salgueiro Maia, após o que regressou ao quartel.
Cerca das 15:45 horas e na ausência de qualquer resposta aos insistentes apelos de Maia, este ordena nova vaga de disparos sobre o quartel. Esta vaga durou 2 minutos e 15 segundos e foi levada a cabo por todos os militares sitiantes que se encontravam em posição de fogo. Foram disparados centenas de projéteis que causaram no interior do quartel enormes estragos. Mas não causaram vítimas, o que não deixa de ter sido um enorme golpe de sorte.
Cerca das 16 horas Maia dá finalmente ordem de fogo com armas pesadas.
Encontravam-se em posição de fogo dois carros de combate, comandados, respetivamente pelos Alferes Clímaco e Sampaio. A ordem de fogo é dada pelo Tenente Santos Silva.
Mas os disparos não aconteceram…
A ordem havia sido mal dada, os comandantes dos carros hesitaram e não transmitiram a ordem para as respetivas torres. De facto, havendo duas viaturas blindadas em posição de fogo, haveria de ser muito rigoroso na indicação de qual delas abriria fogo, ou se abririam ambas. Isso não foi manifestado pelo Tenente Santos Silva. Este questionou os comandantes das viaturas blindadas das razões do não cumprimento da Ordem. E preparava-se para repetir a ordem de fogo quando surgem dois civis acompanhados pelo Tenente Alfredo Assunção, dizendo-se serem portadores duma missiva do General António de Spínola dirigida ao Professor Marcelo Caetano.
O Tenente Santos Silva dá de imediato ordem de Alto ao Fogo.
Os civis entraram no quartel. Mas de dentro não surgiram notícias durante uns infindáveis quinze minutos. Salgueiro Maia dá ordem direta ao Alferes Sampaio para abrir fogo com a sua viatura blindada. De novo o tiro não parte. Desta vez porque o Alferes Sampaio “não ouviu” a ordem, apesar dela ter sido dada através dum sonoro megafone…
Só depois do falecimento do Capitão Salgueiro Maia é que o Alferes Sampaio explicou porque não procedeu ao disparo. Bem ou mal, entendeu que o disparo duma granada explosiva iria causar um banho de sangue e que nas circunstâncias do momento não havia qualquer razão para tal. Os negociadores estavam no interior do quartel, quinze minutos não pareceram ao Alferes tempo demasiado. A História mostrou que ele estava certo.
Discutiu-se durante muito tempo os efeitos reais da granada se esta tivesse sido disparada. Especialistas em armamento português da altura apontam para
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José Campos Garcia*
*Médico
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