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Edição de 28-02-2025
Jornal Online

SECÇÃO: Destaque


Inaugurada em Alfena a Oficina do Brinquedo Tradicional Português

Fotos MIGUEL BARROS
Fotos MIGUEL BARROS
O brinquedo tradicional português já pode ser contemplado na terra que o viu nascer. Ou melhor, numa das terras que o catapultou para o resto do país, Alfena. A Oficina do Brinquedo Tradicional Português, sediada na cidade irmã, abriu as suas portas oficialmente no passado dia 8 de fevereiro, com a inauguração de uma exposição, que «vem enaltecer um espaço dedicado ao brinquedo tradicional português, cujo objetivo é o de preservar, promover e divulgar esta marca identitária do concelho, bem como o de homenagear todos os fabricantes concelhios que fizeram – e ainda fazem – de Valongo uma referência nacional e, até, internacional nesta arte ancestral», segundo nota divulgada pela Câmara Municipal de Valongo (CMV).

A abertura deste espaço museológico, localizado na antiga Escola de Cabeda, contou com a presença de uma enorme moldura humana, destacando-se não só alguns dos atuais fabricantes de brinquedos tradicionais, mas sobretudo muitos familiares de antigos fabricantes que já não se encontram vivos. Presentes também muitas figuras do concelho, com realce para o presidente da CMV, José Manuel Ribeiro, que antes de proferir as habituais palavras de circunstância chamou para o local onde estavam perfiladas as individualidades desta cerimónia o antigo presidente da Junta de Freguesia de Alfena (JFA), Arnaldo Soares, por também ter feito parte deste processo de erguer a Oficina do Brinquedo Tradicional Português em Alfena.

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Nas palavras do presidente da autarquia, o momento ali vivenciado era, sobretudo, importante para duas comunidades, a de Alfena e a de Ermesinde. «O brinquedo tem uma importância muito grande nestas duas comunidades. Antes de eu ser eleito, lembro-me perfeitamente que havia já aqui em Alfena um forte movimento de defesa do brinquedo tradicional português. Eu, na altura, disse logo que se um dia fosse eleito presidente do município garantia que agarrava “nisto”. E cá estamos hoje. Demorou foi muito tempo, mas como tudo o que sabe bem demora muito tempo», começaria por salientar o edil, acrescentando mais adiante que sem desvalorizar a tradição do brinquedo que existe em Ermesinde, a comunidade de Alfena soube agarrar essa mesma tradição. «E respeitem-me as pessoas que estão aqui de Ermesinde, mas onde havia o sonho, onde havia uma vibração, era em Alfena. Temos de dizer as coisas como elas são», frisou José Manuel Ribeiro ao recordar o início do processo de edificar este museu precisamente naquela cidade. Mais à frente do seu discurso sublinhou que aquele era de igual forma um momento de homenagem a todos aqueles que fazem e que faziam os brinquedos tradicionais portugueses, levantando de seguida um pouco a ponta do véu do que dali a pouco se iria ver no interior – do átrio deste espaço. Entre outras características, deu nota que uma das partes desta exposição explica a importância do brinquedo nas sociedades humanas. «O brinquedo desde sempre serviu para ensinar às crianças muito daquilo que os adultos não conseguiam explicar por palavras, mas que conseguiam demonstrar com brinquedos. Também serviu para coisas mais chatas, isto é, o brinquedo foi durante muito tempo utilizado para preparar os meninos para a guerra, com os brinquedos de guerra, e as meninas para um mundo que hoje felizmente já não existe, que era estarem condenadas à vida de casa/doméstica», explicou, salientando mais adiante que «estas exposições só fazem sentido se tocarem as pessoas, têm de ser uma experiência que transforme. E este espaço foi pensado para ser transformador. E no futuro virá aqui muita gente, pois o brinquedo tem o poder de juntar gerações. Em torno de um brinquedo de madeira, de chapa ou de plástico está facilmente o filho, o neto, o avô, o tio, a mãe. Quem vier aqui vai perceber de onde viemos, o que passamos. Mas também na parte mais à frente da exposição é pensado aquilo o que pode ser o futuro do brinquedo. O brinquedo didático. O brinquedo pode ser muita coisa», explicou José Manuel Ribeiro, que conclui a sua intervenção dizendo que «ou fazemos coisas que são diferentes, que tocam nas pessoas, ou então não andamos a gastar bem o dinheiro público. Agradeço a todos que estiveram envolvidos neste projeto».

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Também o atual presidente da JFA, Luís Miguel Caetano, proferiu algumas palavras, para enaltecer o facto de o brinquedo ser um elo de ligação nas gentes de Alfena, após olhar para aquela sala repleta de cidadãos. «De facto, o brinquedo une-nos, não só naquilo que é conseguirmos brincar com os netos, ou com os filhos, mas também no facto de a nossa comunidade ter tido uma importância naquilo que era o seu tecido empresarial». Luís Miguel Caetano recordaria ainda que também ele assim que chegou à presidência da Junta agarrou este projeto da Oficina do Brinquedo Tradicional Português, e uma das ações que logo tomou foi continuar a dinamizar aquilo que é o brinquedo. Nesse aspeto, endereçou um agradecimento a uma família em particular, uma família especial, nas suas palavras, a família de Manuel Encrenca, um dos mais populares artesãos/fabricantes de Alfena, já falecido, e cuja família assinou um protocolo com a JFA no sentido de ceder todo o espólio deste antigo fabricante para o futuro museu do brinquedo. Espólio esse que agora pode ser visto por todos neste espaço museológico. Agradeceu ainda a quem ali na atualidade continua a fabricar o brinquedo tradicional português, referindo-se neste caso a Júlio Penela, que dirige uma fábrica centenária naquela freguesia; mas também ao presidente da CMV por «ter concretizado este sonho de todos os alfenenses. Já sabemos que o brinquedo não é só de Alfena, mas será daqui que o brinquedo irá sair além-fronteiras», concluiu Luís Miguel Caetano.

Findos os discursos, todos os presentes puderam viajar no tempo, isto é, depois de uma receção, ou átrio, muito século XXI, num estilo futurista, eis que atravessamos uma cortina de vapor e viajamos para o passado, onde pudemos contemplar não apenas os brinquedos de chapa, de madeira, de plástico de “outos tempos” que aqui eram feitos, mas também as máquinas onde eram construídos, e também a narrativa histórica do concelho de Valongo neste capítulo particular do brinquedo, e na forma como este objeto fez do nosso concelho o maior centro produtor de brinquedos tradicionais portugueses.

Por: Miguel Barros

 

 

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