Maus tempos
Outubro trouxe-nos muitas preocupações, devido aos maus tempos que se viveram, quer a nível das alterações climáticas, quer a nível das relações entre as pessoas, tanto no nosso país como lá fora.
No que toca ao mau tempo, a segunda e terceira semanas de outubro trouxeram-nos inundações, quedas de árvores, postes derrubados, pórticos e camiões virados em autoestradas, gruas caídas sobre prédios, centenas de milhares de pessoas sem eletricidade, escolas fechadas, estufas desfeitas e culturas agrícolas perdidas, linhas de água a extravasarem os leitos, que provocaram desalojamentos e a intervenção dos soldados da paz que não tiveram mãos a medir para acudir a tantos pedidos de socorro. E isto aconteceu em todo o país. Primeiro, foi a tempestade “Kirk” que atingiu vários países europeus e também chegou a Portugal, nos passados dias 8 e 9 de outubro, afetando de forma violenta todos os distritos portugueses; e este concelho, bem como a cidade de Ermesinde, também não foram poupados. Na semana seguinte, até o interior do país foi atingido, sobretudo o Alto Alentejo onde o mau tempo se fez sentir de forma inusitada, concretamente nos distritos de Portalegre e no de Évora; neste último registaram-se grandes inundações, nomeadamente nos concelhos de Montemor-o-Novo e de Arraiolos, que provocaram vários desalojados.
Recorde-se que para estas alterações climáticas que provocam o caos e o medo coletivo, com destruição, morte e perdas irreversíveis, muito contribui a ação do Homem, que, apesar de todas as chamadas de atenção das iniciativas ambientalistas, continuam a poluir, a explorar os recursos de forma não sustentável, não respeitando nem a natureza, nem a si próprios.
Quanto às relações entre estados/nações, as guerras que assolam mais próximo de nós, também não se vê jeito de acalmarem, bem pelo contrário, a tendência parece ser de se agravarem cada vez mais, com o alargamento da área de combates e do número de países envolvidos. Assim acontece na Terra Santa, tendo-se completado no passado dia 7 de outubro, um ano sobre o ataque do Hamas a Israel que fez logo mais de mil mortos e sequestrou mais de 250 reféns, entre os quais havia crianças, idosos e mulheres. Desde então muitos milhares de milhões de dólares se gastaram para matar gente inocente e destruir casas, terras, fábricas, vias de comunicação e património. Dinheiro que dava para tirar a fome, a sede e curar tanta gente necessitada no mundo inteiro. Na guerra da Federação Russa à Ucrânia, que já leva 2 anos e 8 meses de destruição e morte, também não se vislumbra um fim à vista. Quando será que o Homem será capaz de respeitar a Lei que ele próprio fez?
Entretanto, mais próximo de nós, a morte de Odair Moniz, cidadão cabo-verdiano de 43 anos, na sequência ter sido baleado por um agente da PSP na madrugada de 21 de outubro, após a fuga às autoridades, no bairro da Cova da Moura, na Amadora, esteve na origem de desacatos que começaram no bairro do Zambujal, na Amadora, espalhando-se a várias zonas de Lisboa, e até à margem sul. Estas ações de violência, que se repetiram vários dias, provocaram a destruição de carros e de autocarros que foram incendiados, bem como diverso mobiliário urbano, houve tiros e petardos, que provocaram ferimentos em polícias e noutros cidadãos inocentes. Num país de direito democrático tem de se respeitar os serviços de justiça e garantir que eles funcionem. A revolta pode ser manifestada de forma pacífica e legítima com manifestações e abaixo-assinados. E, neste caso particular, até nem tinha ficado mal uma iniciativa de angariação de fundos para ajudar a esposa e filhos de Odair.
Oxalá os tempos que aí vêm sejam melhores e nos permitam constatar que o Homem é, de facto, um ser que se comporta de acordo com os valores éticos e justos que aprende (ou devia aprender) em família, na escola e na convivência do dia a dia.
Por:
Manuel Augusto Dias
|