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Edição de 30-09-2024
Jornal Online

SECÇÃO: Crónicas


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ENCONTRO DE CULTURAS (1)

Quem são, afinal, os “Bárbaros do Sul”? Encontros e desencontros dos portugueses no séc. XVI

Nota prévia: O Padre Joaquim Domingos da Cunha Areais nasceu em 1966, na vizinha freguesia de S. Pedro Fins e é o Pároco de Ermesinde há um ano (tomou posse no dia 10 de setembro de 2023). Ordenado em 1991, serviu já as comunidades paroquiais de Arrifana, Romariz, Folgosa e S. Pedro Fins. Esteve cinco anos, como missionário no Japão, tendo pastoreado as paróquias de Takatsuki e Ibaraki, na arquidiocese de Osaca.

Dado o seu contacto com a sociedade nipónica pedimos-lhe que escrevesse alguns artigos sobre a cultura japonesa, com a qual os portugueses se encontraram pela primeira vez há quase 500 anos e que, ainda hoje, apesar de fenómeno da globalização, permanece com tantas e tão profundas diferenças.

Ficamos muito gratos por ter aceitado o nosso desafio.

A primeira referência ao Japão, que chegou ao Ocidente foi feita por Marco Polo, designando o País do Sol Nascente como Cipango.

Com a expansão portuguesa, na Ásia, aberta pela descoberta do caminho marítimo para a Índia, pelo Oceano Índico, os portugueses foram-se estabelecendo no Extremo Oriente em praças fortes como Cochim, Goa, Malaca e Macau. Consta, por isso, que foi um aventureiro português, Fernão Mendes Pinto o primeiro a alcançar a terra nipónica em 1541 (ou 1543). Ele mesmo conta no seu livro Peregrinação, que tinha como companheiros de aventura Diogo Zeimoto e Cristóvão Borralho. Foram eles também que, pela primeira vez, mostraram armas de fogo, com base na pólvora, aos japoneses. É possível que outros portugueses já tivessem alcançado essas terras, mas não existe relato escrito. Foi notável porque permitiu a abertura do comércio com o Japão e o desenvolvimento das relações com os portugueses, que a partir de determinada altura passaram a ser designados pelos japoneses como Namban-jin, que significa bárbaros do sul, porque entraram pelo sul do Japão e eram estranhos e exóticos para os japoneses.

Biombos Namban retratam os primeiros portugueses no Japão (crédito da imagem - https://ensina.rtp.pt/artigo/biombos-namban-retratos-dos-portugueses-no-japao/)
Biombos Namban retratam os primeiros portugueses no Japão (crédito da imagem - https://ensina.rtp.pt/artigo/biombos-namban-retratos-dos-portugueses-no-japao/)
A presença dos portugueses começou a ser tão forte, no Extremo Oriente, que D. João III solicitou ao Papa Paulo III, em 1539, que enviasse juntamente com os barcos portugueses missionários. E assim aconteceu com o envio de um dos primeiros jesuítas, companheiro de Santo Inácio de Loiola, basco como ele, Francisco Xavier, que foi o primeiro missionário no Japão. Aprendeu o português, em Lisboa, e seguiu nos barcos portugueses tendo entrado, no Japão em 1549, fundando as primeiras comunidades cristãs em Yamaguchi, Hirado e Bungo. A ele se juntaram muitos outros missionários, sobretudo, nestes primeiros tempos, jesuítas.

O governador de Hirado (dâimio), Matsura Takanobu, para agradar aos comerciantes portugueses, recebeu inicialmente bem os missionários, mas depois tornou-se hostil aos seus projetos de evangelização de tal modo que, em 1561, quinze portugueses foram mortos. Perante esta situação, os portugueses começaram a procurar outros portos de abrigo e nomeadamente Nagasáqui. Não nos esqueçamos que, nesta altura, o Japão estava dividido por vários senhores feudais, chamados dáimios e shóguns cada qual governava autonomamente o seu território. O imperador tinha, apenas, um papel simbólico. Há quem diga até que as armas de fogo, que os portugueses levaram, sobretudo, o arcabuz, por paradoxal que pareça, contribuiu para a unificação do território, porque os senhores feudais (shóguns), que as possuíam, tornaram-se superiores aos que usavam apenas as armas tradicionais.

De qualquer modo, a atividade missionária fez aumentar a influência dos portugueses e isso levou a conflitos com os budistas, o que mais tarde culminou na perseguição aos cristãos e expulsão de todos os missionários do país, no tempo do shógun de Tokugawa Ieyasu, tornando-se os cristãos clandestinos, sendo denominados pela expressão japonesa “kakuri kristiani” (cristãos escondidos) como pode ser visto no filme

(...)

leia este artigo na íntegra na edição impressa.

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Por: P. Domingos Areais

 

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