50 ANOS DO 25 DE ABRIL
A Fita do Tempo da Revolução: As movimentações militares na Revolução dos Cravos (4)
O 25 DE ABRIL PROFUNDO – O ANO DE 1973/1974
As eleições para a Assembleia Nacional decorreram em 28 de outubro.
O partido (ou para alguns, o Movimento Cívico que apoiava Marcelo Caetano, a Ação Nacional Popular ou ANP) tinha a vitória garantida. O único partido adversário que iria concorrer às eleições, mas com um espaço de manobra extremamente reduzido e vigiado pela PIDE-DGS, era o MDP-CDE (Movimento Democrático Português – Comissão Democrática Eleitoral). Mas desistiu do sufrágio por entender que não estavam reunidas as condições necessárias à livre manifestação da vontade popular. A ANP elegeu a totalidade dos 150 deputados.
O Governo foi recomposto. Os ministros de áreas militares eram próximos do General Francisco da Costa Gomes, na altura Chefe do Estado-maior General das Forças Armadas. Estes ministros, tacitamente, suspenderam a aplicação do “Decreto dos Capitães”, mas este só seria definitivamente revogado em 1978 pelo então Conselho da Revolução.
Mas na altura não era importante a revogação ou não revogação do decreto. Nas palavras de Vasco Lourenço, um proeminente elemento do já então chamado “Movimento das Forças Armadas”, os decretos não interessavam para nada, o que havia a fazer era derrubar o Governo.
Uma palavra para a Guarda Nacional Republicana, considerada Guarda Pretoriana do Regime, mas que não o foi tanto em 25 de Abril de 1974, como veremos a seu tempo. Para esta Guarda aquele decreto “dos Capitães” foi muito bem aceite. O que demonstra que mesmo dentro do exército a questão não era unânime.
Para terminar o “ano horrível de 1973”, em dezembro surge a “Kaulzada”.
Kaúlza de Arriaga era um proeminente general do exército. Era um alinhado com a política colonial do Governo, mas duvidava da competência dos políticos da altura. Assim, juntamente com outros generais (António de Spínola negar-lhe-ia o apoio), preparou uma ação militar. Era do conhecimento destes generais o “Movimento dos Capitães”, pelo que Kaúlza tentou a colaboração deles, o que mais não seria do que se impor como comandante do Movimento. O Movimento percebeu isso facilmente e em vez de se aliar ao General, denunciou a tentativa de Golpe. Uma das denúncias foi feita pelo Capitão Carlos Fabião no Instituto de Altos Estudos Militares. O curso que frequentava foi de imediato interrompido. Vasco Lourenço tratou de denunciar o Golpe no seu MFA e tudo morreu à nascença.
Kaúlza de Arriaga tentou fazer das suas no dia 25 de Abril. Mas não teve tropa…
O ano de 1974 acorda com violência em Moçambique.
Na província de Manique, no centro do território de Moçambique, houve um assalto a uma fazenda de colonos brancos, que as autoridades portuguesas atribuíram à FRELIMO. A mulher do fazendeiro foi morta. Há uma manifestação de colonos brancos na cidade da Beira, mas o alvo da manifestação não é a FRELIMO, mas sim as Forças Armadas portuguesas que, segundo os manifestantes, são impotentes para garantir a segurança das pessoas.
Caetano, impotente, nada faz.
O General Costa Gomes, Chefe do Estado-maior General das Forças Armadas, desloca-se àquele território ultramarino. Dirá mais tarde que a sua visita já estava programada, mas houve coincidência temporal. Para o nascente Movimento das Forças Armadas, este episódio demonstrava bem que o prestígio das Forças Armadas não podia estar mais arruinado, pois não era só uma questão operacional, mas principalmente uma questão de sensação de segurança (ou falta dela) por parte das populações.
Em fevereiro de 1974 sai o livro “Portugal e o Futuro”, de António de Spínola. Nele, o autor advoga a ideia de que o problema ultramarino era político e não militar, o que colidia frontalmente com a política do Estado.
Marcelo Caetano sabia que o general se preparava para escrever um livro sobre o seu sentimento quanto às guerras africanas. Mas pediu-lhe que não o escrevesse antes de visitar todas as províncias africanas, pois António de Spínola conhecia bem a realidade da Guiné, mas não das outras províncias. Para isso convidou-o a visitá-las. E para ter a autoridade necessária para as visitar criou o posto de Vice-Chefe de Estado-maior General das Forças Armadas.
Porém, Spínola informa Caetano da saída eminente do livro. Estava impresso, faltando apenas a formalidade da autorização de Costa Gomes.
Esta veio facilmente.
Caetano estava de mãos e pés atados, pois a publicação da obra havia sido autorizada pelo Chefe do Estado-maior General das Forças Armadas. Houve um verdadeiro assalto às livrarias e a obra cedo esgotou. Saíram pelo menos 4 edições.
Marcelo Caetano ponderou a sua demissão. Mas o Presidente da República, Almirante Américo Tomaz não lha permitiu. Deveria encontrar alternativa na lei vigente.
Então Marcelo Caetano quis a garantia do apoio das Foças Armadas. E ordena uma reunião de verdadeira vassalagem no Palácio de S. Bento. Todos os generais no ativo deveriam estar presentes e declarar, daquela forma, o seu apoio à política africana do Governo. A reunião aconteceu no dia 14 de março. O General Paiva Brandão, Chefe do Estado-maior do Exército, na sua qualidade de decano dos Chefes de Estado-maior, anuiu em ler o discurso que tinha sido previamente aprovado por Marcelo Caetano. Esta reunião ficou conhecida nos meios não oficiais como a “Brigada do Reumático” ou “o Beija-Mão dos Generais”. O Tenente-coronel Carlos Azeredo, segundo comandante do CICA1 (ao Palácio de Cristal) e mais tarde um destacado rosto do MFA no Norte, foi mais pragmático na sua apreciação. Comparou aquela reunião à Feira dos Capões de Freamunde, o que provocou a ira do General Eduardo Martins Soares, comandante da Região Militar do Norte, um dos presentes.
Francisco da Costa Gomes, Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas e António de Spínola, Vice-Chefe, não compareceram, o que provocou as suas imediatas exonerações. Estas exonerações provocaram um mal-estar imediato nas Forças Armadas, porquanto aqueles generais representavam bem a postura antiguerra africana sentida pelos militares. Mas apesar dessas faltas, Marcelo Caetano ficou mais descansado. A quase totalidade dos generais estava do seu lado. Mal sabia que um Golpe de Estado estava em adiantado estado de preparação e não partiria de generais, mas sim de patentes bem mais modestas de capitães, majores e alguns tenentes-coronéis.
O dia 16 de março acorda com uma
(...)
leia este artigo na íntegra na edição impressa.
Nota: Desde há algum tempo que o jornal "A Voz de Ermesinde" permite aos seus leitores a opção pela edição digital do jornal. Trata-se de uma opção bastante mais acessível, 6,50 euros por ano, o que dá direito a receber, pontualmente, via e-mail a edição completa (igual à edição impressa, página a página, e diferente do jornal online) em formato PDF. Se esta for a sua escolha, efetue o pagamento (de acordo com as mesmas orientações existentes na assinatura do jornal impresso) e envie para o nosso endereço eletrónico ([email protected]) o nome, o NIF e o seu endereço eletrónico para lhe serem enviadas ao longo do ano, por e-mail, as 12 edições do jornal em PDF.
Mas se preferir a edição em papel receba comodamente o Jornal em sua casa pelo período de 1 ano (12 números) pela quantia de 13,00 euros.
Em ambos os casos o NIB para a transferência é o seguinte: 0036 0090 99100069476 62
Posteriormente deverá enviar para o nosso endereço eletrónico ([email protected]) o comprovativo de pagamento, o seu nome, a sua morada e o NIF.
José Campos Garcia
|