Os pintassilgos
O verão chegara, enfim. Do Liceu já Albertino se tinha esquecido alegremente, nos seus treze anos ávidos de amplidão campestre, o pé descalço, as roupas soltas, o chapéu desabado.
O seu céu era a ribeira: um charco aqui, outro acolá afundados no areal sombreado, o frescor e o jogo das areias, duma firmeza indolente, a acariciar-lhe as solas dos pés a cada passada, a ceder com um ruído lânguido — música para os seus ouvidos. Por cima, o emaranhado dos salgueiros ou o horizonte mais alto das copas dos amieiros, ondulando suavemente; o sol a vibrar nos seus olhos ao ritmo da folhagem, a atenção concentrada, a fisga preparada. As horas passavam, o prazer inebriava, só o estômago exigia o regresso ao casarão de telha vã.
Um dia descobriu um ninho de pintassilgos nos ramos de uma oliveira pequena. Três ovos. Que oportunidade! Foi-o guardando, mas evitando aproximar-se demasiado, sabendo que os pássaros chegam a abandonar os ovos, e até os filhotes pequenos, se notam que o ninho anda a ser controlado. Com uma tábua, vários galhos e arames velhos, construiu uma gaiola à qual não faltavam comedouro, bebedouro e uma portinhola com mola.
Os dias foram passando arrastadamente, os passarinhos nasceram e foram-se emplumando. Quando Albertino achou que estariam prestes a voar, meteu-os na gaiola, com água no bebedouro e alpista no comedouro. Como a oliveira era demasiado aberta e o sol escaldava, resolveu pendurar a gaiola no ramo alto de uma árvore frondosa que distava dali uns duzentos metros.
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IMAGEM DE IA |
A distância não seria problema, porque os pássaros detetam com facilidade os pios uns dos outros — calculou. Lá os deixou, feliz. Já tinha os seus pintassilgos!
No dia seguinte, chegou a “malhadeira”, aquela monstruosa máquina debulhadora, do tamanho de uma camioneta de carreira, com que nessa década de sessenta se debulhava o produto das searas. Recebia molhos de centeio, por uma abertura superior, que, depois de suspeitados safanões e pancadas no seu interior, vertia, por um bocal, o grão, que era aparado em sacas de serapilheira e acarretado para a tulha, e lançava, pelo outro lado, a palha em novelões, que se acondicionava ao lado da eira em montões arredondados, para resistirem às chuvas.
A meda do centeio era grande, a lide contagiante; havia a novidade de toda aquela gente que lidava com a máquina com enorme destreza e rapidez, apesar dos perigos que ela representava. Contavam histórias assustadoras de outras eiras: daquele que ficara sem alguns dedos, ou daquela que se desequilibrara e caíra lá para dentro...
Ao fim do segundo dia, cumprida a debulha, foram-se todos embora: os ceifeiros, para as suas terras; as terceiras para outras tarefas; a debulhadora, a caminho de outra eira. Ficava no olhar um brilho baço de fim de festa. Voltava a calma, voltava a rotina de todos os outros dias.
De repente, lembrou-se. A ideia retiniu-lhe na cabeça em
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Por:
Joaquim Bispo
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