ENTREVISTA
Externato Maria Droste: 50 anos a educar com valores
O Externato Maria Droste, nobre instituição particular de ensino da nossa cidade, está de parabéns, pelo seu Jubileu de Ouro - 50 anos. Nesse sentido, conversámos com a Irmã Filomena Reis, da Congregação de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor, e representante desta congregação religiosa na direção do Externato, e que amavelmente nos “abriu as portas” desta instituição de ensino para falar não só deste cinquentenário, como também do que é hoje o Externato Maria Droste.
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Fotos MIGUEL BARROS |
A Voz de Ermesinde (AVE): 50 anos é uma data importante na vida de qualquer instituição, ainda para mais numa instituição que tem por missão educar e formar, como é o caso do Externato Maria Droste. Numa primeira questão, e olhando para estes 50 anos de atividade, digamos, como é que o Externato Maria Droste conta, ou explica, à nossa comunidade como é que foi, ou tem sido, este meio século de vida no abraçar dessa missão de educar e formar?
Irmã Filomena Reis (Ir. FR): Começo por dizer que a celebração deste cinquentenário desafia-nos a fazer uma avaliação dos diversos processos educativos assumidos ao longo destes anos, tendo em conta as características de cada época. Recordar as diferentes gerações que passaram por esta escola e que receberam uma formação integral a partir da pedagogia do amor de Santa Maria Eufrásia e de Maria Droste, padroeira deste estabelecimento de ensino e mergulhar nas origens para melhor compreender o que é hoje o Externato Maria Droste, a sua identidade e a sua pedagogia diferencial. Para referenciar as raízes deste estabelecimento de ensino teremos que recuar alguns anos – os que antecederam a aprovação do Alvará - porque é no ano de 1967 que as irmãs Precioso Sangue, superiora Provincial naquela época e Perpetua Ruas, professora de Matemática e com formação em Serviço Social, decidem fundar uma escola para responder às necessidades educativas das crianças e das jovens que viviam na Instituição, em regime de internato, sob os cuidados e a responsabilidade das irmãs do Bom Pastor. Para isso criaram uma Escola Técnica, localizada na Quinta do Cruzeiro, mais propriamente na Casa das Palmeiras, para a lecionação do Curso Comercial e Formação Feminina, assumindo o nome de Colégio do Bom Pastor.
Perante a carência existente, aqui em Ermesinde, de uma escola para a formação de tantas crianças e jovens internas e externas, o Colégio do Bom Pastor abriu as portas a todas as jovens que o quisessem frequentar, ajudando assim, a sustentabilidade e o futuro desta missão. Neste primeiro momento é a Ir. Perpetua Ruas, mulher sábia, com vasta formação académica, com grande sensibilidade para o ensino, que assume o papel de professora e de diretora desta escola nascente, preparando assim os alicerces do futuro Externato Maria Droste. Quando abre a Escola Preparatória de Ermesinde, o Colégio do Bom Pastor cessa a sua atividade. Mas, em 1971, surge o Externato Maria Droste com as valências de pré-escolar e acompanhamento pedagógico às crianças que frequentam o ensino público. Em 1972, devido à grande afluência de alunos, o Externato solicita ao Ministério da Educação o Alvará para o estabelecimento de ensino com pré-escolar e 1º ciclo, tendo sido concedido em 27 de abril de 1973.
Ao longo destes 50 anos, quase 51, são várias as pessoas que assumiram a orientação e a direção desta escola. Existiram momentos áureos, mas também momentos obscuros e de grandes dificuldades que exigiram esforço, dedicação e criatividade de toda a comunidade educativa para manter a escola viva e dinâmica, até aos dias de hoje.
A conjugação das sinergias das irmãs, educadoras, professores e funcionários dos diversos serviços assumiu um papel preponderante para a edificação inovadora do ser e do agir dentro e fora da escola, tornando possível uma resposta eficaz aos desafios internos e externos, manter a qualidade do ensino, apostar na formação integral, privilegiar os valores humanos e cristãos através da transmissão da fé às novas gerações.
É de salientar que, na década de 90, o Externato Maria Droste é escolhido como “Escola Piloto” na “adaptação – experimentação dos novos programas”, pelo Dr. António Pereira, inspetor escolar, que exercia funções nessa época. O Externato, ao longo destes 50 anos, não parou de crescer a nível da diversificação das suas valências, como resposta aos diversos desafios educacionais. Em 1996, obtém do Ministério da Educação a autorização para lecionar o 2º ciclo e em 2015 para o funcionamento do 3º ciclo. Em 2005, a Segurança Social concedeu o Alvará para o funcionamento do berçário e da creche. Atualmente, a nossa escola, possui uma oferta educativa que permite um acompanhamento contínuo, progressivo e articulado desde o berçário até ao final do 3º ciclo, num ambiente familiar e acolhedor, que permite cuidar, proteger, educar e desenvolver competências, formais e informais, para enfrentarem os desafios do ensino secundário, a entrada na universidade e a construção de um futuro feliz e com valores.
AVE: Além de formar e educar, do ponto de vista escolar, milhares de crianças e jovens ao longo deste meio século, o Externato terá a missão de formar de igual forma sob o ponto de vista dos valores éticos, espirituais, cívicos, por outras palavras, de acordo com uma educação cristã. Pensámos estar certos disso (?) E desta forma perguntamos: esta vossa dupla missão de formar e educar tem sido alcançada com sucesso ao longo destes 50 anos? Isto, pelo feedback que por certo vão tendo quer de alunos que passaram pela instituição e outros que a frequentam.
Ir. FR: Tendo em conta os testemunhos de várias pessoas que foram alunos/as do Externato, que optaram por aqui colocarem os filhos e posteriormente os netos, por um lado, e dos próprios atuais alunos, por outro lado, apercebemo-nos que este objetivo vai sendo atingido, com maior ou menor intensidade e que as atividades propostas são do seu agrado e têm impacto na sua maneira de ser e de agir, no dia a dia. Esta dupla missão a nível educacional é resultado de um trabalho de conjunto, que tendo por base o Projeto Educativo, envolve toda a comunidade escolar. Por sua vez, a Equipa da Pastoral elabora anualmente e dinamiza a programação das atividades pastorais/evangelizadoras que são desenvolvidas na escola e junto das famílias, como as diversas celebrações, os momentos, os espaços oracionais que são realizados ao longo do ano, privilegiando os tempos litúrgicos e o início e o final do ano letivo. Destaco ainda mais algumas atividades que se desenvolvem diariamente, semanalmente ou esporadicamente, na nossa escola, que são muito apreciadas pelos alunos e encarregados de educação, assim temos: a Oração da Manhã, a H(O)ra de Embalar, o Profeta Miqueias, o Pão por Deus, a Visita da Sagrada Família, a Passagem da Virgem Peregrina, o Compasso, a Via-Sacra, as Confissões no Advento e na Quaresma, as peregrinações a Fátima e a Santiago de Compostela, as Eucaristias no início do ano letivo, no Natal, na Páscoa, no Dia da Família e no final do ano letivo e a catequese de preparação para a primeira comunhão desenvolvida em parceria com o centro catequético do Bom Pastor. Devo dizer que a planificação pastoral é organizada tendo em conta as diretrizes da Diocese do Porto, da Congregação de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor, o Projeto Educativo, o Plano Anual de Atividades e auscultação dos interesses dos alunos e encarregados de educação. Sentimo-nos, pois, que somos uma comunidade cristã peregrina, uma célula viva da Igreja local, ou seja, da Diocese.
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AVE: Esta poderá ser uma pergunta difícil de responder, mas mesmo assim arriscamos a colocá-la: o que é que distingue, ou tem distinguido, o Externato Maria Droste enquanto instituição de ensino?
Ir. FR: Em relação ao que nos distingue das outras escolas, começo por dizer que é a própria identidade refletida no Projeto Educativo e no Plano Pastoral. Como escola católica, temos um perfil diferente de uma escola não católica, pública ou privada, porque aliada à excelência académica apostamos na educação dos valores de cariz cristão e na transmissão e celebração da fé. Em relação às outras escolas católicas, o que nos diferencia é a dimensão carismática da Congregação de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor, deixada pela nossa fundadora Santa Maria Eufrásia que, para além da riqueza espiritual baseada na dimensão do amor e do acolhimento, deixa-nos uma herança pedagógica que consideramos atual para os dias de hoje. Esta pedagogia do amor baseia-se na sua máxima “uma pessoa vale mais que o mundo inteiro” dando origem a uma didática diferenciada, inclusiva, que acolhe cada aluno com a sua realidade própria, confia nas suas potencialidades com otimismo, que utiliza, sempre que necessário, o reforço positivo ou a chamada de atenção, num ambiente de respeito tendo consciência que cada pessoa é feita à Imagem e semelhança de Deus. Deseja preparar para a vida através de uma educação progressiva e que se dá com um acompanhamento personalizado e de grupo, a nível intelectual, humano e espiritual.
Apostamos na criação de um ambiente favorável e familiar para que as crianças e os adolescentes cresçam em todas as dimensões e sejam felizes. Um outro aspeto diferenciador é a localização do Externato, na quinta do Cruzeiro, que pela sua constituição torna-se numa quinta pedagógica, que permite desde muito cedo, aos alunos usufruírem de um contacto privilegiado com a natureza, com os animais existentes neste espaço, facilitando o processo de ensino aprendizagem a partir de experiências e vivências didáticas agradáveis e lúdicas.
AVE: Quando é que foi dado paralelismo pedagógico ao Externato Maria Droste? E isso significou uma maior adesão de número de alunos a procurar este estabelecimento de ensino particular?
Ir. FR: Tendo em conta a data referenciada no Alvará, a nossa escola obtém o paralelismo pedagógico no ano letivo de 1998 /1999, para o 1º e 2º ciclos. Este acontecimento, nessa época foi fundamental para o desenvolvimento e a solidificação da escola como tal, permitindo que estes dois ciclos funcionassem sem depender da escola pública. A afluência de alunos ao Externato dá-se desde a sua fundação e é essa evidência que leva as primeiras diretoras a pedir o Alvará ao Ministério da Educação.
A partir de 5 de novembro, dia da entrada em vigor do Decreto de Lei nº 153/2013, os estabelecimentos de ensino com paralelismo pedagógico passam a ter autonomia pedagógica. A autonomia pedagógica atribui a cada escola a liberdade de se organizar internamente de acordo com o seu projeto educativo e regulamento interno. A portaria nº 59/2014, artigo 3, diz-nos que às escolas do ensino particular e cooperativo é conferida a faculdade de poderem gerir, de forma flexível, por exemplo, o tempo letivo atribuído a cada disciplina ou área disciplinar, oferecer dentro do tempo curricular total anual outras disciplinas ou áreas disciplinares complementares, em função do seu projeto educativo, gerir a distribuição das diferentes disciplinas em cada ano ao longo do ciclo de escolaridade, exceto as disciplinas de Português e Matemática, etc. No entanto, as escolas particulares e cooperativas ficam obrigadas ao cumprimento de uma carga curricular total semanal igual ou superior ao total definido na matriz curricular nacional para cada ano, ciclo, nível e modalidade de educação e formação (cf. Melo, R., O (novo) Estatuto do Ensino Particular e Cooperativo: uma mudança de paradigma, p. 91). O Externato Maria Droste, enquanto escola de ensino particular e cooperativo, goza de autonomia pedagógica, administrativa e financeira. A autonomia pedagógica reconhecida às escolas particulares e cooperativas inclui, nos termos e com os limites previstos no Estatuto e nos contratos celebrados com o Estado, representado pelo Ministério da Educação e Ciência, a competência para decidir quanto a: a) Aprovação de projeto educativo e regulamento interno próprios; b) Organização interna, nomeadamente ao nível dos órgãos de direção e gestão pedagógica, sem prejuízo das regras imperativas previstas no Estatuto; c) Organização e funcionamento pedagógico, quanto a projeto curricular, planos de estudo e conteúdos programáticos; d) Avaliação de conhecimentos, no respeito pelas regras definidas a nível nacional quanto à avaliação externa e avaliação final de cursos, graus, níveis e modalidades de educação, ensino e formação; e) Orientação metodológica e adoção de instrumentos escolares; f) Matrícula, emissão de diplomas e certificados de matrícula, de aproveitamento e de habilitações; g) Calendário escolar e organização dos tempos e horário escolar (Projeto Educativo do Externato Maria Droste, 2023-2026). Esta autonomia pedagógica permite uma melhor gestão a nível da admissão do pessoal e dos alunos.
AVE: Quando os alunos deixam o Externato, fica alguma ligação àquela que para muitos foi a segunda casa, desde apenas alguns meses de vida?
Ir. FR: Os nossos ex-alunos
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Por:
Miguel Barros
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