O Carnaval…
A festividade carnavalesca da nossa cidade está a perder protagonismo, ao longo destes anos. A tradição foi recuperada há umas décadas, da figura boneco “O JOÃO”. Entrava na cidade em grande apoteose, seguindo-se um cortejo pela cidade para bem o receber. Mas como tudo na vida tem um fim, o dito cujo João finava-se ao segundo dia da estadia. Apareciam então os amigos e conhecidos. A viúva e, como não era boneco de se deixar andar, a respetiva amante. Da tal reunião, saíam das bocas dos presentes, contos e sátiras ao dito. Era o nosso rei. Boneco de trapos ficava barato aos organizadores do evento. Nada de figuras públicas ou ditas de tal, que levam couro e cabelo pela sua presença. O desfile era e é efetuado com os naturais, com fantasias recriadas com vestuário caseiro. Carnaval à Portuguesa. Por essa altura admirei-me de um entrevistado português, num dos nossos canais de televisão. “- Claro que estamos todos entusiasmados. Eu inclusive, para mostrarmos o nosso samba”. O meu ouvido voou em direção à caixa do som. Estaria a ouvir bem!: Do nosso samba?? Desde quando? Ninguém o informou que o samba tem a influência africana, levada para o outro lado do Atlântico pelos escravos negros? Nos poucos momentos de pausa faziam rodas de dança ao som dos batuques, assim como agora a famosa luta da “capoeira”, levada por gentes da zona de Benguela (Angola), também esta feita em roda e com música. Somos mestres em promover a cultura de outros povos, descurando a divulgação da nossa.
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Foto MANUEL VALDREZ |
O meu pensamento transportou-me para o meu tempo de infância. Um simples atoalhado branco, desviado sem conhecimento da progenitora, à volta da cintura a fazer de fralda, tronco nu que por lá fazia calor, descalço ou em chinelos, ruas abaixo, num desfile mais ou menos caótico a dançar e a soprar num apito ao som da batucada com os decibéis a saírem de tambores, e de todo o tipo de latas. Dançava-se até noite dentro, com os corpos todos suados de negros, brancos e mestiços. Era uma farra!!. Ainda mais pequeno, o meu tio e padrinho ofereceu-me um fato de cowboy. O respetivo coldre com dois revólveres e não podia faltar a carabina Winchester. Alguém me fez um farto bigode com pomada preta dos sapatos. Saí para o passeio todo inchado de orgulho. Os vizinhos comentaram e riram-se da bigodaça. Aquilo soou-me a humilhação. O orgulho transformou-se em birra e esta como era de prever numas valentes chineladas. Por ali se finou o carnaval.
Anos mais tarde, passei eu, no norte de Portugal, na aldeia paterna. Uns vestidos com roupas do pai ou do avô. Bigodes e suíças desenhadas com o carvão e cinzas sobrantes das lareiras. Nada de nos vestirmos à menina, isso já passaria do limite das brincadeiras. Quem tinha uns tostões, comprava na loja do Zé, uns saquinhos de papel com pó de arroz. Quem não tinha? Bem, quem não tinha teria que desenrascar uns bocados de papel e de os encher com farinha para o pão, gamada à mãe ou à avó. No final do dia elas acertavam as contas. Sacos estes que eram atirados uns aos outros para ver quem ficava mais enfarinhado. Depois de tomar o banho do dia, a minha
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Por:
Manuel Fernandes
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