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Edição de 30-09-2024
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    Arquivo: Edição de 29-02-2024

    SECÇÃO: História


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    CANÇÃO AO RIO DE LESSA

    Francisco de Sá de Meneses (Porto, c. 1510 - Lisboa, 6 de dezembro de 1582), o primeiro conde de Matosinhos e senhor de São João da Foz, comendador de Proença e de Sever, e que além de ter exercido vários importantes cargos ao serviço do Reino de Portugal, foi um poeta português. Aí fica a “Canção ao Rio de Lessa”.

    1. «Ó Rio de Lessa,

    Como corres manço;

    Se eu tiver descanço,

    Em ti se começa.

    -

    2. Sempre socegados

    Vão teus movimentos:

    Não te turbam ventos,

    Nem tempos mudados.

    -

    3. Corres por arêas,

    E bosques sombrios:

    Não te turbam rios,

    Nem fontes alhêas.

    -

    4. Nasces de hum penedo

    Tosco, e descomposto:

    A ti mostra o rosto

    A manhãa mais cedo.

    -

    5. A Aurora em nascendo,

    Quando estás mais lizo,

    Com alegre rizo,

    Em ti se está vendo.

    -

    6. Quando o mar não sôa,

    E passam mil velas,

    Em ti faz capelas

    Com que se corôa.

    -

    7. De álamos, cercados

    De viçosa hera,

    Sempre a Primavera

    Corôa teus prados.

    -

    8. Logram teus salgueiros

    Mil tempos serenos:

    Nunca serão menos

    Os teus amieiros

    -

    9. Por ti cantam aves

    Só por te ver, quedas,

    Mil cantigas ledas,

    E versos suaves.

    -

    10. De laços, e redes

    Criam sem receio;

    Seguras no seio

    De teus bosques verdes.

    -

    11. Dem-te as noites sono;

    E com larga mão

    Flores o Verão,

    Fructos o Outono.

    -

    12. Sombra no Estio,

    Sem nenhum reguardo;

    Neves dê ao prado

    O Inverno frio.

    -

    13. Por ti canta Abril,

    Quanto cuida, e sonha,

    Ora com samfonha,

    Ora com rabil.

    -

    14. Quando se levanta,

    Quando o sol mais arde,

    Assim canta á tarde,

    Á noite assim canta.

    -

    15. Para que são, Maio,

    Tantas alegrias,

    Pois teus longos dias

    Passam como raio.

    -

    16. Por muito que tardes,

    São tardanças vãas:

    Foram-se as manhãas,

    Ir-se-hão as tardes.

    -

    17. Para que te gabas

    De teus vãos amores

    Para que são flores,

    Pois tão cedo acabas?

    -

    18. Em espaço breve

    Chega ao mar o Douro:

    Os cabellos de ouro

    Se fazem de neve.

    -

    19. Ó rio de Lessa,

    Fructos em Janeiro

    Nasceráo primeiro

    Que de ti me esqueça.

    -

    20. Primeiro em Agosto

    Nevará sem calma,

    Que o tempo, desta alma

    Aparte seu rosto.

    -

    21. Algum tempo manço,

    Deos o ordene assi,

    Em que torne a ti

    Com algum descanço».

    -

    (Fonte: Apologia..., de Joam Soares de Brito, 1641, exemplar ANTT.)

    Por: Carlos Marques

     

     

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