CORREIO DO LEITOR
À sombra das árvores que precisamos ter
“…nós só temos um sistema
bem organizado – o da destruição”.
Raúl Brandão, Os Pescadores, 1923
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UM PLÁTANO NA SUA FORMA NATURAL, SAUDÁVEL E BEM IMPLANTADO, EM ERMESINDE |
Conhecer a árvore e o seu modo de funcionamento é indispensável a qualquer sociedade desejosa de plantar, cuidar e proteger as suas árvores. Essa é também uma condição indispensável para que as árvores desempenhem o seu papel de aliados do Homem nas cidades do presente e do futuro.
O que é uma árvore? É antes de mais, uma Obra de Arte da Natureza e um ser vivo de extraordinária complexidade. A árvore é constituída essencialmente por matéria morta – a madeira do tronco, dos ramos e das raízes. A madeira é assim, a arquitetura da árvore e o suporte dos fluxos da seiva, que circula incessantemente entre a ponta dos ramos e a extremidade das raízes. O vigor das raízes assegura a ancoragem, a estabilidade e a alimentação da árvore. Cada corte de um ramo, leva à morte da parte das raízes que lhe corresponde e portanto, ao enfraquecimento da ancoragem e sustentação da árvore e à sua queda mais provavelmente.
Extraordinária também é a capacidade de regeneração das árvores, que que lhes permitiria viver eternamente, se não fossem fatores externos, como doenças e pragas e outros fenómenos naturais, mas acima de tudo, a mão malfazeja do Homem.
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O MESMO PLÁTANO VANDALIZADO PELA “PODA” DA JUNTA, HÁ UNS ANOS ATRÁS |
As árvores produzem oxigénio, retêm as poeiras que andam no ar e amenizam o microclima local (é sabido, por exemplo, que numa rua bem arborizada, a temperatura no Verão pode ser mais baixa entre 3 e 10 graus, que numa rua sem árvores).
As árvores em meio urbano também absorvem o ruído, reduzindo o seu impacto muito negativo na vida das pessoas. As árvores de folha caduca funcionam como reguladores térmicos, deixando passar a luz e o calor do sol entre os ramos despidos durante o Inverno e protegendo-nos com a sombra da sua folhagem durante o Verão. Árvores e espaços verdes são abrigo para inúmeros outros seres vivos, que constituem a tão falada biodiversidade em meio urbano. Numerosos estudos, que se encontram facilmente na internet, atestam o valor inestimável do arvoredo e dos espaços verdes urbanos para a manutenção e melhoria da saúde física e psíquica dos habitantes.
Num contexto de alterações do clima e de verões com altas temperaturas, como têm sido os dos últimos anos, é evidente a necessidade de conservar e reforçar o revestimento arbóreo da cidade, de modo a criar áreas de ensombramento e a minorar os efeitos do calor nos dias mais tórridos.
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ALINHAMENTO DE TÍLIAS JOVENS, NA SUA FORMA NATURAL, EM ERMESINDE |
Vem isto a propósito da “poda”, a condenável prática arboricida, a que a Junta de Freguesia de Ermesinde, após alguns anos de interregno, decidiu agora voltar. Deve dizer-se, antes de mais, que é abusivo chamar “poda” a este bota-abaixo. A poda é uma técnica e uma arte, baseada em conhecimentos técnicos e científicos, que exige formação especializada do pessoal que a faz e muito bom senso e amor pelas árvores. O que não é o caso, evidentemente.
A desrama em curso leva ao esgotamento das reservas alimentares das árvores, dificultando-lhes a rebentação na Primavera que se aproxima.
O que estão a fazer é a destruição, em poucos dias, daquilo que a natureza levou anos a criar e o empobrecimento do já de si pobre património arbóreo de Ermesinde.
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PLÁTANO MAJESTOSO, PERTO DA ESTAÇÃO, EMBELEZANDO O LOCAL E AMENIZANDO A SUA ARIDEZ |
No Grande Porto e noutros pontos do país já pouco se faz esta dita “poda”, embora ainda não tenha sido totalmente ultrapassada. Não é preciso ir muito longe para o confirmar: Porto, Maia, Gondomar, Famalicão e outras cidades, têm adotado outra postura e investido na conservação dos arvoredos e na melhoria dos espaços verdes urbanos. Ermesinde, cidade densa e caoticamente urbanizada, precisa muito de árvores e de jardins.
Numa época em que, por toda a Europa, se plantam árvores nas cidades e se amplia a rede de parques e jardins, como é possível que a Junta de Ermesinde insista em métodos ultrapassados e largamente condenados?
Seria muito mais proveitoso e louvável aproveitar o que resta do Inverno para plantar novas árvores e repor, por exemplo, muitas que morreram ou foram sendo derrubadas ao longo dos últimos anos.
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PLÁTANOS VÍTIMAS DA "PODA" |
Ao contrário, os responsáveis da Junta nada plantam, apesar de repetidas promessas, mas delapidam, ano após ano, o pouco que há, que é património de todos. Prosseguindo nesta atitude, apenas dão testemunho da sua insensibilidade, mostrando um olímpico desprezo pelas árvores e um completo desconhecimento da gravidade do que andam a fazer.
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TÍLIAS DECEPADAS PELA "PODA" |
Ao contrário de se elevarem acima das ideias feitas e da aversão às árvores, muito arreigada em sectores pouco esclarecidos da população, os autarcas de Ermesinde mantêm-se, no que toca à sua relação com as árvores e com a Natureza na cidade, a um nível deploravelmente baixo.
Carlos Alberto Coutinho da Conceição - Técnico Agrícola
C.C. - 03585623
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