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Edição de 30-11-2024
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    Arquivo: Edição de 29-02-2024

    SECÇÃO: Local


    CORREIO DO LEITOR

    À sombra das árvores que precisamos ter

    “…nós só temos um sistema

    bem organizado – o da destruição”.

    Raúl Brandão, Os Pescadores, 1923

    UM PLÁTANO NA SUA FORMA NATURAL, SAUDÁVEL E BEM IMPLANTADO, EM ERMESINDE
    UM PLÁTANO NA SUA FORMA NATURAL, SAUDÁVEL E BEM IMPLANTADO, EM ERMESINDE
    Conhecer a árvore e o seu modo de funcionamento é indispensável a qualquer sociedade desejosa de plantar, cuidar e proteger as suas árvores. Essa é também uma condição indispensável para que as árvores desempenhem o seu papel de aliados do Homem nas cidades do presente e do futuro.

    O que é uma árvore? É antes de mais, uma Obra de Arte da Natureza e um ser vivo de extraordinária complexidade. A árvore é constituída essencialmente por matéria morta – a madeira do tronco, dos ramos e das raízes. A madeira é assim, a arquitetura da árvore e o suporte dos fluxos da seiva, que circula incessantemente entre a ponta dos ramos e a extremidade das raízes. O vigor das raízes assegura a ancoragem, a estabilidade e a alimentação da árvore. Cada corte de um ramo, leva à morte da parte das raízes que lhe corresponde e portanto, ao enfraquecimento da ancoragem e sustentação da árvore e à sua queda mais provavelmente.

    Extraordinária também é a capacidade de regeneração das árvores, que que lhes permitiria viver eternamente, se não fossem fatores externos, como doenças e pragas e outros fenómenos naturais, mas acima de tudo, a mão malfazeja do Homem.

    O MESMO PLÁTANO VANDALIZADO PELA “PODA” DA JUNTA, HÁ UNS ANOS ATRÁS
    O MESMO PLÁTANO VANDALIZADO PELA “PODA” DA JUNTA, HÁ UNS ANOS ATRÁS
    As árvores produzem oxigénio, retêm as poeiras que andam no ar e amenizam o microclima local (é sabido, por exemplo, que numa rua bem arborizada, a temperatura no Verão pode ser mais baixa entre 3 e 10 graus, que numa rua sem árvores).

    As árvores em meio urbano também absorvem o ruído, reduzindo o seu impacto muito negativo na vida das pessoas. As árvores de folha caduca funcionam como reguladores térmicos, deixando passar a luz e o calor do sol entre os ramos despidos durante o Inverno e protegendo-nos com a sombra da sua folhagem durante o Verão. Árvores e espaços verdes são abrigo para inúmeros outros seres vivos, que constituem a tão falada biodiversidade em meio urbano. Numerosos estudos, que se encontram facilmente na internet, atestam o valor inestimável do arvoredo e dos espaços verdes urbanos para a manutenção e melhoria da saúde física e psíquica dos habitantes.

    Num contexto de alterações do clima e de verões com altas temperaturas, como têm sido os dos últimos anos, é evidente a necessidade de conservar e reforçar o revestimento arbóreo da cidade, de modo a criar áreas de ensombramento e a minorar os efeitos do calor nos dias mais tórridos.

    ALINHAMENTO DE TÍLIAS JOVENS, NA SUA FORMA NATURAL, EM ERMESINDE
    ALINHAMENTO DE TÍLIAS JOVENS, NA SUA FORMA NATURAL, EM ERMESINDE
    Vem isto a propósito da “poda”, a condenável prática arboricida, a que a Junta de Freguesia de Ermesinde, após alguns anos de interregno, decidiu agora voltar. Deve dizer-se, antes de mais, que é abusivo chamar “poda” a este bota-abaixo. A poda é uma técnica e uma arte, baseada em conhecimentos técnicos e científicos, que exige formação especializada do pessoal que a faz e muito bom senso e amor pelas árvores. O que não é o caso, evidentemente.

    A desrama em curso leva ao esgotamento das reservas alimentares das árvores, dificultando-lhes a rebentação na Primavera que se aproxima.

    O que estão a fazer é a destruição, em poucos dias, daquilo que a natureza levou anos a criar e o empobrecimento do já de si pobre património arbóreo de Ermesinde.

    PLÁTANO MAJESTOSO, PERTO DA ESTAÇÃO, EMBELEZANDO O LOCAL E AMENIZANDO A SUA ARIDEZ
    PLÁTANO MAJESTOSO, PERTO DA ESTAÇÃO, EMBELEZANDO O LOCAL E AMENIZANDO A SUA ARIDEZ
    No Grande Porto e noutros pontos do país já pouco se faz esta dita “poda”, embora ainda não tenha sido totalmente ultrapassada. Não é preciso ir muito longe para o confirmar: Porto, Maia, Gondomar, Famalicão e outras cidades, têm adotado outra postura e investido na conservação dos arvoredos e na melhoria dos espaços verdes urbanos. Ermesinde, cidade densa e caoticamente urbanizada, precisa muito de árvores e de jardins.

    Numa época em que, por toda a Europa, se plantam árvores nas cidades e se amplia a rede de parques e jardins, como é possível que a Junta de Ermesinde insista em métodos ultrapassados e largamente condenados?

    Seria muito mais proveitoso e louvável aproveitar o que resta do Inverno para plantar novas árvores e repor, por exemplo, muitas que morreram ou foram sendo derrubadas ao longo dos últimos anos.

    PLÁTANOS VÍTIMAS DA "PODA"
    PLÁTANOS VÍTIMAS DA "PODA"
    Ao contrário, os responsáveis da Junta nada plantam, apesar de repetidas promessas, mas delapidam, ano após ano, o pouco que há, que é património de todos. Prosseguindo nesta atitude, apenas dão testemunho da sua insensibilidade, mostrando um olímpico desprezo pelas árvores e um completo desconhecimento da gravidade do que andam a fazer.

    TÍLIAS DECEPADAS PELA "PODA"
    TÍLIAS DECEPADAS PELA "PODA"
    Ao contrário de se elevarem acima das ideias feitas e da aversão às árvores, muito arreigada em sectores pouco esclarecidos da população, os autarcas de Ermesinde mantêm-se, no que toca à sua relação com as árvores e com a Natureza na cidade, a um nível deploravelmente baixo.

    Carlos Alberto Coutinho da Conceição - Técnico Agrícola

    C.C. - 03585623

     

     

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