Os Casquinhas festejam oito anos com teatro em dose quadruplicada
Mais do que ter servido para assinalar o 8.º aniversário d’ Os Casquinhas, a noite de 17 de fevereiro passado celebrou o teatro no seu estado mais puro e apaixonado. Por outras palavras, a arte de representar evidenciada por jovens atores que longe das luzes do profissionalismo (pelo menos para já) mostraram no palco do Fórum Cultural de Ermesinde o amor e o entusiasmo por esta manifestação artística.
Isto ficou bem patente perante uma plateia repleta – a sala esgotou! – que não só parabenizou o grupo de teatro Os Casquinhas pela passagem do seu 8.º aniversário, como já foi dito, mas também para presenciar o 7.º Festival de Teatro levado a cabo por esta valência da Associação Académica e Cultural de Ermesinde.
E para além do grupo aniversariante, o festival contou com a presença de mais três grupos, nomeadamente, o Arte Im’Anjos, o Grupo Dramático e Musical Flor de Infesta, e o Teatro no Caminho. Para além de quatro interessantes peças teatrais, a noite foi farta em boa disposição e alegria própria da juventude, a qual contagiou o público presente, que nos intervalos entre as atuações dos grupos foi convidado a fazer parte da festa, ora com momentos de dança, ora com jogos. E neste aspeto há que elogiar a prestação das três mestres de cerimónia deste festival, a Sílvia, a Bia e a Rita, o trio de apresentadoras que esteve à altura do desafio.
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Fotos AACE |
A SERENIDADE DE UM MAR NAVEGADO POR ATORES ESPECIAIS
O primeiro grupo a subir ao palco mostrou que o teatro é uma arte inclusiva, que independentemente das suas habilidades ou limitações (físicas ou mentais) todos podem dar azo à sua paixão pela representação. Foi um pouco essa a mensagem que o Grupo Dramático e Musical Flor de Infesta passou ao trazer a Ermesinde o seu grupo de teatro especial, composto por alguns meninos e meninas com necessidades especiais, desde logo com Trissomia 21. Estes jovens atores deram vida de maneira muito bem conseguida a “Ecos Marítimos”, uma peça de teatro desenvolvida numa linguagem gestual suave e relaxante, personificando a acalmia e serenidade do mar. Em palco as palavras são substituídas por movimentos que espelham as ondas do mar e os sentimentos e sensações que elas nos transmitem.
A ALDEIA ONDE SONHAR ERA OBRIGATÓRIO
Juventude é por norma sinónimo de sonho, ou de sonhos, e foi precisamente isso o que os jovens atores do grupo Arte Im’Anjos nos deu a conhecer: uma aldeia onde todos os sonhos são permitidos e se tornam realidade…nem que seja por uma noite apenas. “Aldeia dos Sonhos”, assim se denominou esta peça que teve na personagem Marianita a guardiã de uma aldeia cheia de boa disposição, de magia, e onde a imaginação de cada um não tem limites. A Aldeia dos Sonhos foi-nos apresentada na forma de teatro musical, combinando música, dança e diálogo por um grupo de jovens atores com muito talento.
EVOCAR O CRIADOR ATRAVÉS DA CRIATIVIDADE DO TANGRAM
Criativo e visualmente belo, assim podemos sintetizar o trabalho apresentado pelo grupo Teatro no Caminho, no âmbito de “Aquarela do Criador”. Esta peça mostrou-nos que o teatro não é só fala, ou diálogos, que pode de igual modo cativar os espetadores através dos movimentos de corpos, que pode contar uma história pela via da dinâmica não só do corpo humano como também de objetos. E no palco da casa da cultura da nossa cidade, cerca de 20 atores do grupo Teatro no Caminho contaram a história do Criador, de Jesus Cristo, através do Tangram, um quebra-cabeças geométrico chinês formado por triângulos grandes, médios e pequenos, um quadrado e um paralelogramo, sendo que com todas estas peças se podem formar várias figuras, ou contar uma história, como foi o caso.
UM RETRATO TEATRAL DA(S) CRISE(S) DA ADOLESCÊNCIA
Por fim, subiu ao palco o grupo anfitrião, Os Casquinhas, que deliciaram os presentes com “Old School”, uma peça feita e pensada para adolescentes. Uma peça que retrata assuntos típicos desta fase biológica de transição entre a infância e a idade adulta, como por exemplo, o bulling, a insegurança, dificuldades de adaptação a novas realidades, ou a pressão do êxito escolar. E mais do que os espelhar alerta-nos para a existência deles, e como, de certa forma, esses mesmos problemas devem ser encarados e contornados.
A história passa-se na biblioteca de uma escola, onde um grupo de jovens se reúne diariamente nas vésperas dos exames finais para poderem concluir o ensino secundário. Ao longo da peça encontrámos precisamente alguns dos sinais acima descritos típicos da adolescência, como a aluna que chega pela primeira vez a uma nova escola e escolhe os colegas mais populares em detrimento dos menos populares no sentido de facilitar a sua integração, dos alunos que para mostrar a sua superioridade fazem bulling sobre os seus colegas mais vulneráveis, do aluno cuja paixão não correspondida o faz cair numa crise de autoestima, dos alunos que sofrem de ansiedade nas vésperas dos exames nacionais, entre outros “sintomas” típicos da adolescência que foram brilhantemente transpostos para o palco pelo grupo aniversariante.
Por:
MB
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