Esta cidade não é para frutos secos
Paulina, a Castanha, não queria acabar comida por um esquilo. Nem a sua ambição era ficar ali pela terra e vir a gerar um grande castanheiro.
Um dia, de manhãzinha, disse adeus às duas irmãs, que se mantinham no aconchego do ouriço familiar, e partiu em direção a sul. A meio da manhã, encontrou uma espécie de castanha pequenina e redondinha.
- Olá! Quem és tu e aonde vais? - perguntou a Castanha.
- Sou a Avelã e vou para a cidade. Quero arranjar trabalho.
- Então, vamos as duas!
Pelo meio-dia, num cruzamento, encontraram outras duas.
- Olá! Quem são vocês e para onde é que vão? - disse a Avelã, que já aprendera a senha. A mais encorpada respondeu:
- Eu sou a Noz e esta minha amiga é a Amêndoa e vamos para a cidade estudar. Estamos fartas de ser cascas-grossas.
- Então, vamos todas de companhia!
Dias depois e em boa galhofa, chegaram à cidade. Deram uma volta a apreciar os prédios enormes e o formigueiro dos carros. Depois, encontraram um jornal com anúncios.
- Olha este ― disse a Amêndoa. - «Precisa-se amêndoa para fábrica de doces conventuais». Vou responder! Se for um “part-time”, posso ganhar uns trocos e ter tempo para estudar.
- Boa, este é para mim! - entusiasmou-se a Avelã - «Chocolataria procura avelã grada. Paga bem». Se ganhar muito dinheiro, compro um pulverizador à minha mãe.
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Ilustração: @RODOLFO.BISPO.77 |
- Hum, não sei o que este é - disse a Castanha carregando o sobrolho - «Castanhas nacionais e estrangeiras. Quentes e boas!». É capaz de ser uma empresa de trabalho temporário. Mas não há mais nada! Acho que vou tentar, se vocês forem comigo.
Combinaram que cada uma iria responder ao seu anúncio e que voltariam a juntar-se mais tarde. À hora combinada chegou a Noz muito zangada. Tinha ido responder a um anúncio para Segurança e tinham-lhe dito que era um estágio não remunerado.
- Lá na terra, muito ou pouco, sempre pagam a quem trabalha. Nunca me fizeram uma proposta tão desavergonhada!
Da Amêndoa e da Avelã, nem sinal. Esperaram ainda um bom bocado, mas, como as outras não vinham, foram responder ao anúncio para a Castanha.
Era numa rua estreita e o local de trabalho, envolto em fumo, não passava despercebido. Aproximaram-se, sem dizer nada, e ficaram à espreita, para descobrir qual era o ramo de negócio do patrão. Este, de bigodinho e cabelo oleoso, pegava nas castanhas, rasgava-lhes a casca de um golpe e atirava-as para um pote esburacado que tinha sobre brasas.
Só então, horrorizadas, se aperceberam do cheiro a castanhas assadas que enchia o ar; e as viram amontoadas num grande tabuleiro. Estavam irreconhecíveis. A casca golpeada embranquecera como noiva adiada e abrira-se pela ação do calor, deixando ver o delicado véu interior, que separando-se do miolo, expunha o corpo dourado das castanhas.
«Que degradante! Porque faz esta atrocidade, porquê?» - perguntavam-se.
Observaram então como os homens se aproximavam de olhos lúbricos, pagavam o
(...)
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Por:
Joaquim Bispo
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