“Valongo, o Pão e as Invasões Francesas”, um livro que foi o mote para uma interessantíssima tertúlia
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ANDRÉ TEIXEIRA, O AUTOR DO LIVRO |
“Valongo, o Pão e as Invasões Francesas”, um tema que na noite de 12 de outubro último foi alvo de uma longa e interessante “viagem” pela História na Oficina da Regueifa e do Biscoito. Este marco da historiografia europeia, mais concretamente da Península Ibérica, demonstrou ao longo desta noite que Valongo foi um ponto estratégico na região durante a 2.ª Invasão Francesa, nomeadamente no que concerne à sua localização geográfica, sendo o primeiro ponto de saída da cidade do Porto em direção ao interior do país, quer para as tropas portuguesas, numa primeira fase, quer para as tropas francesas, numa fase posterior; mas também no que diz respeito ao pão, e a importância que este alimento teve neste contexto histórico e que fez de Valongo um centro.
A temática “Valongo, o Pão e as Invasões Francesas” foi dividido em três momentos. O primeiro decorreu no exterior da Oficina da Regueifa e do Biscoito de Valongo, com a apresentação do espetáculo de vídeo mapping “Valongo e a 2.ª invasão francesa”, isto é, assistiu-se à projeção de um vídeo na fachada do histórico edifício valonguense, em que através de imagens 3D este apontamento da história foi retratado. O segundo momento, e sobre o qual nos iremos debruçar com mais detalhe nas linhas que se seguem, aludiu à apresentação do livro «Valongo e a 2ª Invasão Francesa - Episódios da Guerra Peninsular», da autoria de André Teixeira. A noite terminou com a tertúlia “Valongo, o Pão e as Invasões Francesas”, que teve como oradores os reputados historiadores e investigadores Olga Cavaleiro e Sérgio Veludo.
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O ESPETÁCULO DE VIDEO MAPPING QUE ANTECEDEU ESTA NOITE EM TORNO DA HISTÓRIA |
Perante uma plateia repleta, o presidente da Câmara Municipal de Valongo (CMV), José Manuel Ribeiro, que foi uma das muitas personalidades presentes no evento, teceu algumas considerações, começando por referir que o livro que ali era apresentado partiu de um desafio que lançou a André Teixeira, sendo esta obra também um pretexto para mostrar que habitamos um território em que não estamos condenados a viver ou a sentirmo-nos parte de uma periferia metropolitana. «O nosso território tem muito património, imaterial e material, muita tradição, e vamos começar a contar essa história. É nossa obrigação fazer tudo o que pudermos para manter vivas as tradições, não deixar desaparecer a memória, garantir que o património material e imaterial está vivo», frisou o autarca que mais adiante revelou ainda que em breve serão lançados «novos livros (um sobre a história da panificação em Valongo e outro sobre a história do hóquei em patins) para continuar a dar visibilidade à nossa história e à riqueza do nosso território. Temos uma história que nos deve orgulhar a todos e temos uma história muito forte comparativamente com outros concelhos aqui à volta do ponto de vista patrimonial», sublinhando ainda que a CMV vai continuar a gastar «muito dinheiro» em livros «porque é a cultura que nos define enquanto seres humanos, é a cultura que nos faz diferentes».
VALONGO: UM PONTO ESTRATÉGICO DURANTE A 2.ª INVASÃO FRANCESA
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SALA CHEIA NA OFICINA DA REGUEIFA E DO BISCOITO DE VALONGO |
Seguiu-se a preleção do autor do livro, André Teixeira, um ermesindense que atualmente desempenha funções de Chefe de Unidade de Arquivo e Documentação da CMV, licenciado em Ciências Históricas pela Universidade Portucalense, onde completou ainda uma pós-graduação em História e Geografia, tendo também prestado provas no mestrado em ensino de História e Geografia do 3.º ciclo do ensino básico e do ensino secundário. O autor da obra guiou-nos numa viagem pela mesma, começando por explicar que este trabalho partiu do estudo de um conjunto de fontes díspares, tanto nacionais como estrangeiras, nomeadamente francesas e inglesas, que nos falam das Invasões Francesas. Fez de seguida um enquadramento do contexto em que se deu a 2.ª Invasão Francesa, em 1809, traçando um cenário do que era então Portugal, um país em que o povo estava largado à sua sorte após a transferência da Corte para o Brasil, bem como a saída de muitos intelectuais e do enquadramento de muitos militares lusos no exército francês na sequência da 1.ª Invasão Francesa. E quando acontece a 2.ª Invasão o povo está em pânico. É neste panorama que em janeiro de 1809 Napoleão dá ordem ao Marechal Soult para invadir Portugal. O exército francês era a maior máquina de guerra daquele tempo, tendo André Teixeira feito a comparação de que seria o mesmo que nos dias de hoje o exército norte-americano invadir o nosso país. O plano inicial dos franceses seria invadir Portugal pela Galiza, entrando pelo Minho, mas devido ao facto de estarmos em pleno inverno, com os rios cheios por causa das chuvas, além de que aquela zona estava bem defendida pelas tropas portuguesas comandadas do general Silveira, levaram a que os napoleónicos entrassem por Trás-os-Montes, mais concretamente por Chaves, onde chegam a 12 de março. Esta parte do livro que aborda o enquadramento da 2.ª Invasão dá ainda nota de outros momentos, como a tomada de Chaves pelos franceses, a posterior ocupação de Braga pelas tropas napoleónicas, até à chegada à zona do Rio Ave, na Barca da Trofa mais precisamente, onde se dá a primeira ligação histórica das Invasões Francesas a Valongo. Ou seja, a defesa portuguesa nas margens do referido rio é feita pelo brigadeiro Valongo, que é morto às mãos dos seus compatriotas, após recuo para o Porto das tropas portuguesas que percebem que não têm defesa possível, e o oficial é morto pela população em desespero. Ora, durante muitos anos as fontes portuguesas diziam desconhecer a existência de tal figura, que esta informação carecia de exatidão, facto contraposto pelos franceses, que viriam a confirmar que este brigadeiro Valongo é o brigadeiro Tomás José dos Santos, nascido em Valongo. A este propósito, André Teixeira sustenta que após uma investigação solicitou os registos de óbito referentes àquele período histórico e que de facto Tomás José dos Santos é o brigadeiro que os franceses apelidaram de Valongo, daqui oriundo.
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A TERTÚLIA COM OS HISTORIADORES OLGA CAVALEIRO E SÉRGIO VELUDO |
O terceiro capítulo do livro incide sobre a importância de Valongo como local importante nesta 2.ª Invasão Francesa. Já com o Porto tomado pelos franceses, em finais de março, Valongo entra em cena, através da estrada real que aqui passava, e que fazia a ligação entre a Cidade Invicta e o interior do país, mais concretamente em direção a Trás-os-Montes. Foi por aqui que as tropas portuguesas fugiram para se juntarem ao general Silveira em Trás-os-Montes. Soult dá então ordem às suas tropas para irem no encalce dos portugueses e o seu primeiro ponto de paragem é Valongo. As fontes dizem que as tropas aqui acamparam, não se sabe ao certo onde, mas que reconhecem esta como uma terra de padeiros e padeiras. Este facto ganha uma importância enorme para o resto da história, como é realçado no livro, porque as tropas precisam de ser alimentadas, a cidade do Porto precisa de ser alimentada, e o pão como alimento fundamental da época confere a Valongo um estatuto preponderante nesta 2.ª Invasão. Soult intima então as padeiras e padeiros de Valongo e de Avintes a retomarem às praças públicas para venderem pão. Valongo torna-se importante pela continuação do abastecimento de pão à grande cidade do Porto, e esta dinâmica acontece entre inícios de abril e meados de maio de 1809 até ao momento em que se percebe que as tropas anglo-lusas estão a avançar em direção ao Porto. Sobre o pão, em concreto, há outro facto curioso neste livro, que conta que foi o pão que impediu o saque generalizado de Valongo, ou seja, os franceses reconhecem a importância desta terra no abastecimento de pão e acabam por, de certa forma, poupá-la à devassa, violência e roubo. O livro alude mesmo ao facto de Soult reconhecer esta importância e atribuir a Valongo 100 pipas de vinho, como forma de agradecimento. Mas ainda em relação ao pão as fontes relatam que em Valongo existia algo pouco comum para a época portuguesa, o chamado pão branco, ou pão de trigo, já que os portugueses, ao contrário dos franceses, usavam o pão de milho, pois então havia muita produção de milho e pouca de trigo e de centeio no nosso país. E se a estrada real que passava em Valongo foi importante na fuga do exército português numa primeira fase, também o foi para o exército francês numa segunda fase. Com a chegada do exército anglo-luso ao Porto os franceses preparam a fuga e Valongo volta a ser local estratégico. Há relatos de que parte do exército francês acampa aqui (outra parte em Baltar), e que profana a igreja e a transforma em cavalariça. Valongo volta a ser então muito citado pelas fontes francesas, que apontam que Soult tem três opções: seguir pela estrada real que passa em Valongo até Amarante, mas onde percebe que pode ter problemas com as tropas do general Silveira; seguir pela estrada entre Porto e Guimarães, o que o obrigaria a passar por Ermesinde e Alfena; ou fugir pelas montanhas para chegar rapidamente à Galiza. A escolha recaiu na terceira opção.
Esta é uma breve resenha de um livro que atribuiu a Valongo dois aspetos importantes nesta 2.ª Invasão Francesa: a estrada real que liga a Amarante/Trás-os-Montes e o pão.
O PÃO FAZ DE VALONGO UM CENTRO
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O LIVRO |
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Por:
MB
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