SECÇÃO: Crónicas

«Olha, nesta idade, apanhei um escaldão!»

Aproveitando os dias tórridos deste verão, decidi visitar o sul do país.

Desembarquei em Olhão. O término da viagem foi ali. Redescobri esta cidade algarvia, quando terminei o percurso da EN 2. Cidade sossegada. Pouco turismo nacional e internacional, barata e com farta gastronomia. Adoro perder-me nas suas ruas estreitas, onde há a conjugação de prédios dos séculos XX e XXI. Decorridos sete anos algo mudou. Pelas ruas, becos e caminhos, o castelhano é a língua predominante. Algum Português, Francês, Inglês, Alemão e alguns dialetos Escandinavos.

No dia a seguir rumo ao areal, ávido de um bom sol e uns mergulhos. É preciso apanhar um barco que nos leva para as ilhas da ria Formosa. À minha frente, na fila de embarque, estava uma senhora de idade. De repente chegam para aí quinze espanhóis e posicionam-se à frente dela. Olhou para mim. Falei-lhes alto e bom som que teriam que ir para o fim da fila. Riram-se. Quê passa? Inquiriu um. Quê passa! É que chegaram agora. Este es nuestro abuelo, respondeu. E que tenho eu a ver com isso? Gostavas que agora chegassem cinquenta portugueses ou outros e ficassem à vossa frente? Vamos embarcar todos não te preocupes. Olhou para mim. Diz uns impropérios e retiram-se. Tive de lhe dizer que era tudo uma questão de princípio. Como a senhora era residente na ilha lá lhe dei o braço e levei-a para o início da entrada… Mal abriram os portões, a pobre foi atropelada por aquela “matilha” sem princípios.

Ao final do dia estava numa mísera. A careca repuxava, os tornozelos não permitiam as sapatilhas, os braços gemiam ao sentir a roupa. Olha, nesta idade, apanhei um escaldão! Tinha que ir à farmácia. Quando dei conta estava na tenda. Um banho gelado devia fazer algum efeito. Quase a medo planei no saco cama. Amanhã seria outro dia. Um terror. Para não ser homofóbico digo que estava vermelho como um camarão ou vermelho ferrari. Não iria à praia. A custo lá cheguei a Olhão. Por aqueles parques muita gente passeava os “Canitos”, os meninos e as meninas a cheirarem-se e as donas a conviverem. Pensei em ir a correr à loja do Chinês comprar uma trela, podia ser um bom método para conviver. À sombra de um jacarandá comecei a pensar, que nada tinha a ver com a globalização. O grande culpado de haver tantos castelhanos era do moço. Sim do moço. O Egas. Ao mínimo stress foi logo ter com Afonso VII, levando a família com uma corda ao pescoço. De um ato heroico e nobre, foi interpretado como um ato de fraqueza e subjugação. O que vale, na raia fronteiriça deviam combinar umas

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Por: Manuel Fernandes