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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 31-01-2023

    SECÇÃO: Destaque


    ENCONTRO NACIONAL DA REDE TERRITORIAL PORTUGUESA DAS CIDADES EDUCADORAS

    Representantes de mais de 50 municípios reuniram-se em Ermesinde com a missão de construir cidades mais educadoras e mais justas

    Valongo foi o município anfitrião do Encontro Nacional da Rede Territorial Portuguesa das Cidades Educadoras (RTPCE) no passado dia 20 de janeiro. Este encontro, que contou com a presença de representantes de mais de 50 municípios de todo o país que integram a referida Rede, teve lugar no Fórum Cultural de Ermesinde.

    «Ler e Escrever a Valer», «Calmamente – Aprendendo a Aprender-se», «Valongo em Cena» e «Inclusão Digital» foram os principais projetos/temas em debate neste encontro da RTPCE, dedicado às boas práticas e desafios de um Concelho Educador, que promove o sucesso escolar para a construção de uma geração mais feliz e capaz.

    Refira-se que desde 2015 o Município de Valongo faz parte da Associação Internacional de Cidades Educadoras e a RTPCE «constitui-se como uma estrutura fundamental na dinamização da construção de cidades mais educadoras e mais justas. A Carta das Cidades Educadoras é um elemento unificador na definição das políticas dos municípios membros, sendo que as Cidades Educadoras trabalham para que a educação, formal ou não formal, seja o eixo transversal de todas as políticas locais», explicam os responsáveis por esta Rede.

    MAIS DE 50 MUNICÍPIOS QUE INTEGRAM A RTPCE ESTIVERAM NESTE ENCONTRO EM ERMESINDE
    MAIS DE 50 MUNICÍPIOS QUE INTEGRAM A RTPCE ESTIVERAM NESTE ENCONTRO EM ERMESINDE
    E neste Encontro Nacional realizado na nossa cidade a animação ficou a cargo da companhia de teatro ermesindense Cabeças no Ar e Pés na Terra, que no exterior do auditório do Fórum deu as boas vindas aos participantes com um belo espetáculo visual e musical, dando vida a azulejos humanos e a algumas das marcas identitárias do nosso concelho.

    Dentro do auditório a sessão foi aberta com um novo apontamento cultural, este de índole musical, protagonizado pelos aluno(a)s do 5. º e 6.º ano da Escola EB 2/3 D. António Ferreira Gomes que integram o projeto Express’ARTE, o qual seria alvo de explicação mais à frente neste Encontro.

    Posto isto, começaria por usar da palavra a coordenadora da RTPCE e vereadora da Câmara Municipal de Lisboa, Sofia Athayda, que além de ter manifestado o «enorme prazer e alegria» em ali estar, sublinharia que este Encontro significava celebrar «a importância da Educação na sua transversalidade, nos governos locais e nas cidades educadoras que procuram construir espaços de mudança nos seus territórios em colaboração com todos os atores da cidade, criando assim oportunidades de crescimento em torno do bem estar dos cidadãos».

    Seguiu-se-lhe o anfitrião deste Encontro, mais concretamente o presidente da Câmara Municipal de Valongo (CMV), José Manuel Ribeiro, que no início da sua intervenção enalteceu e agradeceu o facto de toda a equipa da Educação da sua autarquia trabalhar não só de uma forma apaixonada pelo que faz, mas de igual modo pelo «trabalho espantoso que tem feito», manifestando em seguida a honra que o Município de Valongo tem em desenvolver o trabalho que tem vindo a fazer na área da Educação.

    Mais à frente o autarca confessaria que gosta de tentar perceber o significado das palavras, e que a palavra educar, ou educare em latim, conforme disse, significa conduzir, explicando com isto que educar não é somente o ato formal de o fazer, mas de igual modo a transmissão de valores, «de transmitirmos entre gerações um conjunto de dimensões que nos tornam humanos, que nos tornam especiais». Depois de sublinhar a importância de redes como esta, José Manuel Ribeiro lembrou que a CMV tem feito um investimento muito grande na área da Educação, referindo que dos 92 milhões de euros do orçamento camarário, um terço é destinado à Educação, não só em obras realizadas nas escolas, mas de igual forma no investimento em material. E neste ponto, mais à frente, recordaria o investimento que foi feito pela autarquia na criação das Salas do Futuro nas escolas do concelho, equipadas com tablets, impressoras 3D, ou kits robóticos, entre outros equipamentos disponíveis para toda a comunidade escolar, como fez questão de frisar. «Isto porque uma comunidade educadora tem mesmo de dar oportunidade a uma criança, seja ela carenciada ou não, a oportunidade de descobrir que tem talento. Essa é talvez das maiores falhas da comunidade, e nós não aceitamos que as crianças mais carenciadas não tenham acesso a um kit robótico ou a uma impressora 3d, e dessa forma nunca saberão que talento é que têm. E quando se tem a oportunidade de trabalhar com esse tipo de ferramentas, e aqui em Valongo nós vimo-lo, acontece uma coisa espantosa que é olhar para os olhos de uma criança pobre, que vive numa circunstância muito difícil fora da escola, e descobre que afinal é super talentosa. Esta é a função de um comunidade educadora», disse o edil.

    A COORDENADORA DA RTPCE, SOFIA ATHAYDA, NO USO DA PALAVRA
    A COORDENADORA DA RTPCE, SOFIA ATHAYDA, NO USO DA PALAVRA
    A concluir a sua intervenção voltaria a frisar que a RTPCE é das mais importantes que existem no país, lamentando por isso que, em sua opinião, a importância da Educação não formal não seja devidamente reconhecida no país. «Não acho que o país conheça suficientemente o valor do trabalho que se faz a este nível, porque infelizmente só se olha para a parte formal (da Educação), e às vezes não se vê o investimento brutal que todas as câmaras que estão na linha da frente, como as que aqui estão neste Encontro, fazem a este nível», rematou.

    PROJETOS QUE CONSOLIDAM VALONGO COMO "CIDADE EDUCADORA"

    Finda esta sessão de abertura entrou-se no tema central deste Encontro Nacional, com a apresentação de projetos/atividades educativas do Município de Valongo – boas práticas e desafios de um Concelho Educador que promove o sucesso escolar para a construção de uma geração mais feliz e capaz.

    «Ler e Escrever a Valer», foi o primeiro projeto a ser apresentado, tendo como oradora Joana Cruz, docente universitária e psicóloga na CMV, e que contou ainda com o testemunho das professoras do 1.º ciclo das escolas de Mirante de Sonhos (em Ermesinde) e da Azenha (em Campo), respetivamente, Neuza Pinto e Cristina Barbosa, sobre os resultados verificados que decorrem da implementação do projeto nos respetivos estabelecimentos de ensino. Conforme Joana Cruz começaria por salientar, estes projetos de leitura e escrita não são uma novidade em Portugal, já existem há vários anos, contudo, há cada vez mais um conjunto de novas metodologias que têm vindo a ser estudadas e a serem consideradas mais eficazes em contexto escolar. É o caso deste projeto, que é implementado desde o pré-escolar até ao 4.º ano de escolaridade, e do qual se retira a ideia de que a leitura e a escrita são competências relevantes para a promoção de uma educação de qualidade, competências que permitem combater desigualdades sociais e permitem uma participação mais democrática na sociedade, conforme referiu a oradora no início da sua intervenção.

    Joana Cruz explicaria ainda que quando se fala de aprender a ler e a escrever não podemos esquecer que os principais facilitadores deste processo são os professores, mas podemos complementar essa intervenção que é feita no sentido de trabalhar com alunos com mais necessidades e simultaneamente promover para todos um trabalho que seja equitativo, ou seja, que vá ao encontro das características de cada um. Depois desta introdução a docente explicaria todos os passos e metodologia de um projeto que de acordo com aquilo que a literatura científica tem vindo a apontar dever ser iniciado o quanto antes, ou seja, na educação pré-escolar. Esta intervenção tem então início no ensino pré-escolar através de um trabalho sistemático de promoção de competências, de literacia emergente e da identificação atempada de crianças em risco de desenvolverem dificuldades posteriores na aprendizagem formal relativamente à leitura e à escrita. Todo este trabalho é feito em articulação entre os professores, os pais e encarregados de educação.

    JOSÉ MANUEL RIBEIRO DEFENDEU UMA EDUCAÇÃO PARA TODOS OS MEMBROS DA COMUNIDADE
    JOSÉ MANUEL RIBEIRO DEFENDEU UMA EDUCAÇÃO PARA TODOS OS MEMBROS DA COMUNIDADE
    Mais à frente desta apresentação, Neuza Pinto foi uma das duas professoras de ensino básico presentes que deu o seu testemunho sobre a implementação do projeto na sua escola, sobre as oportunidades e mais valia destas intervenções. A docente começaria por explicar que o processo da escrita e leitura é muito complexo, pois a realidade das escolas mudou. «Temos alunos diferentes, temos comunidades diferentes que nos chegam todos dias e os desafios são cada vez maiores e como tal a escrita e a leitura é um processo que deve começar o mais precocemente possível», disse, com o argumento de que isso deve acontecer porque há cada vez mais menino(a)s com dificuldades na comunicação oral. «As tecnologias são de facto uma mais valia, mas também têm o reverso da medalha. Muitas vezes os menino(a)s estão nas suas famílias ligados de tal forma às tecnologias que por vezes chegam ao pré-escolar sem saber falar. Isso é preocupante. A leitura e a escrita não começa só quando os meninos aprendem as primeiras letras, a leitura aprende-se ainda dentro do útero materno, pois a mãe se for leitora a criança ainda em gestação está a ouvir a ler. Pais leitores darão filhos leitores, e se no pré-escolar os pais derem o exemplo da leitura, certamente que os filhos serão melhores leitores. Se logo no pré-escolar os pais comunicarem com os filhos, certamente que os filhos serão muito melhores comunicadores», opinou Neuza Pinto.

    O segundo tema/projeto apresentado foi o «Calmamente – Aprendendo a Aprender-se», um projeto que ensina as crianças (alunos) a lidar e a gerir as emoções. Esta é uma ideia da Associação Mente de Principiante, ou melhor dizendo, da presidente desta entidade, Andreia Espain, que também esteve em Ermesinde neste Encontro. «Calmamente – Aprendendo a Aprender-se» existe desde 2014 e foi implementado no Concelho de Valongo no ano letivo de 2021-2022 no Agrupamento de Escolas de S. Lourenço, estando hoje alargado a mais escolas do concelho, dado o sucesso que tem obtido.

    É um projeto de educação sócioemocional que põe os mais pequenos a aprender sobre as suas emoções, e cujo objetivo fundamental é o bem estar e o equilíbrio no contexto escolar dos alunos. Ele foi pensado como uma “viagem”, estruturado em sessões, em que uma vez por semana os alunos têm uma aula calmamente, e foi idealizado como uma “viagem” lenta ao auto conhecimento. O objetivo desta “viagem” é despertar a curiosidade dos participantes para as competências sócioemocionais, sendo trabalhadas diversas competências, e o que se pretende no fim dessa “viagem” é que a “bagagem” que parte vazia esteja cheia à chegada, ou seja, que essa “bagagem” esteja preenchida com um conjunto de competências.

    Competências como o auto conhecimento, a auto regulação emocional, a auto consciência, a empatia, a comunicação, a assertividade, entre outras, são trabalhadas neste projeto que conduz os alunos pelo lado mais emocional.

    A APRESENTAÇÃO DO PROJETO «LER E ESCREVER A VALER»
    A APRESENTAÇÃO DO PROJETO «LER E ESCREVER A VALER»
    O terceiro tema/projeto apresentado designou-se de «Valongo em Cena», e nele estão incorporados quatro projetos, nomeadamente, o Palco Letivo, o Express’ARTE, o Per(Curtir), e a Escola Segunda Oportunidade de Valongo, os quais foram esmiuçados pela Chefe de Divisão da Educação da CMV, Júlia Mendes.

    Palco Letivo é um projeto que arrancou nas escolas públicas do concelho no ano letivo de 2014/15. A ideia consiste na dinamização de clubes de teatro nas escolas públicas do 2.º e 3.º ciclos e do secundário, em todas as escolas do concelho, através de protocolos que o Município estabelece com os agrupamentos de escola e com a Associação Cabeças no Ar e Pés na Terra, a qual assume a dinamização desses clubes através da contratação de profissionais de teatro.

    O Palco Letivo culmina anualmente com a Mostra-Te, a mostra de teatro escolar, em que são apresentados ao público os resultados do trabalho desenvolvido ao longo do ano letivo. É um projeto que pelo que foi dado a conhecer estimula a educação artística, a criatividade, a inovação e contribui para o reforço das aprendizagens e a promoção de competências pessoais, sociais e emocionais.

    Por sua vez, o projeto Express’ARTE apresenta-nos uma proposta de política integrada de educação, inclusão e arte, que através das artes performativas visa promover o sucesso escolar e a coesão numa escola que se situa num contexto territorial desfavorecido, neste caso a Escola D. António Ferreira Gomes - a única escola do concelho onde o projeto, que teve início no ano letivo transato, está implementado -, uma escola com um elevado número de jovens em risco de abandono e que tem cada vez menos alunos a quererem frequentá-la, como foi referido pela oradora deste painel. Express’ARTE integra as áreas/disciplinas de música, teatro e artes circenses, em que os alunos começam por experimentar cada uma das atividades e cerca de um mês depois e de acordo com as suas preferências são encaminhados para uma disciplina específica. A New Concept Music School Band e a Associação Cabeças no Ar e Pés na Terra são as entidades dinamizadores do projeto.

    Ainda integrado no painel «Valongo em Cena» falou-se do Per(Curtir), um projeto artístico enquanto ferramenta da educação inclusiva, e que consiste numa intervenção contínua, sistemática e regular e que recorre, digamos assim, à musicoterapia junto das crianças e jovens com necessidades específicas dos agrupamentos de escolas da rede pública do concelho. Teve início no nosso concelho em 2016-2017, e de lá para cá tem vindo a crescer. Per(Curtir) é um projeto dinamizado pela associação EducaSom, que trabalha a musicoterapia não na vertente da educação musical, mas como terapia e atingindo objetivos que são importantes para a vida de todos o(a)s menino(a)s.

    MOMENTOS DA ANIMAÇÃO DO EVENTO, A QUAL FICOU A CARGO DA COMPANHIA DE TEATRO ERMESINDENSE CABEÇAS NO AR E PÉS NA TERRA
    MOMENTOS DA ANIMAÇÃO DO EVENTO, A QUAL FICOU A CARGO DA COMPANHIA DE TEATRO ERMESINDENSE CABEÇAS NO AR E PÉS NA TERRA
    Conforme foi explicado por um dos professores deste projeto, os instrumentos musicais são facilitadores de um processo onde se pretender ir ao encontro da identidade sonora de cada aluno, visando que através dessa identidade sonora se consiga implementar em cada aluno uma maior auto-estima, uma valorização de si próprio, ou melhorar a sua coordenação motora, entre outros fatores importantes.

    Por fim, foi abordado o projeto da Escola Segunda Oportunidade de Valongo, o qual e como foi inicialmente explicado, não é um projeto totalmente da autarquia, mas sim do Centro Social de Ermesinde, que o gere e tem contado com o apoio da CMV e do Agrupamento de Escolas de Ermesinde para o implementar no nosso concelho desde o ano letivo de 2019-2020. Trata-se de uma resposta educativa para jovens com idades compreendidas entre os 15 e os 25 anos que estão sem situação de abandono escolar. É, em linhas gerais, uma resposta sócio-educativa integrada, centrada no jovem, com o qual se pretende construir um currículo flexível desenhado à medida dos seus interesses, das suas capacidades e também com uma forte vertente vocacional e artística.

    Este Encontro finalizou com a reunião da RTPCE, onde foi eleita a nova Comissão de Coordenação da citada Rede para o biénio 23-24 da qual Valongo passa a fazer parte juntamente com Águeda, Lagoa, Lisboa, Santo Tirso, Vila Nova Famalicão, e Torres Vedras.

    Por: Miguel Barros

     

     

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