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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 31-03-2022

    SECÇÃO: Destaque


    COVID-19 - O resumo possível duma pandemia

    A pandemia por SARS-CoV-2 que desde o final do ano de 2019 tem assolado o mundo parece estar em fase de resolução. Em Portugal a DGS deixou de proceder a atualizações diárias da mesma, o que significa que se prepara para a declarar extinta e passar a considerar a Covid-19 com endémica e não epidémica.

    É então altura de olhar para trás e ver o que se passou. Não se vai alterar o que se passou, mas poderemos, finalmente, dizer “isto já é história”. E aprender para pandemias do futuro, qua as haverá, sem dúvida.

    Esta doença teve início, ao que parece, na cidade de Wuhan, na China, e provavelmente foi provocada por um vírus que passou dum qualquer animal para o Ser Humano. Houve intenso debate e alguns incidentes diplomáticos à custa disso, mas não vamos entrar nesses pormenores…

    O marcador da gravidade da situação sempre foi considerado o número de Novos Casos. E isso era adequado no início da pandemia, quando esta era mal conhecida e, por isso, muito temida. Tratava-se duma doença nova e a única comparação que se podia fazer era com a SARS-CoV-1, provocada por outro Coronavírus e que, além de ser muito contagiosa, era também muito letal. Todos os alarmes mundiais tocaram e em Portugal também. Daí que se tomaram algumas atitudes para conter a sua propagação e que estão na memória de todos. A Páscoa de 2020 ficará na memória como a Páscoa do isolamento.

    Hoje a ênfase já não é dada ao número de Novos casos Diários, mas às consequências desse número de Novos Casos, nomeadamente o número de internados em Unidades de Cuidados Intensivos (Patogenicidade) e o número de óbitos atribuídos à doença (Letalidade). É o que se mostra no gráfico seguinte.(1)

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    Podem contar-se as diferentes vagas pandémicas que nos assolaram, embora se discuta o seu número. Para o autor destas linhas houve seis vagas, estando em curso o que parece ser uma nova vaga, que seria a sétima. As vagas 2 e 3, na contagem do autor, ocorridas entre outubro de 2020 e abril de 2021, são muitas vezes fundidas numa só. Cada vaga pandémica teve origem em novas variantes do vírus ou novos comportamentos das pessoas.

    A vaga inicial foi provocada pelo vírus inicial.

    As vagas 2 e 3 (na contagem do autor) foram provocadas pela variante Delta, mais contagiosa. Mas estava em fase de resolução quando surgiu a vaga 3, provocada pela (provavelmente excessiva) abertura social durante o Natal de 2020.

    A quarta vaga ocorreu no verão de 2021 e foi, sem dúvida, provocada pela maior abertura e elevada dificuldade em cumprir regras durante o tempo de verão.

    A quinta vaga ocorreu a partir de novembro de 2021 e pode ter ocorrido em virtude da abertura escolar e o aliviar das medidas de contenção.

    Estava em fase de resolução quando surgiu a sexta vaga, em janeiro de 2022 e tudo indica que foi provocada pelo aparecimento da variante Ómicron, muito mais contagiosa.

    Estava em fase de resolução, mas os números recentes podem indicar uma nova vaga. A ser verdade, pode ter sido causada por uma nova estirpe da variante Ómicron e pelo aparecimento de estirpes híbridas de várias variantes.

    No mesmo gráfico vemos a cor de laranja a variação dos internamentos em Unidades de Cuidados Intensivos, que acompanham a grosso modo a curva dos Novos Casos. (2)

    Em matéria de Letalidade (número de óbitos atribuídos à doença), a curva é semelhante às anteriores, desenhando-se da mesma forma as diferentes vagas. (3)

    Este gráfico omitiu propositadamente os dados a partir de 1 de novembro de 2021 e serve para realçar uma das grandes diferenças desta pandemia em relação a anteriores – a vacinação.

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    A vacinação em massa de toda a população mundial – mais célere nos países ditos “desenvolvidos” teve início no final do ano de 2020. As primeiras populações a serem vacinadas foram as populações mais suscetíveis a desenlace fatal da doença – idosos e outros grupos. A diferença entre o antes da vacina e o depois da vacina é abissal: volvidos que foram escassas semanas após o início da vacinação, tanto o número de Novos Casos, como de Internamento em UCI, como de óbitos baixou drasticamente. Pode considerar-se o fabrico em tempo recorde das diferentes vacinas à escala mundial como um dos grandes triunfos da Ciência e da Medicina de todos os tempos, só comparável à descoberta das primeiras vacinas no final do século XVIII (vacina contra a varíola) e dos antibióticos a meio do século XX.

    Portugal destacou-se à escala global por dois fenómenos antagónicos.

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    A má notícia ocorreu no final do ano de 2020, com uma excessiva liberalização dos comportamentos sociais na quadra festiva de Natal/Ano Novo. Tal foi a origem da mais avassaladora vaga pandémica, que obrigou, inclusivamente, ao pedido de ajuda internacional.

    A boa notícia ocorreu com a vacinação. Embora suportando numerosas manifestações anti-vacinas, a verdade é qua a população portuguesa acorreu em massa aos centros de vacinação. E tanto quanto a disponibilidade de vacinas permitiu – não estava prevista semelhante adesão - em poucas semanas a população vulnerável foi vacinada. Estão na memória de todos as imagens das carrinhas transportando as vacinas com escolta policial, tal era o valor do tesouro nelas transportado. O resultado foi o que se observa no gráfico: uma queda abrupta do número de Novos Casos e, consequentemente, uma quebra nos Internamentos em UCI e dos casos de Óbitos atribuídos à Covid.

    Depois das Covid-19 nada fica como antes. A Humanidade descobriu como é vulnerável a pandemias. A facilidade de deslocação rápida a longas distâncias mostrou quão rápida é a disseminação de novos vírus à escala global. A solução não está nas vacinas, mas em muitos comportamentos que, provavelmente, consideramos normais. Agora haverá tempo para ver o que se passou e promover medidas para evitar novas pandemias. Mas nada será como antes e provavelmente andaremos, então, mais seguros.

    Mas neste momento o foco deixou de ser a Covid. Outros problemas emergiram e ainda não se sabe como serão resolvidos. Mas, tal como com a Covid, temos de ter a esperança de que a Humanidade será inteligente e descobrirá o caminho.

    OBRIGADO A TODOS, A BATALHA FOI DE TODOS.

    José Campos Garcia*

    *Médico

     

     

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