COVID-19 - Situação em Portugal e no Mundo (Dados de 27/01/2022)
Há um ditado português que diz “muita parra e pouca uva”.
Aplicado à atual pandemia por SARS-CoV-2, a parra será o número de 60.000 novos casos diários a que temos assistido. A uva será o número de doentes internados em enfermarias de Cuidados Intensivos e o número de pessoas falecidas em contexto de Covid-19.
É verdade que já foram larguissimamente ultrapassadas algumas linhas vermelhas definidas pela Direção Geral de Saúde.
A incidência acumulada a 14 dias tem um valor crítico de 240 casos. Atualmente no continente vamos em 5684 casos.
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Gráfico 1 – Fator de Crescimento a Sete Dias Está sustentadamente em descida, mas muito lenta |
O Índice de Transmissão tem um valor crítico de 1. Atualmente vamos em 1,18.
Mas por muito dramáticos que sejam estes números, eles devem-se à testagem maciça que se tem feito atualmente, cujo número de testes, em média, rondará o meio milhão de testes por dia. São imensos, dir-se-á, a esmagadora maioria, os casos de testes positivos em pessoas totalmente assintomáticas.
Muitos tentam explicar esta avalanche de novos casos: a abertura da sociedade (quase em plena abertura), o reinício do ano letivo, as festas de Natal/Ano Novo, a campanha eleitoral, as eleições, … Seja o que quiserem. Para além da variante Ómicron, não é necessária mais nenhuma explicação.
O que interessa, de facto, é a consequência prática deste elevadíssimo número de Novos Casos Diários, principalmente em relação aos doentes internados em Unidades de Cuidados Intensivos e ao número de pessoas falecidas.
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Gráfico 2 – Internamentos em UCI |
Aqui o panorama é totalmente diferente.
Em matéria de doentes internados em UCI, o valor percentual em relação ao número crítico de camas ocupadas está estavelmente em 60% a 70% desde há semanas.
Mas o número de pessoas falecidas em contexto de Covid infelizmente está em subida sustentada desde igualmente há semanas. É certo que a Taxa de Letalidade associada à Covid está em franca descida, sendo esse valor atual 0,81% de todos os diagnosticados. Mas quem morre são pessoas e não números, pelo que o número de cerca de 40 por dia é dramático.
Tudo isto se deve à enorme facilidade de transmissão da nova estirpe Ómicron do SARS-CoV-2, que inclusivamente chega a infetar pessoas com a vacinação clássica de duas doses. A terceira dose revelou-se fundamental para o não contágio com a nova estirpe do vírus.
Pelo que as regras para controlarmos esta maldita pandemia serão: testar, confinar, vacinar.
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Gráfico 3 – Novos Óbitos Infelizmente há um aumento deste número, embora a Taxa diminua. |
Mal os números comecem sustentadamente a descer, poder-se-á falar do fim da pandemia e início da endemia, em que teremos de conviver com o vírus, gostemos ou não. E alguns indicadores mostram que poderemos estar a chegar ao patamar desta nova vaga, a quinta, pelo menos, embora seja impossível prever a data, mas nunca antes de meio do mês de fevereiro.
A nível europeu a realidade é semelhante à nossa, ou pior. Dado que em muitos países os movimentos negacionistas das vacinas têm maior impacto do que cá, a incidência de doença e, principalmente de doença grave, é maior. O que tem obrigado alguns países a adotar medidas muito duras em relação às pessoas não vacinadas e, mesmo, à obrigatoriedade da vacina. Mas há outros países, nomeadamente escandinavos, que já estão a abrir as respetivas sociedades, o que demonstra o controle da situação. É prematuro proclamar o fim da Pandemia. Vamos com calma.
Por isso, há que ter esperança, mas não facilitar.
TESTAR - CONFINAR - VACINAR
José Campos Garcia*
*Médico
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