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    Arquivo: Edição de 31-12-2020

    SECÇÃO: Destaque


    JACINTO SOARES EM ENTREVISTA AO NOSSO JORNAL

    «Escrever sobre a minha terra natal é já por si um prazer»

    Como noticiámos na última edição, a História de Ermesinde conta com mais um livro de Jacinto Soares, o terceiro da série Subsídios para a Monografia de Ermesinde, este intitulado “Ermesinde - Episódios da História da Nossa Cidade, avanços e recuos”. Para conhecermos ainda melhor o autor e aquilo que o tem movido na descoberta e na escrita da história da nossa cidade, fizemos a entrevista que aí fica, onde Jacinto Soares, nosso colaborador e antigo diretor, evidencia bem o amor que nutre pela terra que lhe serviu de berço.

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    A Voz de Ermesinde (AVE): O que o levou a interessar-se pela história de Ermesinde?

    Jacinto Soares (JS): Pode dizer-se que o interesse pela história desta terra se desenvolveu naturalmente ao longo dos anos. Originário de uma família antiga de agricultores, cedo deambulei pelas bouças e campos, sobretudo da parte meridional da atual cidade, integrando-me nos trabalhos agrícolas, à medida que ia crescendo, isto é, desde o simples “chamar os bois” até ao rachar da lenha, nas manhãs frias de Inverno.

    Para abreviar, o curso de História, onde se integrava a arqueologia, veio cimentar mais esta vocação. Durante a minha vida de docente, os trabalhos de história local tinham um lugar importante nas tarefas extraescolares dos meus alunos. Por fim, o convite que me foi feito pelo presidente da Câmara Municipal de Valongo (CMV) de então, no início dos anos oitenta, contribuiu para ficar com uma panorâmica mais geral das outras freguesias do concelho. Fui nomeado presidente dos Serviços Municipais de Cultura, antecessor do pelouro da cultura que, nessa altura, nem existia, nem se vislumbrava o seu enquadramento na organização da autarquia. “A Voz de Ermesinde”, de que fui diretor cerca de dez anos, ajudou-me a conhecer os aspetos mais recônditos da nossa história e a desenvolver o conhecimento científico de algo que, até então, nem conhecíamos e, portanto, desvalorizávamos.

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    AVE: Quer recordar-nos em síntese o que trataram os seus 1.º e 2.º livros?

    JS: O primeiro livro “Memórias da Nossa Gente”, trata, se assim o podemos dividir, de temas religiosos, das tradições ligadas a estas festividades, umas de índole cristã, outras pagãs; da agricultura, aqui escrevemos sobre o cultivo do milho, vinho, linho, da construção de instrumentos pelo “lavrador artesão”, até aos jugos e cangas aqui fabricados. Os brinquedos, em toda a sua extensão, também tiveram aqui um desenvolvimento grande.

    Quanto ao “Segundo subsídio” – “O Património e a Nossa Gente”, inicia-se com a descrição e o contexto histórico dos monumentos religiosos, abordando-se a possibilidade de haverem sido construídas duas igrejas paroquiais, antes da atual. Falámos também da Capela da Senhora do Amparo, integrada na Quinta de Ermesinde e da passagem para as mãos das Irmãs do Bom Pastor, que a venderam, e dos projetos que, se lhe seguiram, com outros proprietários.

    O Convento da Mão Poderosa da Formiga, é outro tema bastante desenvolvido, que abarca a sua origem e a sua riqueza patrimonial, nomeadamente a pictórica. Passa-se depois para a arquitetura rural, hoje quase inexistente, para os moinhos do Leça e do rio Tinto. A questão da Torre de Vigia, que existiu na Zona de Sonhos, que foi demolida nos anos sessenta, embora ninguém conhecesse a razão da sua existência, foi estudada, tendo-se chegado à conclusão de que se tratava de uma pequena fortaleza medieval. Finalmente, debruçámo-nos sobre o património civil, analisando as vilas, quintas e casas de espetáculos. Esta obra integra ainda temas importantes, alguns polémicos, mas que é necessário descodificar, como por exemplo, a conservação do património natural e a chamada “Questão dos Limites”. Por último, e servindo-me um pouco dos meus conhecimentos de linguística, fez-se a análise de certos topónimos e mesmo a divulgação de algumas alcunhas antigas.

    AVE: E que aspetos aborda nesta sua 3.ª obra sobre Ermesinde?

    JS: Nesta terceira obra «Episódios da História da Nossa Cidade», abordamos com maior cuidado e desenvolvimento alguns processos e projetos urbanísticos que se tornaram conhecidos pelas alterações que sofreram ao longo dos tempos, devido ao desvio da finalidade inicial. Assim, tratamos da construção de uma nova sede da Junta de Freguesia e das várias propostas de localização, incluindo a criação de uma “Zona Cívica”, onde a mesma poderia ser integrada.

    O levantamento dos regadios de Ermesinde, trabalho moroso e difícil porque muitos foram destruídos ou deslocados, tornou-se importante porque foi a primeira vez que foi estudado. Não podemos esquecer-nos que, para avaliar a sua grandeza, Ermesinde integra duas bacias hidrográficas – a do Douro (rio Tinto) e a do Leça – com os seus afluentes que aqui passam, ou que aqui têm origem.

    A questão das infraestruturas apresenta algumas novidades, nomeadamente no que concerne a viadutos e a passagens de nível e que a sua valorização se deve sobretudo ao apoio do antigo Diretor do Nó Ferroviário. Mas não só de ferrovia se escreve neste livro, pois não deixámos passar em claro a questão da A4, nomeadamente os problemas e obstáculos que se levantaram com a justa pretensão de ligar o Nó de Ermesinde ao centro da cidade.

    Por último, diremos que para tornar esta obra mais apetecível e menos pesada porque os grandes temas assim o obrigaram, resolvemos aligeirar esse conteúdo com a introdução de conjuntos de fotos antigas, com os célebres e característicos pregões e ditos, que se ouviam na estação de Ermesinde quando chegavam os comboios, para chamar a atenção para a venda de regueifa e de água. Três personagens emergem pelas suas ligações/criações a algumas peças, trabalhos e descobertas no âmbito da nossa cidade: Alfredo, inventor de modelos tripulados de comboios; Mário Silva, um grande ceramista internacional, de Gaia, que deixou o seu nome ligado ao mural cerâmico da nossa estação e à igreja paroquial de Ermesinde e Pedro Correia, um paleontólogo e naturalista que deu a conhecer ao país e à comunidade científica internacional uma jazida fossilífera, única em Portugal.

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    AVE: O que mais lhe tem agradado nesta escrita histórica?

    JS: Escusado será dizer que escrever sobre a minha terra natal é já por si um prazer e até uma alegria. Agrada-me descobrir sobretudo aquilo que desconhecia e, complementarmente, alargar a minha investigação aos assuntos de que tinha dúvidas. Por outro lado os ermesindenses ficam contentes e agradecem-me de várias formas este meu interesse, o que também desperta em mim o orgulho de ter esta terra como berço.

    AVE: Quais são as fontes que privilegia nestes seus estudos?

    JS: Livros como este têm de ter sustentação histórica e recolha pormenorizada de fontes. No primeiro (Memórias da Nossa Gente), tendo em conta o seu âmbito, privilegiei, como é facilmente comprovável, mais os temas antropológicos (como é o caso da Lenda do Corredor) e etnográficos (costumes, lendas, orações, etc.), que fui buscar às minhas memórias acumuladas, durante anos e mais anos.

    Já no segundo, recolhi muitos dados através da oralidade, de jornais antigos, livros da especialidade e mesmo da Voz de Ermesinde, que é, na minha opinião, uma das mais valiosas fontes da nossa história contemporânea. Claro que sempre que tive necessidade, consultei o Arquivo Municipal de Valongo e mesmo o Arquivo Distrital do Porto.

    AVE: Sabemos que algumas fotos são bastante raras. Como as conseguiu?

    JS: Efetivamente coloquei nos meus livros algumas fotos únicas e bastante antigas. Infelizmente, algumas apareceram noutros escritos sem que o nome do seu possuidor fosse mencionado, o que me entristeceu bastante. Esta é a razão porque evito utilizá-las no enriquecimento de alguns textos que disponibilizo, nomeadamente no “facebook”. Como as consegui? Esta é a pergunta. Pois bem, alguns ermesindenses que possuíam fotos antigas, algumas em álbuns dos seus antepassados, acharam por bem, como me disseram, fazerem-me herdeiro das mesmas, porque sabiam que as trataria como se fossem minhas. Por último, digo, também, que algumas, cujos originais estão na minha posse, foram parar a “outras bandas” e agora são utilizadas e até distorcidas da imagem original. Por exemplo, uma das fotos mais raras da fábrica de Cerâmica (Parque Urbano) que mostra, além do edifício, a rua do mesmo nome e uma camioneta “Ford” dos anos quarenta aí estacionada, foi-me oferecida pelo “fotógrafo e dono da viatura”. Só que agora, aparece sem a camioneta, valorizando-se sobretudo o edifício.

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    AVE: Porque é que este livro demorou tanto a sair a público?

    JS: Este último livro, que estava pronto a ir para a gráfica em janeiro de 2020, só agora foi possível chegar às mãos dos leitores! A razão maior, prende-se com o surto de pandemia que surgiu logo no princípio do ano.

    Ressentiu-se a gráfica a quem tinha sido entregue o serviço, entrando alguns funcionários em teletrabalho. Esta insegurança e incerteza provocou, não só atrasos, como obrigou a mais trabalho, pois alguns dos assuntos tratados, nomeadamente a nível de vias, tiveram de ser alterados. Ao contrário dos livros anteriores foram várias as provas que tive de realizar para reajustar os textos. Evidentemente que a pandemia e as regras que a mesma impôs, também prejudicaram o normal relacionamento com a Junta de Freguesia, nomeadamente quanto à definição do momento para fazer a apresentação, pois punha-se o problema dos ajuntamentos.

    AVE: Acha que ainda há temas da história de Ermesinde que deveriam ser estudados?

    JS: Se passarmos os olhos sobre o universo monográfico de Ermesinde, nomeadamente na perspetiva que lhe foi dada com os três volumes, julgo que ainda se pode fazer um quarto livro, pois há temas que, ou foram minimizados, ou se passou ao lado. Estou a pensar, por exemplo, na formação do concelho, no movimento autonomista que se desenvolveu, no século XX e, sobretudo, na importância e premência de se fazer um PDM definitivo, onde as decisões sejam permanentes e imutáveis.

    AVE: De todos os temas tratados qual o que lhe deu mais gosto desenvolver?

    JS: Posso dizer que houve vários temas que me deram bastante prazer em tratar, embora me apetecesse dizer que todos eles me agradaram e me deram uma espécie de contentamento espiritual. Vou mencionar, por uma questão de consciência, apenas aqueles que não só me deram prazer mas que, igualmente, me surpreenderam pela sua novidade e importância. Refiro em primeiro lugar a Torre de Vigia, ou vela, da linha de cumeada que separa Ermesinde de Alfena, em Sonhos. Esta espécie de torre que era conhecida simplesmente por Castelo ou Mirante de Sonhos, embora no séc. XVII se denominasse “Outeiro da Vela de São Lourenço”.

    Depois de muito pesquisar, consegui, apesar das dificuldades na obtenção de documentos, saber que se tratava de uma almenara, ou torre de vigia medieval.

    (...)

    leia esta entrevista na íntegra na edição impressa.

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    Por: Manuel Augusto Dias

     

     

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