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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 15-12-2020

    SECÇÃO: História


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    MEMÓRIAS DA NOSSA GENTE (17)

    Ciclo do Natal

    Dado o tempo natalício que vivemos, este ano marcado pela pandemia que impede a celebração natalícia de acordo com a tradição, lembro como era vivido o ciclo do Natal em Ermesinde de outros tempos.

    O Natal é em todo o país o evento mais importante do calendário religioso. É a festa da família. Aqui, como em todas as comunidades agrícolas dos arredores do Porto, podemos considerar como momentos especiais ligados a este período religioso: o presépio, a consoada, a missa do galo e o dia 25, propriamente dito. Associado a estes actos, certas costumeiras e tradições, como as janeiras e os reiseiros. Não podemos, contudo, esquecer que, embora o significado fosse idêntico, estas festividades apresentavam, diferenças nalguns aspectos e, nomeadamente, no referente à consoada entre as famílias ligadas directamente à agricultura e as outras, que viviam nas «vilas»2 e palacetes desta terra. Os hábitos e costumes destas estão mais próximos das tradições da burguesia do Porto. Este trabalho, pelas suas características e objectivos, privilegia mais as primeiras.

    O PRESÉPIO

    Quinze dias antes, começava-se a fazer o presépio nos lugares tradicionais, principalmente nas igrejas3, capelas e nas escolas. Associações religiosas, como os escuteiros e outras, competiam pelo melhor e mais original destas representações. Mais tarde algumas casas comerciais seguiram-lhe o exemplo. Geralmente, o presépio da família fazia-se nos dias que antecediam o Natal. Na sua construção usavam-se os materiais simples, de fácil recolha nessa altura e comuns, em toda a parte, como o musgo, heras, plantas e, sobretudo nos de maior grandeza, os «rojões»4, como decoração. As figuras em barro, representando animais como ovelhas, bois e vacas e o burrito, bem como os «santinhos»5, onde se incluía o Menino Jesus, S. José e Nossa Senhora ficavam guardadas, de uns anos para os outros, geralmente numa caixa de papelão. Com a modernização das casas, o presépio começa, também, a substituir o «lar»6, como o lugar, onde são colocados os sapatinhos das prendas na véspera de Natal. Era para aí que se dirigia o Menino Jesus, depois de descer pela chaminé - acreditavam as crianças - para lhes levar os objectos, a que elas tanto tinham aspirado nesse ano e que lhes haviam sido prometidos, quase sempre a troco de uma boa acção, ou da melhoria do seu comportamento. A substituição do presépio pela árvore de Natal, embora mais tardia, acaba por se impor, por razões óbvias.

    ENCENAÇÃO DE UM PRESÉPIO DE NATAL, REPRESENTADO POR CRIANÇAS, HÁ UNS ANOS ATRÁS, NUMA INSTITUIÇÃO DE SOLIDARIEDADE SOCIAL
    ENCENAÇÃO DE UM PRESÉPIO DE NATAL, REPRESENTADO POR CRIANÇAS, HÁ UNS ANOS ATRÁS, NUMA INSTITUIÇÃO DE SOLIDARIEDADE SOCIAL

    A CONSOADA

    A consoada nas famílias mais tradicionais e mais simples desta terra, apesar do seu profundo significado como festa da família era, em termos gastronómicos, uma refeição frugal. Batatas com bacalhau, acompanhadas de pencas, tronchudas ou grelos, regadas com bom azeite, por vezes fervido com alho e cebola, assim era o prato tradicional dessa noite. No respeitante a «doçuras» e a frutas, a variedade também não era grande: aletria feita na manhã ou na véspera desse dia santo, rabanadas feitas com o «cacete», comprado na padaria mais próxima, algumas a saber a leite e outras a mel, embora se privilegiasse estas últimas e pouco mais. Os figos de seira, nozes e pinhões, assim como o vinho, eram à descrição. Nas casas mais antigas, as mulheres e as crianças bebiam vinho quente, geralmente aquecido, num pote de barro, sobretudo se estavam ou temiam uma constipação. Muitas vezes este era o momento que a família aproveitava, para saborear as migas doces, uma iguaria muito apreciada em Ermesinde.

    Após a refeição e enquanto as mulheres da casa faziam o café, geralmente na cafeteira de barro, os homens e as crianças entretinham-se ou a jogar o «rapa»7, «o par ou pernão»8, com pinhões, ou, então, a contar histórias e a dizer adivinhas. Como diz Helder Pacheco9: «a cama teria de esperar até que limpassem o fogão para lá se colocar o sapatinho (o tamanco, ou a chanca, conforme o que cada um tivesse), pois era pela chaminé que Ele entrava e alguma coisa, muito ou pouco, havia de deixar».

    (...)

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    1 Este artigo (texto e fotos) baseia-se na publicação do autor, “Ermesinde: Memórias da Nossa Gente”. O autor não segue o atual Acordo Ortográfico.

    2 No princípio do século, surgem, em Ermesinde, vários palacetes, denominados simplesmente «vilas», mandados construir pelos burgueses do Porto, que se juntam às poucas construções deste tipo, aqui, já existentes. Nos anos trinta esta terra torna-se a «Sintra do Norte».

    3 A comissão de Festas do Menino Deus foi, durante anos, a responsável pelo presépio feito na igreja matriz.

    4 «Rojões» - designação dada às escórias do coque (carvão de pedra inglês) usado como combustível nas fundições do ferro. Segundo apurámos, estas começaram-se a usar, nos presépios, a partir dos finais do séc. XIX, princípios do XX. A primeira empresa, em Ermesinde, a ceder estas escórias, não só para este, como para outros fins, foi a actualmente designada Felino, na Travagem. Antes desta, porém, as escórias provinham sobretudo das locomotivas a vapor.

    5 «santinhos» - designação atribuída pelas crianças nesta zona dos arredores do Porto às imagens em barro, ou madeira e mesmo impressas em papel, de figuras religiosas, ou de outras ligadas a eventos deste género.

    6 Lar, ou simplesmente «pedra do lar», pois de uma laje de granito se tratava, era o local, nas casas antigas, onde se colocavam ao lume, pousadas no chão, ou em cima de trempes de ferro, as cafeteiras, os tachos e as panelas.

    7 Rapa -jogo tradicional em que se utiliza uma piorra, de madeira com quatro faces e onde aparecem as letras R, T, D e P, correspondendo respectivamente a Rapa, Tira, Deixa e Põe. A face voltada para cima indica o que jogador tem que executar a seguir. A piorra (aqui é utilizado a palavra piasca), é vulgarmente conhecida por rapa.

    8 «Par ou pernão» -jogo simples, que consiste em meter um número par, ou ímpar de pinhões, geralmente um ou dois, dentro da mão fechada e convidar o parceiro a tentar adivinhar. Perde se disser pernão e tiver um número par e ganha quando acertar.

    9 «PORTO. LIVRO DE NATAL» - Edições Afrontamento.

    Por: Glória Leitão

     

     

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