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Edição de 29-02-2024
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    Arquivo: Edição de 30-11-2020

    SECÇÃO: Destaque


    ENTREVISTA COM O PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DAS COLETIVIDADES DO CONCELHO DE VALONGO, JOAQUIM OLIVEIRA

    Movimento associativo concelhio sofre, e muito, às mãos da pandemia

    A crise pandémica que assola o Mundo está a deixar marcas severas um pouco por todos os setores da sociedade, sendo o movimento associativo uma dessas vítimas. As associações e/ou coletividades enfrentam uma paragem longa e quase total das respetivas atividades e, desta forma, registam uma quebra abrupta das respetivas fontes de rendimento. O presente é duro e o futuro é por estes dias uma incógnita para muitas - senão mesmo a totalidade - das associações/coletividades.

    A pandemia condicionou – e continua a condicionar – a vida e as atividades das associações/coletividades. O concelho de Valongo não é exceção à regra, isto é, o nosso movimento associativo vive dias difíceis, como nos conta em entrevista o presidente da Associação das Coletividades do Concelho de Valongo, Joaquim Oliveira. Assegurar os compromissos de pagamentos mensais, mas sem as receitas que resultam do regular recebimento das quotas e da realização de atividades; ou a ausência dos momentos de encontro e convívio saudavelmente habituais, são alguns dos obstáculos que as nossas associações/coletividades enfrentam no presente.

    JOAQUIM OLIVEIRA
    JOAQUIM OLIVEIRA
    A Voz de Ermesinde (AVE): Desde março que o mundo está a braços com uma pandemia, que tem provocado um impacto tremendo em todos os setores da sociedade. O movimento associativo não tem sido exceção. Perguntamos-lhe pois que impacto tem tido a Covid-19 no tecido associativo concelhio?

    Joaquim Oliveira (JO): Em primeiro lugar gostaria de salientar que o movimento associativo do concelho de Valongo em relação à sua saúde, que é o principal, até agora não temos conhecimento de que haja nenhum dirigente que esteja infetado com Covid, o que para nós é muito importante. Quero dizer também que a mensagem que a associação tem passado é no sentido de que as coletividades procurem respeitar as leis em vigor, a distância social, o uso de máscara, etc., para que dentro dos possíveis possamos estar salvaguardados dessa epidemia que percorre o país. Isso para nós é fundamental. Em relação à situação financeira do movimento associativo penso que o concelho de Valongo será igual a todos os outros no país. Daí que o nosso movimento associativo no concelho esteja a sofrer uma grande quebra em termos económicos e essa situação tem muita importância para o nosso movimento associativo, dado que é um movimento popular, voluntário e benévolo. Logo, independentemente disto, o movimento associativo é uma fonte de receita para o próprio Orçamento de Estado, dado que este movimento contribui para o Orçamento de Estado em largos milhões de euros ao longo do ano, e estando na mesma a contribuir este ano não tem tido receitas que permitam continuar a fazê-lo, dadas as dificuldades. Tenho aliás números da nossa associação, que atestam que este ano já contribuímos para o Orçamento de Estado, em IRS que pagamos, 1120 euros. E não obtivemos qualquer resultado sobre isto. Nós pensamos que nesta parte aqui o governo deveria contribuir para as autarquias, para que estas pudessem contribuir para o movimento associativo com uma verba para que as coletividades pudessem fazer face às suas despesas mais prementes, como é o aluguer de salas, pagamento dos seguros dos carros, despesas com os carros, a luz, a água, tudo aquilo que pagam mensalmente e que atualmente não têm dinheiro para fazer esses pagamentos. Resumindo, esta pandemia tem tido um impacto muito negativo no movimento associativo e todos os dias nos chegam indicações das coletividades, umas anunciando que já não teriam mais atividade em termos futuros, porque logo no início da pandemia se viram forçadas a encerrar e agora provavelmente já não voltam a abrir as suas instalações...

    AVE: Exato, a pandemia paralisou, ou levou ao cancelamento, de inúmeras atividades que as associações tinham programado, ou era hábito levarem a cabo. Ou seja, de repente as coletividades viram as suas épocas afetadas. Que soluções pois têm encontrado para contornar este obstáculo? Como têm procurado sair desta situação?

    JO: Nós temos uma organização que é a Confederação Portuguesa das Coletividades de Cultura, Recreio e Desporto com quem trabalhamos em sintonia e por isso recebemos toda a informação e procuramos dentro do que é possível ir dando indiciações às nossas coletividades para tentarem de certa forma alterar um bocado a sua atividade normal no sentido de poderem fazer algo diferente que permita também ir mantendo alguma atividade. Isto para que o prejuízo não seja maior. Já agora, deixe-me dar uma indicação que acho que é importante, ou seja, neste momento o concelho de Valongo tem 130 coletividades, 72 das quais são nossas associadas, mas só para ver o grau de dificuldades só conseguimos receber de 23 coletividades, até este momento. Falta-nos receber de uma grande parte delas e provavelmente já não vamos receber este ano. Se fôssemos a fazer as contas ao fim do ano o nosso orçamento ficou abaixo 50 por cento em termos de receita.

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    AVE: Para além do aspeto financeiro há outros exemplos concretos de consequências desta pandemia no tecido associativo local?

    JO: Nós não queremos divulgar quais aquelas coletividades que já nos anunciaram que já não abririam mais, até porque o nosso objetivo é tentar que elas dêem a volta à situação, ou seja, dizer-lhes que “hoje pode estar mal, mas para o ano pode estar melhor”, e que os dirigentes dessas coletividades com a nossa ajuda podem reativar a atividade. E aproveito já para dizer que os motards de Campo, por exemplo, eram uma das coletividades cuja morte estava anunciada há 3 anos e a quem nós, já em tempos de pandemia, numas dificuldades tremendas, conseguimos arranjar uma direção que pegasse no motoclube e que o reabrisse, sendo que vão agora reiniciar a atividade que já não tinham há 3 anos. E este vai ser o nosso objetivo em termos futuros, ou seja, procurar que aquelas coletividades que já nos disseram que não têm condições para retomar as suas atividades procurem retomar essa mesma atividade, pois muitas estão neste momento sem atividade nenhuma. Aliás, fica mais barato reativar a atividade numa coletividade que já tem estatutos do que formar uma associação nova e quando nós vemos um grupo de pessoas interessadas em fazer algo de novo, nós, no conhecimento que temos das coletividades que estão inativas, procuramos que essas pessoas procurem reativar aquela atividade dentro de uma coletividade que já existe.

    AVE: A pandemia afastou mais as pessoas das coletividades? Quer sob o ponto de vista de associados, quer sob o ponto de vista do dirigismo, tendo em conta que este movimento vive muito do voluntariado dos seus dirigentes... Ou pelo contrário, veio dar mais união ao setor?

    JO: Nós não temos dúvidas nenhumas que é sempre nos momentos mais difíceis que o movimento associativo se reforça. Por isso, a nossa confederação lançou um cartaz dizendo que o movimento associativo faz falta em Portugal, e porquê? Porque nós sentimos que as pessoas se não saírem de casa ainda é pior, por isso, com todas as precauções, respeitando sempre a legislação em vigor nós aconselhamos a que as pessoas não fiquem em casa, que venham às coletividades, que continuem a fazer o pouco que possam fazer, mas façam alguma coisa para que as coletividades continuem a ser coletividades.

    JOAQUIM OLIVEIRA JUNTO DE UM DOS VICE-PRESIDENTES DA ASSOCIAÇÃO
    JOAQUIM OLIVEIRA JUNTO DE UM DOS VICE-PRESIDENTES DA ASSOCIAÇÃO
    AVE: Que outras preocupações ou problemas têm as associações locais nesta fase?

    JO: Eu penso que o grande problema das coletividades, o problema número um, é esta pandemia, aliás, é para as coletividades, é para o comércio, é para toda a gente em geral, isto é o que afeta realmente o país, as nossas coletividades, os nossos dirigentes, os associados das coletividades. Depois, já se sabe que antes da pandemia todo o movimento associativo no concelho de Valongo estava forte, tinha uma dinâmica muito grande, era reconhecido tanto a nível nacional como internacional, como é aliás o caso da nossa associação, que tem um projeto de jogos mundiais e que andamos (a mostrá-lo) nas escolas. Mesmo no principio deste ano, conseguimos ir a 10 escolas realizar os jogos tradicionais. E nós com esta nossa experiência, com esta dinâmica que queremos dar ao movimento associativo procuramos que cada nossa associada faça o mesmo nas suas sedes, isto é, não pare, que tente engendrar qualquer coisa para fazer. Dou mais uma vez o exemplo da Associação das Coletividades do Concelho de Valongo que no princípio de outubro propôs à Câmara que montasse uma exposição na Biblioteca Municipal de Valongo com todos os seus jogos, que são 100 jogos diferentes! Nós somos a única associação no país que tem um kit com 100 jogos tradicionais diferentes e propusemos à Câmara que aceitasse fazer um protocolo connosco no sentido de mantermos o nome da associação vivo e daí termos essa exposição na biblioteca com 100 jogos. E como temos muitos jogos, temos ainda expostos mais 20 jogos em Alfena e mais 10 em Ermesinde. Ao invés de ter tudo guardado no armazém temos exposto, porque há sempre uma ou outra pessoa que passa lá (nos locais onde estão expostos os jogos) e vê que a associação das coletividades está ali com os seus jogos tradicionais. E é esta mensagem que nós queremos passar a todo o nosso movimento associativo, e em todas as reuniões que vamos, tentamos transmitir que não nos podemos deixar intimidar por um vírus que não conhecemos, temos de fazer tudo por tudo para nos proteger mas temos de ir à luta, temos que nos reinventar e mostrar que estamos vivos, que estamos aqui para enfrentar o que vier.

    AVE: Têm sido encontradas medidas concretas de apoio, quer da parte do Poder Local, quer da parte do Poder Central para ajudar as coletividades a contornar as consequências causadas pela pandemia?

    JO: Diz-se que o governo aprovou 30 milhões de euros para serem distribuídos a nível nacional pelo movimento associativo. Que nós saibamos aqui a Valongo não chegou nada. Em reuniões que já tivemos com o presidente da Câmara Municipal de Valongo (CMV) e os seus vereadores expusemos que eles deveriam reivindicar junto do governo mais apoio para as coletividades do concelho, porque achamos que é uma obrigação, pois como já disse há bocado o movimento associativo não vive de subsídios, é um contribuinte positivo para o governo. Nós temos coletividades que têm 4 e 5 carros, pagam os seus impostos sobre os carros, gastam combustível, e as despesas de toda a manutenção, como seguros, têm despesas enormes, e por isso precisávamos que o governo reconhecesse a importância das coletividades que ao longo dos anos pagaram milhares e milhares de euros para o Estado e agora deveriam ser ajudadas. A nossa câmara disse “sim senhor”, desde que viesse dinheiro do governo, mas até este momento não temos informação de que a CMV tivesse recebido esse dinheiro e nós vamos continuar a insistir para ver se o governo passa das promessas aos atos e se realmente passa a entregar às câmaras mais algum dinheiro para apoio direto ao movimento associativo.

    AVE: Essa é a principal reivindicação do movimento associativo hoje em dia?

    JO: É evidente que o dinheiro nunca é prioridade para o movimento associativo, o movimento associativo sempre se pautou pela sua criatividade, pela realização de atividades. Agora, estamos muitíssimo limitados com toda esta situação, caso contrário nunca se vê o movimento associativo andar aí de chapéu na mão, porque o movimento associativo tem uma força muito grande e é capaz de criar ações, criar iniciativas, que possam rentabilizar dinheiro para superar as suas despesas.

    AVE: A obrigatoriedade de ficar em casa, do recolher obrigatório ao fim de semana, ainda veio agravar mais a situação, certo? Tendo em conta que é ao fim de semana que as pessoas se juntam mais no movimento associativo...

    JO: Não tenho dúvidas nenhumas. É evidente que é aos fins-de-semana que as pessoas têm mais tempo livre e que passavam bocados do seu tempo nas sedes das coletividades, naquelas que têm bufetes para atendimento e convívio dos seus associados. Aos sábados de manhã aquelas pessoas que têm tempo livre aproveitavam para fazer alguma coisa em casa e da parte da tarde, ou mais à noite, e aos domingos é que iam para as suas sedes. Daí que estas restrições reduziram ainda mais a possibilidade de as coletividades refazerem algum dinheiro com os convívios que faziam nas suas sedes. É evidente que nesta situação, estando restritos, aos sábados e domingos de tarde dificulta muito mais a angariação de qualquer tipo de fundo.

    AVE: Em suma como é que as associações se têm reinventado nestes tempos conturbados para todos nós?

    JO: Eu espero que esta situação não se prolongue por muito tempo, porque é um facto que as dificuldades cada vez são maiores nas coletividades. O reinventar de alguma coisa não dura muito tempo, não há muito para reinventar, ainda mais se o espaço de tempo for muito longo. Nós tentamos fazer atividades, mas se em meia dúzia de meses conseguirmos fazer uma iniciativa se tivermos mais meia dúzia de meses pela frente o que é que vamos fazer a seguir? É muito difícil. O que esperamos é que esta pandemia acabe o mais rápido possível para que o movimento associativo no próximo ano possa pôr a andar a sua atividade, pôr Portugal a mexer. A nossa grande aposta é que 2021 seja o ano de regresso à normalidade da atividade associativa.

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    AVE: À parte da pandemia, quais são as principais dificuldades e ao mesmo tempo desafios e objetivos que o movimento associativo concelhio tem pela frente?

    JO: O movimento associativo e as autarquias são um parceiro fundamental e achamos que as autarquias têm de ser o parceiro privilegiado do movimento associativo. Achamos que são elas que estão mais perto das coletividades, são elas que têm de conhecer a realidade do movimento associativo do seu concelho e são elas que também têm de reivindicar do governo apoios para melhor sustentar o seu movimento associativo. A nossa Câmara em 2019 fez grandes eventos com o apoio do movimento associativo em todo o concelho, onde nós participámos ativamente em todos eles, e isso é na nossa opinião o que faz crescer os concelhos. Tem que haver da própria autarquia uma grande força de entusiasmo para com o governo, no sentido de pressionar o governo a dar-lhe verbas para que as autarquias possam também fazer levantar o seu movimento associativo.

    AVE: Disse anteriormente que o Concelho de Valongo tem 130 coletividades/associações. Em que áreas atuam?

    JO: Sim, 130 coletividades em todo o concelho e vamos tentar que daqui a dois anos a Associação das Coletividades do Concelho de Valongo possa representar a totalidade das coletividades do concelho. Temos procurado que no nosso concelho haja um bocado de tudo, podemos ir para qualquer sítio do país e fazer um espetáculo de variedades com o nosso movimento associativo, quer sejam ranchos, programas de fados, canções populares, dança, ou seja, nós temos um bocado de tudo no concelho e por isso é que a nossa confederação sempre que faz qualquer iniciativa consulta Valongo para ver se tem alguma coletividade disponível para ir participar nessa atividade e temos tido sempre representações em eventos que são feitos pela Confederação Portuguesa das Coletividades quer no país quer no estrangeiro.

    (...)

    leia esta entrevista na íntegra na edição impressa.

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    Por: MB

     

     

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