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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 31-07-2020

    SECÇÃO: Crónicas


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    “O velho paquete Colonial da Companhia Nacional de Navegação (CNN) naufragou na costa da Escócia”

    Uma censura velada parecia depreender-se da notícia inserida numa das páginas interiores de “O Comércio do Porto” que o meu pai assinava desde que chegámos do Brasil. Pode parecer estranho que ele, homem do campo, com a instrução primária, até há pouco emigrante, tivesse apetência pela informação e pela leitura em geral mas essa era a verdade. Nas longas noites de inverno era vê-lo puxar do jornal ou de qualquer dos seus amados livros(1) e concitar a nossa atenção para uma notícia ou passagem, no seu entender, mais interessante. Foi num desses serões que a notícia em epígrafe chegou ao nosso conhecimento. Eu tinha nove anos, frequentava a terceira classe primária já quase havia esquecido a viagem marítima que nos tinha trazido do Rio de Janeiro. O serviço dos Correios era distribuído naquela “corda” pela camioneta de passageiros e entregue na Casa do Cantoneiro(2) sensivelmente a meio do percurso entre Bragança e Vinhais. Dali, o Sr. Francisco, cantoneiro aposentado, calcorreava a pé, ida e volta, a distância entre várias aldeias em que se incluía aquela em que residíamos. Hoje parece-nos inverosímil tão grande demora mas os tempos eram outros, este país pobre e tacanha a mentalidade dos governantes.

    A censura a que, acima, me referi compreendo-a hoje e compreendeu-a o meu pai que, talvez sem a necessária avaliação do enorme risco a que expunha toda a família, embarcou naquele “cangalho” com a minha mãe, comigo um miúdo de quatro anos, e com a minha irmã de quatro meses, em 1944 ainda no decurso da Segunda Guerra Mundial. Foi um impulso, bem-intencionado assim o creio, mas que podia ter custado as vidas de todos. Visto assim à distância, não se compreende bem como teria convencido a nossa mãe, que sempre revelou muito bom senso, a aceitar aquela decisão. Nesse tempo, o meu pai trabalhava como intendente numa empresa de transportes do Rio de Janeiro auferia um belo vencimento e dispunha já de alguns táxis a rodas por sua conta.

    Talvez a urgência de regressar fosse determinada pelo facto de os meus dois avós terem falecido nos anos anteriores, um em 1942, o outro em 1943. Os herdeiros fizeram as partilhas escolhendo, entre si, naturalmente, as propriedades ou “sortes” (3) que mais lhes interessavam. No pensamento do meu pai, era mais urgente vir tomar posse do que lhe coubera em herança e dedicar-se ao cultivo das terras do que permanecer na emigração por mais cor-de-rosa que esta se apresentasse. O transmontano tem com a terra uma relação quase diria umbilical: cultiva-a com desvelo de mãe, rega-a com o seu suor, sofre por si e por ela com as inclemências do tempo, liberta-a das ervas daninhas e fertiliza-a com o estrume dos animais que cria e cuida. Terras e lameiros passavam de geração em geração. O meu pai chegou, tomou conta da sua herança, adquiriu mais terras por compra ou arrendamento e iniciou-se no cultivo de «batata certificada» (4) que, nesse período, fazia furor na Europa. O tubérculo era cultivado na generalidade dos países europeus e constituía a base da alimentação de homens e animais domésticos nas terras do Nordeste Transmontano.

    (...)

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    1- Possuía livros de Machado de Assis, de José de Alencar e de escritores estrangeiros em voga como: PerezEscrich: “O Manuscrito Materno» e “O Mártir do Gólgota») e (Manuscrito Materno), Alexandre Dumas (“O Conde de Monte Cristo”) e Victor Hugo (“Os Miseráveis”)

    2- “Casa do cantoneiro” – A conservação das estradas era da competência dos cantoneiros, funcionários do Estado encarregados de limpar as bermas numa determinada área, efetuar pequenos arranjos e de comunicar com a entidade competente. O Estado mandou construir um tipo de casas para residência sua e da família.

    3- “Sortes” – frações de uma propriedade dividida entre vários herdeiros.

    4- «Batata Certificada» -Batata de qualidade garantida segundo normas internacionais com produção sujeita a normas de acompanhamento ensilagem e mercado.

    Por: Nuno Afonso

     

     

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