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    Arquivo: Edição de 30-06-2020

    SECÇÃO: Local


    GENTE DA NOSSA TERRA

    Manuel Joaquim Moreira Moutinho - Um ilustre ermesindense

    No mês em que o Eng.º Manuel Joaquim Moreira Moutinho concluiu mais uma “primavera” e se completam 45 anos sobre a data em que tomou posse como deputado constituinte, resolvemos dá-lo a conhecer um pouco melhor aos nossos leitores certos de que, no final, concluirão, connosco, tratar-se de um ermesindense distinto. Para além do seu envolvimento associativo em Ermesinde merece grande destaque o seu empenhamento político, tanto a nível local, como a nível nacional.

    ENG. MANUEL JOAQUIM MOREIRA MOUTINHO
    ENG. MANUEL JOAQUIM MOREIRA MOUTINHO
    RESUMO BIOGRÁFICO

    Manuel Joaquim Moreira Moutinho nasceu no dia 12 de junho de 1942, no Hospital S.to António (única maternidade existente), e viveu quase sempre em Ermesinde (até aos 12, no lugar do Souto; dos 12 aos 16 na Travagem; e depois na Vila Primavera, junto à Rua 5 de Outubro). Só se ausentou de Ermesinde, entre os 6 e 9 anos de idade, altura em que seus pais emigraram para a Venezuela, e entre 1968 e 1970 para cumprir o serviço militar obrigatório, em Moçambique.

    Fez a instrução primária no ex-Externato de S. Lourenço (atual Colégio de Santa Joana), concluindo, mais tarde, o curso liceal no Colégio de Ermesinde. É Bacharel em Engenharia Civil pelo ex-Instituto Industrial do Porto (atual Instituto Superior de Engenharia do Porto), desde 1966, tendo concluído, no ano letivo 2000/2001, a Licenciatura em Engenharia e Gestão Industrial, na Universidade Lusíada.

    O Eng.º Moutinho é uma figura particularmente relevante no campo desportivo e social. Desde o seu tempo de juventude, é associado do Ermesinde Sport Clube, Bombeiros Voluntários de Ermesinde, Centro Social de Ermesinde e Clube de Propaganda da Natação.

    Com esta última coletividade, quase da sua idade, habitou-se a conviver desde pequeno. Aprendeu a nadar, na “Levada do Panelas” ou “Prancha” do Rio Leça e foi atleta juvenil de natação. Em 1961 e 1962 foi Chefe da Secção de Campismo. Integrou a Direção, como Vogal, em 1963 e como 1.º Secretário, em 1964, até ter sido demitido, em virtude de ter sido preso pela PIDE. De 1970 a 1987, serviu os Corpos Gerentes do CPN, ora como Presidente da Direção, ora como Presidente da Assembleia Geral, tendo sido o grande impulsionador das radicais alterações que levaram o CPN à sua grandeza atual. Neste seu desempenho contou com a colaboração de Manuel Joaquim Fernandes dos Santos (mais conhecido por “Santos Rasteiro”), passando o CPN a ser proprietário do terreno de Sonhos e dos terrenos anexos ao Pavilhão Gimnodesportivo de Ermesinde, onde foi construído o atual Complexo Desportivo.

    PARQUE DOS CARABOBOS EM CARACAS (VENEZUELA) EM 1949, COM AS IRMÃS
    PARQUE DOS CARABOBOS EM CARACAS (VENEZUELA) EM 1949, COM AS IRMÃS
    Entre 1980 e 1994 fez parte dos Corpos Gerentes do Centro Social de Ermesinde, servindo esta importante instituição de solidariedade social como membro da Mesa da Assembleia Geral, de que se tornaria Presidente a partir de 1985. Nos anos de 1995 e 1996 colaborou no jornal “A Voz de Ermesinde”, tendo publicado alguns artigos de conteúdo bastante interessante.

    Ainda no campo associativo, o Eng.º Moutinho foi um dos sócios fundadores do Centro de Dia da Casa do Povo de Ermesinde, que tem servido, desempenhando funções nos seus Corpos Gerentes. Atualmente é o Presidente da Assembleia Geral.

    A sua atividade político-partidária é também proeminente. Aos 21 anos era dirigente do Movimento Estudantil “Prol Liberdade”, o que lhe custou 7 meses de prisão na PIDE, seguida de julgamento no Tribunal Plenário, tendo sido absolvido dos “crimes” de que fora acusado pela polícia política do regime ditatorial. Logo a seguir ao “25 de Abril” foi fundador e o principal impulsionador do PPD (Partido Popular Democrático – atual PSD) no Concelho de Valongo. Como militante do PPD/PSD desempenhou os seguintes cargos: Presidente da Comissão Política Concelhia da Secção de Valongo (1974-1986); Deputado à Assembleia Constituinte (1975-1976); Membro da 1.ª Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Valongo, nomeada a seguir ao “25 de Abril” (1974-1975); Deputado à Assembleia da República (1976-1979); Vereador da Câmara Municipal de Valongo (1976-1979 e 1983-1985 – foi, então, que propôs a alteração do dia de feriado municipal, que era a 17 de agosto, dia de S. Mamede, para o dia de S. João, 24 de junho, alteração que seria aprovada pela maioria da vereação); Membro do Conselho Nacional do PPD (1977-1978); Membro da Comissão Política Distrital (1979-1980); Presidente da Assembleia Municipal do Concelho de Valongo (1980-1982); e Membro da Assembleia Municipal do Concelho de Valongo.»

    Em 2015, presidiu à Comissão Organizadora das Comemorações do 60.º Aniversário do Centro Social de Ermesinde de que faziam parte também a Dr.ª Helena Sampaio e o Dr. Manuel Augusto Dias. E em 2016, por convite do Presidente da Câmara Municipal de Valongo, integrou a Comissão de Honra das comemorações dos 180 anos da criação do concelho.

    ENTREVISTA

    Depois desta breve síntese biográfica quisemos conhecer um pouco melhor algumas fases da vida do Eng.º Manuel Joaquim Moutinho, que, pronta e simpaticamente, acedeu ao nosso pedido. Aí ficam, pois, as perguntas que lhe colocámos e as respostas que obtivemos.

    «Fui preso, pelas 5 horas da manhã em minha casa, acusado de atividades subversivas»

    NOVEMBRO DE 1968 EM MARRUPA, NIASSA CENTRAL, MOÇAMBIQUE (GUERRA COLONIAL)
    NOVEMBRO DE 1968 EM MARRUPA, NIASSA CENTRAL, MOÇAMBIQUE (GUERRA COLONIAL)
    A Voz de Ermesinde (AVE) – Vimos acima que no período do Estado Novo, ainda no tempo em que era Presidente do Conselho de Ministros, António Oliveira Salazar, chegou a estar preso. Quer contar-nos as circunstâncias e motivos por que foi preso pela PIDE? Como foram os 7 meses em que esteve preso?

    Eng.º Manuel Moutinho (EMM) – Fui preso pelas 5 horas da manhã em minha casa, acusado de atividades subversivas relacionadas com o Movimento Estudantil “Prol Liberdade”, reunindo em grupos, distribuindo panfletos e tendo transportado no automóvel (do meu pai) um elemento clandestino do Partido Comunista procurado pela polícia e, consequente acusação de eu próprio pertencer ao Partido Comunista português.

    A única verdade é a que está relacionada com a “Prol Liberdade”, na defesa da liberdade e democracia e denunciando a guerra colonial, que se tinha iniciado em 1961 em Angola.

    Estive encarcerado 208 dias, nas instalações da PIDE, ao lado do cemitério Prado do Repouso, na rua do Heroísmo, onde hoje é o Museu Militar do Porto.

    Julgado no Tribunal Plenário do Porto (S. João Novo), fui absolvido e devolvido à liberdade no dia 23 de dezembro de 1964.

    AVE – Como antigo colaborador e como leitor do jornal “A Voz de Ermesinde”, que opinião tem acerca do único jornal que no concelho de Valongo se vem publicando, vai já em 62 anos?

    EMM – A Voz de Ermesinde, antecedida pela “Sopa dos Pobres” nos anos 50, que eu e outros alunos do Patronato S. Lourenço vendíamos “porta a porta”, para angariar fundos para a respetiva “sopa dos pobres”, que funcionava num armazém na rua do Passal, perto da Rua Miguel Bombarda, onde era fornecida uma sopa e um pão a quem lá aparecia. E eram muitos.

    A Voz de Ermesinde é um jornal de referência, nomeadamente para Ermesinde e faço votos que as novas gerações não o deixem morrer e que pelo contrário participem e contribuam para o seu engrandecimento. É fundamental.

    AVE – De 1968 a 1970 cumpriu o serviço militar obrigatório. Onde? Chegou a ser mobilizado para a Guerra Colonial? Como era vista esta Guerra nesse tempo?

    EMM – A Guerra Colonial que durou 13 anos foi uma consequência do regime autoritário e ditatorial existente, sem liberdade e democracia, que só terminou com o 25 de Abril de 1974.

    Cumpri o serviço militar obrigatório entre 1966 e 1970 (44 meses). Passei por Mafra (COM), Tancos (Escola Prática de Engenharia), Lisboa (Regimento Engenharia n.º 1), Lamego (curso de Rangers) e finalmente Moçambique.

    Embarquei no navio NIASSA, a 4 de janeiro de 1968, integrado na Companhia de Engenharia 2349 que foi instalada em Marrupa, no Niassa Central a cerca de 200 Km do rio Rovuma, no norte de Moçambique. Regressei a Lisboa no dia 21 de março de 1970.

    POR DELIBERAÇÃO DO PLENÁRIO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA, DE 31 DE MARÇO DE 2016, FOI-LHE ATRIBUÍDO O TÍTULO DE DEPUTADO HONORÁRIO
    POR DELIBERAÇÃO DO PLENÁRIO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA, DE 31 DE MARÇO DE 2016, FOI-LHE ATRIBUÍDO O TÍTULO DE DEPUTADO HONORÁRIO
    AVE – Tinha pouco mais de 30 anos, quando se deu o “25 de Abril”. Onde se encontrava quando se deu a Revolução? Recorde-nos, se possível, as emoções desse dia.

    EMM – O 25 de Abril deu-se a uma 5.ª feira. Nessa manhã comecei por achar estranho a ausência de notícias (costumava ouvir todos os dias o noticiário das 8,30 na Rádio Renascença).

    Quando conduzia pela Av. Marginal do rio Douro entre o Freixo e a ponte D. Luís, a caminho do meu trabalho (Sogrape, Avintes), deparei junto à ponte com um Tanque M-47 e muitos soldados armados com G3. De seguida ouvi na rádio a mensagem do “Movimento das Forças Armadas” e consequentemente fiquei inteirado do sucedido.

    Quando cheguei à Sogrape em Avintes, a mesma decidiu fechar a sua atividade nesse dia, mandando para casa os 800 trabalhadores, sendo a maioria mulheres (engarrafadeiras).

    No meu regresso a casa, passei pelas instalações da PIDE, onde 10 anos antes estive encarcerado 7 meses, para assistir com prazer à expulsão dos carrascos.

    Para mim, o 25 de Abril foi um dia importante: acabou com a estúpida guerra colonial, foi implementada a liberdade e deu origem à concretização da democracia, com as eleições para a Assembleia Constituinte a 25 de Abril de 1975.

    AVE – E como viveram o Sr., em particular, e os ermesindenses, em geral, o período do PREC?

    EMM – Em Ermesinde em particular e, de um modo geral, no concelho de Valongo, juntamente com outros companheiros, demos vida ao movimento cívico e democrático, com diversas reuniões e palestras, tendo como consequência, em outubro 1974 a implementação do PPD (mais tarde PSD) a nível concelhio.

    Em 1976 deu-se início à construção do edifício, onde foi instalada a sede concelhia do PSD, no mesmo local onde está atualmente, em terreno cedido por Manuel Joaquim Fernandes dos Santos.

    O PREC em Ermesinde foi vivido com muita intensidade e às vezes com alguns exageros, pelos diversos ideais políticos e instalação dos respetivos partidos, que além do PSD foram instaladas sedes do PS, UDP, CDS, MES e PCP, dando origem a atividade intensa através de comícios, sessões de esclarecimento, colagem de cartazes e distribuição de panfletos através de ações de rua.

    EM 2015, 40 ANOS DEPOIS, 75 DEPUTADOS CONSTITUINTES, VOLTARAM À ASSEMBLEIA (ENTRE ELES ESTAVA DO ENG.º MANUEL MOUTINHO, QUE APARECE ASSINALADO NA FOTO)
    EM 2015, 40 ANOS DEPOIS, 75 DEPUTADOS CONSTITUINTES, VOLTARAM À ASSEMBLEIA (ENTRE ELES ESTAVA DO ENG.º MANUEL MOUTINHO, QUE APARECE ASSINALADO NA FOTO)
    AVE – Como político ativo, foi membro da Comissão Administrativa da Câmara de Valongo, logo após o 25 de Abril, foi Deputado Constituinte (os trabalhos iniciaram-se em 2 de junho de 1975, há 45 anos, tinha ainda 32 anos), foi deputado, vereador da CMV e Presidente e membro da AMV. Quer partilhar com os leitores de “A Voz de Ermesinde” as memórias que guarda do exercício destes vários cargos, naquele tempo?

    EMM – Desempenhei com entusiasmo todos os cargos, quer a nível nacional, quer a nível concelhio.

    Há um acontecimento que me marcou profundamente: o cerco à Assembleia Constituinte, por forças ligadas ao Partido Comunista e à CGTP, no dia 13 de novembro de 1975.

    À saída, após 24 horas de sequestro, com a libertação através das Forças Armadas, os deputados democratas (com exceção do PCP) foram insultados e cuspidos pelos elementos cercantes. Durante as 24 horas que durou o cerco, houve jejum completo para os deputados, com exceção do grupo parlamentar do PCP que foram abastecidos pelos cercantes com frango assado!

    AVE – Mas o Eng.º Moutinho foi e é um homem que serviu muitas das associações da sua terra, continuando no momento presente a presidir à Mesa da Assembleia Geral da Casa do Povo de Ermesinde. Pode falar-nos, por favor, das várias coletividades ermesindenses (e, eventualmente, de outras) que serviu como dirigente?

    EMM – Das diversas associações e coletividades por onde passei e prestei a minha colaboração, as mais marcantes foram o Clube de Propaganda da Natação (CPN) o Centro Social de Ermesinde e a Casa do Povo de Ermesinde.

    AVE – Para terminar quer deixar alguma mensagem aos ermesindenses…

    EMM – Às novas gerações, com civismo e entusiasmo, desejo e espero que lutem por uma vida melhor.

    Por: Manuel Augusto Dias

     

     

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