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    Arquivo: Edição de 30-06-2020

    SECÇÃO: Destaque


    DOSSIÊ “ENSINO À DISTÂNCIA: DESAFIOS E DIFICULDADES”

    «Aquilo que mais nos separou pode ser visto como aquilo que mais nos uniu!»

    Damos neste número seguimento ao trabalho iniciado na edição de maio referente ao Ensino à Distância que desde março passado passou a fazer parte da vida de milhares de alunos, professores (e encarregados de educação) devido à pandemia de Covid-19. E depois de na edição passada termos ouvido acerca deste tema algumas associações de pais, alunos e o Agrupamento de Escolas de S. Lourenço, chegou a vez de auscultarmos o Agrupamento de Escolas de Ermesinde (AEE) relativamente à forma como está a vivenciar estes mais de três meses em que as aulas presenciais deram lugar às aulas à distância para a maior parte dos anos de escolaridade. E se algumas destas questões haviam já sido colocadas ao outro agrupamento de escolas da cidade, importando agora colocar essas mesmas questões ao AEE, acresce ainda nesta entrevista de no mês de maio ter acontecido o regresso às aulas presenciais por parte dos alunos dos 11.º e 12.º anos, sendo que a estes juntamos o também regresso (físico), no mês de junho, dos alunos do pré-escolar aos estabelecimentos de ensino “tutelados” pelo AEE, e nesse sentido quisemos saber como foi, ou está a ser, este “retorno físico” à escola. E já agora, projetar o novo ano letivo que se avizinha ainda com... muitas incertezas.

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    A Voz de Ermesinde (AVE): O Ministério da Educação exigiu que os Agrupamentos criassem um modelo de Ensino à Distância que conseguisse dar resposta à interrupção do modelo de ensino presencial, em virtude da pandemia. Ora, desde 16 de março (altura em que o Governo decretou o fecho das escolas) até aos dias de hoje, como é que o vosso agrupamento (e todas as escolas que a ele estão ligadas) se adaptou a esta nova realidade?

    Agrupamento de Escolas de Ermesinde (AEE): De um momento para o outro, silenciosamente e invisivelmente, algo mudou a vida de todos. Os portões das escolas fecharam, o vazio e o silêncio ocuparam o espaço. Apesar da urgência do momento em que toda a prática profissional mudou, os alunos em casa, sem a presença física dos outros, os professores sem salas de aula, todos sem olhares cruzados, sem expressões faciais, sem…sem… E todos com medo do desconhecido. E todos com força e coragem para continuar, um continuar diferente. Todos longe, mas todos juntos.

    AVE: Nesta “época” de ensino à distância o recurso aos meios eletrónicos e digitais foi essencial para garantir a continuidade do ensino. Como é que ocorreu, por parte de professores e de alunos do Agrupamento de Escolas de Ermesinde, a adaptação a esta realidade, no desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem? (tendo em consideração que, em muitos casos, não deve ter sido fácil lidar com essas ferramentas tecnológicas para chegar aos alunos).

    AEE: Nos últimos dias de aulas de um ano letivo normal, cada professor recolheu os contactos dos seus alunos, nomeadamente e-mails, combinaram-se formas de comunicação à distância, criaram-se grupos em diversas plataformas (Zoom, Discord, Escola Virtual, WhatsApp…) assegurando que a comunicação não seria quebrada e que seria possível, para além do ensino/aprendizagem, sabermos uns dos outros, apoiarmo-nos à distância, partilharmos o fruto amargo do desconhecido. Posteriormente, criou-se um e-mail institucional para todos os alunos do Agrupamento (os dos professores, assistentes operacionais e assistentes técnicos já existiam), possibilitando assim a centralização do E@distância no Agrupamento na plataforma Teams. Foi necessário elaborar tutoriais (feitos por uma equipa criada para Apoio ao Ensino à Distância) para que todos pudessem usar mais facilmente a plataforma e dar conta das suas potencialidades. No início de todo este processo a dificuldade temida era a falta de equipamento informático por parte dos alunos que constituiria uma barreira a esta estratégia e um fator de agudização das diferenças e do isolamento. Imediatamente se elaborou um inquérito para Encarregados de Educação no sentido de se apurarem as necessidades. Os Diretores de Turma fizeram a ponte com as famílias e com os restantes professores. O Agrupamento dispunha de 15 PC’s portáteis mais antigos. Pediu ajuda aos professores de informática que tiveram a seu cargo a preparação desses computadores para que pudessem ser usados por alunos. A Associação de Pais da Escola EB2/3 D. António Ferreira Gomes disponibilizou três computadores portáteis, a empresa Pinto & Cruz ofereceu um e a Câmara Municipal de Valongo com o projeto de Combate à Desigualdade Digital forneceu, para empréstimo, um número de equipamento informático novo (computadores portáteis, tablets, hotspots) de acordo com as necessidades aferidas nos inquéritos feitos. A partir daqui e mediante critérios estabelecidos de prioridades, organizou-se a entrega deste equipamento informático aos alunos. A Escola Segura permitiu estabelecer o contacto junto das famílias com as quais não tinha sido possível nenhuma forma de comunicação. Houve ainda alguns casos em que o E@distância teve de ser feito em formato papel.

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    AVE: No seguimento desta questão existiram eventuais dificuldades/problemas que encontraram para desenvolver a vossa missão de ensinar neste contexto de ensino à distância?

    AEE: Tal como numa sala de aula real, surgem, por vezes, problemas de indisciplina (um aluno que desliga o micro a outro aluno ou até à professora, ou que se esquece que tem o micro ligado e se ouve o que não deveria ter sido dito, ou o aluno que entra na aula, marca a sua presença e se ausenta,…). Os problemas disciplinares não são um apanágio deste tipo de ensino.

    AVE: Se até aqui andámos a lutar para que os mais novos se mantivessem afastados do uso intensivo destes dispositivos, agora é a própria escola a exigir que olhem para eles, mais tempo do que era habitual, para poderem continuar a aprender. Vocês, enquanto “escola” conseguiram, ao longo destes mais de três meses, isso dos vossos alunos, ou seja, que eles olhem para estes dispositivos da mesma forma como se estivessem numa sala de aula presencial, e desta forma estejam atentos, cumpram o seu papel de alunos?

    AEE: Não sendo o E@distância evidentemente o método desejado, foi e é o método possível neste contexto e demonstrou ter havido uma boa e surpreendente maleabilidade adaptativa por parte de todos os envolvidos. Na ótica de que, por vezes, os obstáculos têm o seu lado de se transformarem em oportunidades, poderá também servir para que muitos alunos vejam nestas ferramentas tecnológicas uma outra utilidade que não a meramente lúdica. A sala de aula virtual é muito diferente da sala de aula real que não pode, nem poderá ser nunca substituída, mas revelou-se exequível na medida do possível. Não obstante o não haver a comunhão física de um espaço, os olhares não se tocarem, ninguém está só.

    AVE: Como têm acompanhado os casos dos alunos com mais dificuldades e que no ensino à distância possam agravar ainda mais essas dificuldades?

    AEE: Coloca-se ainda a questão das desigualdades sociais. À escola cabe o papel de, ao invés de ser um agente reprodutor das desigualdades sociais, ser um meio de criar oportunidades que as atenuem. Não se trata de fazer ou dar igual, mas sim de fazer e dar diferente para que no fim se possa tornar igual. Nesta linha de ideias, o trabalho desenvolvido à distância é uma continuidade do que era feito em presença. Tiveram e continuam a ter uma função importante os SPO (Serviços de Psicologia e Orientação) e a equipa EMAEI no acompanhamento e deteção de alunos que revelam mais dificuldades/fragilidades e respetivas famílias e que necessitam de uma atenção e respostas individualizadas para além do que é feito pelos seus próprios professores. A equipa das Bibliotecas Escolares do Agrupamento criou um centro de recursos, disponibilizou uma série de materiais e links para leituras on-line. A pandemia não teve só consequências ao nível escolar, mas, como sabemos, afetou todos as áreas da sociedade. Havia alunos que beneficiavam já do apoio da Ação Social Escolar, usufruindo, por exemplo, das refeições escolares. Tínhamos a noção que poderiam, entretanto, ter havido alterações económicas noutras famílias. Mais uma vez, os Diretores de Turma/Professores Titulares/Educadores contactaram todos os Encarregados de Educação das suas turmas para se identificarem as necessidades, apresentando esta hipótese de terem acesso à refeição do almoço para os seus educandos, em regime de takeaway. Assim, a DGEstE forneceu as refeições aos alunos dos 2.º, 3.ºs ciclos e secundário, de 2.ª a 6.ª feira, e a Câmara Municipal de Valongo aos alunos da educação pré-escolar e do 1.º ciclo, de 2.ª a 6.ª, e aos alunos de todos os ciclos de ensino aos feriados, sábados e domingos. Esta recolha de refeições escolares foi sempre feita na escola sede.

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    AVE: E como tem sido a interação com os encarregados de educação neste sistema de ensino à distância? Notam que também os pais estão a ter alguma dificuldade, ou não, para, estando em casa, acompanhar os filhos nesta tarefa escolar? Tendo em conta que também eles estão, ou estiveram, em casa, ou em teletrabalho, ou em lay-off, e como tal têm de desempenhar quase dois papéis em simultâneo: o de emprego e o de professor. E muitas vezes, a carga de trabalho que os professores enviam para os alunos (1.º ciclo, por exemplo) dificulta ainda mais o papel do encarregado de educação. Isto porque, nunca como agora, os pais foram chamados a intervir de forma tão direta na educação dos filhos, mas com a agravante de que muitos deles tiveram de trazer o trabalho para dentro de casa. Sentem isso?

    AEE: Os Diretores de Turma têm mantido sempre e regularmente o contacto com os Encarregados de Educação, só que exclusivamente de forma não presencial. Os pais, sobretudo, dos alunos mais novos, tiveram a oportunidade de se envolverem mais diretamente no acompanhamento das aprendizagens dos seus educandos mesmo que, claro, isso represente um acréscimo de trabalho. Houve um esforço na decisão e elaboração dos horários das aulas síncronas e assíncronas e um aconselhamento aos professores do Agrupamento no sentido de se chegar a uma justa medida que não representasse uma sobrecarga de trabalho para alunos e famílias.

    AVE: E a telescola, que tem passado na RTP Memória, na opinião do agrupamento, de toda a comunidade escolar, professores, alunos, pais, tem sido uma boa ferramenta de apoio, um bom complemento aos programas de ensino, ou nem por isso, e o mais importante é mesmo o trabalho e as aulas virtuais (síncronas) que vão sendo ministradas pelos professores das vossas escolas aos respetivos alunos?

    AEE: Também se teve em conta a libertação de espaço para que os alunos possam assistir à telescola que constitui um complemento de aprendizagens e que foi também, sobretudo no início, uma alternativa para aqueles que não tinham acesso às aulas síncronas.

    AVE: Entretanto houve um momento de avaliação, na interrupção letiva da Páscoa. Como correram as reuniões dos conselhos de turma, pelo método de videoconferência? Os alunos não terão sido prejudicados? E como é feita a avaliação final, tendo em consideração que desde 16 de março não houve mais nenhuma aula presencial para os alunos de todo o ensino básico?

    AEE: No final do 2º período, as reuniões de avaliação fizeram-se via Teams, cumprindo-se rigorosamente todos os princípios subjacentes à avaliação, e o balanço é positivo.

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    AVE: No dia 18 de maio deu-se o regresso às aulas presenciais para os alunos do 11.º e 12.º ano. Como foi preparado este regresso e acima de tudo como correu, ou está a correr (sob o ponto de vista da escola e dos alunos, e já agora quantos alunos no total regressaram às aulas presenciais?) Em suma, como a vossa comunidade escolar (alunos professores, funcionários) se adaptou a esta nova normalidade, digamos assim, e se houve algum receio por parte de todos neste regresso devido ao “medo” da pandemia?

    AEE: No dia 18 de maio, recomeçaram as aulas presenciais, embora para um público reduzido. Este retorno obrigou a toda uma preparação prévia a vários níveis. Foi necessário reformular o Plano de Contingência Interno do Agrupamento e elaborar um Plano de Higienização, bem como apetrechar a escola de material de limpeza e de desinfeção específico, de equipamento de proteção individual, criar e assinalar circuitos de circulação no espaço escolar de forma a não haver cruzamento de pessoas no acesso e na saída dos blocos. Foi também necessário efetuar o trabalho de limpeza e desinfeção dos espaços, proporcionar formação aos Assistentes Operacionais (da iniciativa do MEC e que foi feita por membros do exército), dividir as turmas, fazer mais uma vez horários, tudo pensado para que haja o menor número de alunos em simultâneo na escola e garantindo ainda que cada grupo fica sempre na mesma sala e que as mesas não são ocupadas por nenhum outro aluno, diminuindo desta forma o risco de contágio. Foram cerca de 400 alunos dos 11.º e 12.ºs anos das disciplinas sujeitas a exame nacional que regressaram à escola, nunca estando mais de 167 no mesmo turno. Se no início se poderia ter sentido um receio e ansiedade naturais, neste momento, pensamos que todos estão mais tranquilos e encaram esta presença física na escola com a naturalidade possível neste novo desenho da realidade.

    (...)

    leia esta entrevista na íntegra na edição impressa.

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    Nota (2): Esta entrevista foi realizada em meados de junho, antes do final das aulas, que aconteceu no dia 26.

     

     

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