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    Arquivo: Edição de 31-05-2020

    SECÇÃO: Destaque


    DOSSIÊ “ENSINO À DISTÂNCIA: DESAFIOS E DIFICULDADES”

    Escola em casa: uma nova realidade repleta de dificuldades e desafios para os pais

    16 de março de 2020 é porventura uma data que ficará para a História do ensino em Portugal. Devido à pandemia de Covid-19, o Governo procedeu então ao encerramento de creches, escolas e universidades de todo o país, como forma de travar a propagação da doença. Mais de três mil escolas foram forçadas a encerrar/suspender as suas atividades letivas e cerca de dois milhões de crianças e jovens passaram a ter as suas aulas dadas à distância. Este cenário trouxe uma nova realidade desde então para professores, alunos e pais. Uma realidade para a qual nenhum destes “três grupos” estava habituada e muito menos preparada. Professores, alunos e pais não tiveram sequer tempo de se adaptar - tal não foi possível face à rapidez com que o novo coronavírus se propagou - a uma nova forma de ensino. O ensino à distância. As escolas ficaram vazias, e as salas de aula passaram a ser em casa. As aulas passaram a ser dadas por plataformas de ‘e-learning’ e aplicações de vídeochamada; os trabalhos de casa passaram a ser enviados por email - ou até por CTT - e a ser feitos em casa e posteriormente colocados noutras plataformas digitais de que ninguém nunca tinha ouvido falar e/ou manusear, e de um dia para o outro todos tiveram de aprender a fazê-lo.

    Foi um desafio a que todos tiveram de se adaptar rapidamente. Um desafio stressante, complicado, para muitos. Os pais foram, quiçá, a parte deste “triângulo” que mais dificuldade teve - e alguns ainda têm - em se adaptar a esta nova realidade, pois com a necessidade de confinamento passaram a trabalhar em casa (muitos em regime de teletrabalho) lado a lado com os filhos, dividindo-se nos papéis de trabalhadores, de pais/mães, de cuidadores e ainda de “professores”. Bom, esta é a primeira parte de um trabalho que irá procurar perceber como se adaptaram, ou ainda estão a fazê-lo, escolas, pais, e alunos e professores à nova realidade do ensino. Isto num mês em que os alunos dos 11.º e 12.º anos regressaram às aulas presenciais (tema que irá dar azo à segunda parte deste nosso trabalho a publicar na próxima edição), mas... todos os outros anos vão continuar a aprender à distância até final do ano letivo.

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    Nunca como agora os pais foram chamados a intervir de forma tão direta na formação (escolar) dos filhos, mas com a agravante de que muitos desses progenitores terem, ou continuarem a ter, de trazer o trabalho para dentro de casa. Ou seja, viram-se forçados a enveredar pelo teletrabalho – ou em regime de lay-off - por força da pandemia. E nesse sentido não é só a resposta à entidade patronal que tem de continuar a ser assegurada diariamente e a tempo e horas, mas uma nova resposta aos filhos que não estavam até aqui habituados. Os pais são agora quase uma extensão do professor em casa com a missão de acompanhar/guiar os respetivos filhos nas tarefas escolares. Têm de desempenhar em simultâneo dois papéis, o de trabalhador e o de “professor”. E se a isto juntarmos as tarefas domésticas, a “coisa” complica ainda mais. E muitas vezes, a carga de trabalho que os professores enviam para os alunos (1.º ciclo, por exemplo) dificulta ainda mais o papel dos pais/mães nesta sua multiplicação de “funções”. Não é só preciso ajudar os filhos, sobretudo os mais novos, a dar resposta ao que lhes é solicitado pelos docentes, mas de igual modo a acompanhá-los nas aulas por vídeo-conferência, até porque os mais novos não têm aptidões para aceder/manusear por si só plataformas como o Google Classroom, Google Meet, Moodle, Zoom, a Escola Virtual, a Aula Digital da Leya, entre outras plataformas que substituem as aulas presenciais por estes dias. Nesse sentido quisemos saber como tem sido vivida esta situação de ensino à distância pelos pais das escolas da nossa Cidade, tendo para isso contactado várias associações de pais e encarregados de educação da freguesia. Contudo, apenas quatro delas nos responderam, e é com as suas respostas/opiniões (que por elas foram recolhidas junto de vários encarregados de educação das escolas a que estas associações de pais pertencem) que vamos ter uma amostra desta nova realidade do ensino por parte dos pais/mães de Ermesinde.

    APREENSÃO E DIFICULDADES DE MUITOS PAIS

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    A Associação de Pais da Escola da Bela (APEB), pela voz da sua representante Liliana Monteiro, diz-nos que de acordo com as notícias recebidas dos pais da citada escola este é um trabalho que está a ser realizado com a ajuda dos professores do agrupamento, mais especificamente com os professores titulares de turma. «Claro que nas primeiras semanas, tiveram de se adaptar aos novos horários», acrescentando que os alunos acompanham as aulas pela tele-escola, aderiram à Escola Virtual onde têm aulas com os professores titulares duas vezes por semana. «Existiram inicialmente alguns constrangimentos mais concretamente, no que diz respeito à necessidade premente de equipamentos informáticos. Esta situação foi rapidamente resolvida pelo agrupamento de Ermesinde e Câmara Municipal de Valongo». Outros pais vivem toda esta situação de ensino à distância com apreensão por diversos fatores, conforme nos diz Carla Ribeiro, presidente da Associação de Pais da EB 2,3 D. António Ferreira Gomes. «Esta situação tem sido vivida com alguma apreensão, pois muitos dos pais não têm escolaridade que lhes permita apoiar e acompanhar os seus filhos. Muitos têm mais do que um filho em idade escolar o que torna a situação ainda mais difícil». Também a Associação de Pais da Escola da Gandra (APEG) nos diz que tem estado em contacto com pais e encarregados de educação durante a pandemia e tem sentido algumas dificuldades junto dos mesmos no apoio escolar dado aos filhos.

    Mas este acompanhamento ou apoio dado pelos pais tem-se feito sentir mais ao nível do 1.º ciclo e do 2.º ciclo, sobretudo junto dos alunos mais pequenos que não só não dominam as plataformas digitais de ensino, como também necessitam de ajuda na execução dos trabalhos, na aprendizagem das matérias e de um acompanhamento presencial nas aulas dadas por vídeoconferência, como já foi referido. «No caso dos alunos do 2.º ciclo os pais e irmãos mais velhos têm tido um papel fundamental no apoio ao estudo em casa, uma vez que são crianças ainda muito novinhas e, portanto, ainda não estão muito à vontade com as novas tecnologias e com o trabalho sem acompanhamento presencial. No que diz respeito aos alunos do 3.º ciclo e secundário já se nota alguma ou total autonomia, pelo que o papel dos pais, nesse aspeto, está um pouco mais facilitado», diz-nos Manuela Queirós, presidente da Associação de Pais da Escola Secundária de Ermesinde (APESE).

    A BARREIRA TECNOLÓGICA

    VERSUS

    GESTÃO DO TEMPO

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    Não é apenas uma questão de tempo, ou falta dele, que está na origem das dificuldades de muitos pais em apoiar os filhos nesta fase do ensino em casa. Dificuldade em gerir o tempo na conjugação de tarefas, digamos assim. As dificuldades ao nível do uso das múltiplas ferramentas tecnológicas que surgiram para desenvolver o ensino à distância, ou o pouco domínio nas matérias lecionadas pelos professores, têm sido alguns dos contratempos sentidos pelos pais ao longo destes mais de dois meses em que a escola se mudou para nossas casas. «Alguns pais fazem-nos chegar a preocupação da dificuldade da gestão de tempo por parte dos alunos e consequentemente dos pais. Não é fácil conseguir que, sobretudo os alunos mais novinhos, percebam que precisam de trabalhar sozinhos fora das aulas presenciais. Houve também alguns constrangimentos na utilização dos programas e acessos à escola à distância, mas que, pelo que sabemos, estão perfeitamente ultrapassados. Naturalmente é complicado para a maioria dos pais acompanhar os conteúdos de todas as disciplinas, uma vez que, mesmo que tenham tido essas disciplinas no seu tempo de escola, a forma de lecionar e abordar os temas é completamente diferente», diz a APESE.

    Mas é sobretudo ao nível do domínio das ferramentas tecnológicas e na conciliação do trabalho com a ajuda aos filhos que os pais sentem maiores dificuldades, pelo menos naquilo que tem sido reportado à AP da EB2,3 D. António Ferreira Gomes. Este é aliás um facto partilhado pela AP da Escola da Gandra, isto é, por um lado as dificuldades na adaptação às ferramentas tecnológicas e por outro a dificuldade na conciliação do trabalho, ou teletrabalho, com as tarefas escolares dos filhos.

    «A gestão do tempo é uma barreira a que todos se estão a adaptar. Mas não podemos esquecer que muitos pais não conseguem acompanhar e dar apoio às tarefas escolares. Temos casos em que os próprios pais são ajudados por outros pais (vizinhos ou amigos) para fazer face às barreiras das novas tecnologias», diz-nos a AP da Escola da Bela.

    O IMPACTO INICIAL DA ENORME

    CARGA DE TRABALHOS

    A juntar às dificuldades tecnológicas e à falta de tempo para o desempenho de múltiplas tarefas no domicílio, muitos têm sido os pais que se têm queixado da enorme quantidade de trabalho que é enviada semanalmente pelos professores para casa. Por outras palavras, os pais não só têm de ajudar como também dar respostas imediatas aos professores, ou seja, colocar os trabalhos em plataformas que nunca conheceram e tiveram de se adaptar a elas de um dia para o outro, acompanhar os filhos mais novos nas aulas por videoconferência, ao mesmo tempo em que também eles têm de dar respostas aos seus empregadores a partir de casa. Esta será também uma realidade rotineira aqui na nossa comunidade e que tem causado alguma agitação nos pais (?) «Acompanhar os filhos na execução dos trabalhos propostos, ajudá-los a enviar os mesmos aos professores titulares, e ainda verificar as correções que os professores enviam, enquanto trabalham em casa, obrigou os pais a uma organização e gestão familiar muito grande para que nada falhe», diz a AP da Escola da Gandra, na voz da sua presidente Margarida Pereira. Sobre a elevada carga de trabalhos enviada para casa a AP da EB2,3 D. António Ferreira Gomes salienta que «temos conhecimento de algumas situações que ocorreram nos primeiros dias, em que nem sempre os alunos conseguiam cumprir os prazos, mas com a ajuda de outros alunos e a compreensão dos professores essas situações foram sendo ultrapassadas». Também a APESE conta que nos primeiros dias houve algumas preocupações com a quantidade de trabalhos que os professores pediam. Alertados os Diretores de Turma e os professores das disciplinas houve um ajustamento dessas tarefas pedidas e, neste momento, não temos conhecimento de queixas», diz Manuela Queirós.

    Mas ao que apurámos também existem exceções na nossa comunidade, como diz a AP da Escola da Bela, que sublinha não ter feedback dos pais daquela escola sobre este ponto da “carga semanal de trabalhos escolares”, «até porque os professores titulares estão atentos e têm adaptado a quantidade de trabalho a realizar mediante a realidade de cada turma».

    ALUNOS MAIS NOVOS

    CARECEM DE MAIS AJUDA

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    Questionámos depois as associações se os pais que eventualmente sentem mais dificuldades são dos anos escolares mais baixos (do 1.º ciclo, por exemplo), das crianças que ainda estão a iniciar o seu percurso escolar e precisam mais do apoio nesta fase, ou isso verifica-se em todos os outros anos de escolaridade? «É verdade que o início do percurso escolar precisa de mais apoio. Contudo a questão do trabalho autónomo não é uma realidade nos outros anos do ensino. Quanto mais não seja os pais tem de imprimir as fichas de estudo, enviar os trabalhos, quer isto dizer que os pais têm obrigatoriamente de estar presentes», frisa a AP da Escola da Bela, enquanto que a APESE nota mais dificuldades e apreensão dos pais de alunos do 2.º ciclo. Na visão da AP da EB2,3 D. António Ferreira Gomes os maiores problemas sentidos de que têm conhecimento verificam-se precisamente nos anos escolares mais baixos, porque os alunos não dominam as tecnologias e precisam de maior apoio dos pais, enquanto que para a AP da Escola da Gandra os pais deste estabelecimento de ensino «reconhecem ter mais dificuldade com os filhos do 1.º ciclo do que propriamente com os mais velhos, pois os mais velhos são mais autónomos no uso de plataformas e tecnologias».

    Mas serão apenas estas as preocupações ou receios sentidos pelos pais neste tempo de ensino à distância? Não. “Como irá ser feito o regresso à escola?”, ou “Como será feita à avaliação?”, são receios que nos foram transmitidos, respetivamente, pela AP da Escola da Gandra e pela AP da Escola da Bela. Mas há mais. «Como é óbvio todos os encarregados de educação, mesmo os dos alunos que conseguiram adaptar-se bem a esta nova forma de ensino, estão preocupados, pois estas alterações podem prejudicar os seus filhos a médio e longo prazo, uma vez que podem os mesmos não conseguir acompanhar a matéria dada. Muitos também estão preocupados, porque, quer se queira ou não, acaba por haver um maior isolamento dos filhos», dá conta a AP da EB2,3 D. António Ferreira Gomes. Por sua vez a APESE diz-nos «não notámos muita preocupação com o ensino em si, mas sim com o que este confinamento pode trazer em termos psicológicos aos alunos. Como é evidente todos os encarregados de educação e alunos têm consciência que no início do próximo ano letivo, no caso de as aulas já serem presenciais, terá que haver uma revisão da matéria lecionada neste final de ano».

    E como tem sido o papel das associações de pais no meio desta nova realidade, que apoios têm dado aos pais ao longo destes meses e para o que falta cumprir de calendário escolar? «Esta associação está nesta fase, como sempre, ao dispor para ajudar em tudo o que os alunos e encarregados de educação necessitam. Estamos em contacto quase diário com a Direção do Agrupamento de Escolas de Ermesinde, fazemos-lhes chegar todas as preocupações de que temos conhecimento e ajudamos na divulgação de toda a informação pelos alunos e encarregados de educação», diz a APESE, ao passo que no caso da AP da EB2,3 D. António Ferreira Gomes esta tem tentado ajudar fazendo a ponte de ligação entre pais, Diretores de Turma e Direção do Agrupamento no sentido de serem resolvidas algumas situações que têm surgido. «Facultámos ainda, três portáteis para ajudar a colmatar o problema da falta de material informático», dizem. Nem só de dificuldades de âmbito tecnológico ou de conhecimento de matérias escolares se debatem os pais. Já a AP da Escola da Bela diz que continua a ser o intermediário principal entre os pais e a comunidade escolar, pois diariamente surgem questões sobre matrículas, apoio do Município, avaliações, etc..

    Há igualmente agregados com dificuldades financeiras causadas pela pandemia, pelo que Margarida Pereira diz que a AP da Escola da Gandra tem-se mostrado disponível para ajudar as famílias com carência financeira, com sigilo absoluto.

    (...)

    leia esta reportagem na íntegra na edição impressa.

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    Por: Miguel Barros

     

     

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