XXII MOSTRA INTERNACIONAL DE TEATRO
A história proibida pela ditadura militar brasileira que presta homenagem a Tônia Carrero
Na segunda noite (19 de outubro) da MIT subiu ao palco uma história intensa, dramática, violenta e ao mesmo tempo poética e humana. “Navalha na Carne”, uma peça escrita por Plínio Marcos, em 1969, durante a ditadura militar do Brasil. Regime ditatorial esse que proibiu a exibição da peça, a qual seria libertada das mãos da ditadura, digamos assim, pela atriz Tônia Carrero há meio século atrás. Esta “Navalha na Carne” “atual”, por assim dizer, não é apenas o relembrar de um dos maiores clássicos da dramaturgia brasileira, mas acima de tudo uma homenagem a uma das mais consagradas atrizes brasileiras de sempre: Tônia Carrero (1922-2018). Uma homenagem idealizada e produzida pela neta de Tônia Carrero, a também atriz Luisa Thiré.
Foi precisamente Luisa Thiré que juntamente com Alex Nader e Ranieri Gonzalez subiu ao palco do Fórum Cultural de Ermesinde para interpretar - de forma sublime - a história de Neusa Sueli, uma prostituta decadente e explorada pelo seu proxeneta Vado. Enquanto ela ganha a vida nas ruas, ele fica no quarto da pensão, deitado, à espera que ela lhe traga o dinheiro para que possa sair e divertir-se com outras mulheres. Certo dia, após o retomar de mais um dia nas ruas, Neuza é violentamente intimidada por Vado, por causa do desaparecimento do dinheiro que supostamente a prostituta deveria ter deixado em cima da mesa de cabeceira. Os dois discutem de forma violenta. É então que as suspeitas recaem sobre Veludo, o empregado de limpeza homossexual que trabalha na pensão habitada pela prostituta e pelo seu proxeneta. Veludo é chamado a esclarecer o desaparecimento do dinheiro, pois era a única pessoa que tinha acesso ao quarto. A discussão passa então a ser a três e por entre empurrões, insultos e ameaças Veludo acaba por assumir a autoria do roubo, sendo violentamente expulso dali. E quando se esperava que o ambiente entre Vado e Neuza Sueli acalmasse após esta confissão, eis que os níveis de humilhação do proxeneta para com a prostituta aumentam, acabando este por sair para a farra deixando-a para trás na solidão do quarto.
“Navalha na Carne” é tão antiga como atual, tendo em conta que a violência contra a mulher continua a ser um flagelo global.
Assistimos a uma história intensa, em certos momentos até chocante, atendendo à linguagem obscena e atitude marginal dos personagens, mas em simultâneo poética e tocante que arrancou merecidamente os aplausos da plateia.
Ficha Técnica:
Texto: Plínio Marcos
Encenação: Gustavo Wabner
Interpretação: Luisa Thiré, Alex Nader e Ranieri Gonzalez
Cenografia: Sérgio Marimba
Figurino: Marcelo Marques
Iluminação: Paulo César Medeiros
Direção Musical: Marcelo Alonso Neves
Direção de Movimentos: Sueli Guerra
Preparação Vocal: Ana Frota
Visagismo: Rose Verçosa
Assistente de Direção: Celso André
Fotografia e Design: Victor Hugo Cecatto
Vídeo Homenagem: Carlos Arthur Thiré, Marcelo Duque e Luisa Thiré
Direção de Produção: Celso Lemos
Supervisão de Produção: Norma Thiré
Idealização e Produção: Luisa Thiré
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Por:
MB
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