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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 31-05-2019

    SECÇÃO: Crónicas


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    PASSEIOS DE BICICLETA À DESCOBERTA DO PORTUGAL REAL...

    “Estou ensopado, encharcado, a água da cabeça sai-me nos pés”

    Aos primeiros raios de luz, agradeci o acolhimento e o pequeno-almoço, que me reconfortou o estômago e voltei para a estrada. Gosto de visualizar a luz do nascer do dia refletida neste mar de palha seca.

    A poucos quilómetros passo pela Vila Fernando, vila que teve a colónia correcional de internamento de jovens delinquentes de 1985 a 2007. Desta vila até Terrugem foi um salto e daqui pela EN 4 depressa cheguei a Borba. Borba região de bons vinhos e de esplêndidos mármores. Pensa-se que a sua ocupação tenha origem Celta.

    Daqui segui para Vila Viçosa. À saída da cidade deparei-me com uma estrada em “paralelo”. Ou por ter descansado pouco e mal acomodado a vibração da mesma fez-me desmontar. A vibração nas articulações, mais parecia castanholas numa dança louca Sevilhana, e lá levei a bike pela mão. Fiquei meio estarrecido.A subtração de mármore vinha até metro e meio dos rails ou dos muros de proteção da estrada. De um lado e de outro. A estrada mais parecia uma ponte sob precipícios. O terreno que sobrava junto da mesma era o parque dos blocos de mármore ou dos blocos sem interesse comercial. O trânsito? Normal. Pouco, mas de tudo um pouco. Aliás, os camiões que transportam os blocos não têm outra hipótese. Se fôssemos de carro e estacionássemos, metade tinha de ficar na via, o lado direito, se abrir a porta cai para o abismo. Nada me surpreendeu, o desastre trágico que por lá se abateu.

    MOURA - TORRE DO RELÓGIO
    MOURA - TORRE DO RELÓGIO
    Ao cruzar-me com um transeunte, perguntei-lhe a distância para Vila Viçosa e a resposta foi de quase 6 km. Queixei-me da estrada. Ele sorri e diz,“Está muito boa, tem a variante, mas tem que voltar para Borba”. Fiz menção de lhe dizer, que nem no meio das serras da Peneda/Gerês havia aquela má via. Admirado diz-me. “Olhe que está bem boa, foi feita no tempo do Sr. Dr. Salazar”. Não sei se foi. Pus-me em marcha. “Paralelo” até Vila Viçosa e mesmo nessa as vias também o eram. Passei pela Bela Porta dos Nós e cheguei ao Paço Ducal com o seu Terreiro do Paço com a estátua equestre de D. João IV em cima de um cavalo de nome Baluarte, com mais de seis metros de altura. O seu belo Pelourinho Manuelino de 1512, junto do castelo. Muito mais havia para ver. Despedi-me da conhecida cidade Princesa do Alentejo ou Cidade Museu.

    Continuo rumo a Sul. Passo por Alandroal e sigo para a bela Reguengos de Monsaraz. Por aqui almoço e subo ao castelo. Das muralhas do mesmo, temos uma bela paisagem da planície e serras alentejanas e os limites aquíferos da albufeira do Alqueva. O corpo a queixar-se, fez-me continuar, mas com o pensamento a gritar, “pára, pára”. Segui para Alqueva. O ritmo já era mais fraco. Por consequência a atenção à estrada era menor ou nenhuma. Não gosto nada de ter essa sensação. É perigoso. Mas por ir distraído contemplo uma nuvem negra distante, tapando os raios de sol. Nuvem de tempestade. Visualizando o meu trajeto mentalmente calculo que não me apanhará. Admirando a paisagem com um olho e vigiando a nuvem com o outro, lá vou galgando a estrada. Ando uma série de quilómetros. Depois de uma descida acentuada, começa uma subida com inclinação contrária e o meu pensamento é, esta não vem nada a calhar. Logo após a subida, ouço pedradas no capacete. Levanto os olhos aos céus. Lá estava ela. Quase em cima de mim. Desmonto. Retiro a mochila das costas, não a queria molhada. A capa tinha-a dado ao Sr. Francisco, o pastor de Vinhais. Bonito. Tinha a cobertura exterior da tenda. Mal a protejo, troveja. Estou ensopado, encharcado, a água da cabeça sai-me nos pés. Sou um autêntico rio. Rio em dia de cheias. Tento descobrir algo para me proteger. Mal vejo para além de cinco metros. Os carros passam e fazem sinal de luzes. O meu pensamento para tal solidariedade é pecaminoso. Grito pelo sr. Francisco. Tiro o capacete e liberto a minha insanidade. Se é chuva, danças a dança da chuva. Qual índio, de braços abertos, em passes tresloucados, com sons grotescos, danço a bom dançar, qual louco feliz, qual felicidade reminiscente de meninice já passada. Conforme veio, assim se foi.

    (...)

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    Por: Manuel Fernandes

     

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