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    Arquivo: Edição de 31-01-2019

    SECÇÃO: Destaque


    ENTREVISTA NO ÂMBITO DA CELEBRAÇÃO DO 66.º DIA MUNDIAL DOS LEPROSOS

    Lepra ainda é uma realidade no século XXI

    Celebrou-se a 27 de janeiro último em todo o Mundo o 66.º Dia Mundial dos Leprosos. Falar de lepra na atualidade pode parecer estranho, mas... em pleno século XXI esta doença ainda é uma realidade! Apesar do Mundo ter ao longo de décadas e séculos conhecido tantos avanços (desde logo científicos) esta enfermidade ainda não foi erradicada do nosso planeta Porquê? Esta foi a questão principal que nos levou ao Núcleo de Ermesinde da Associação Portuguesa de Amigos de Raoul Follereau (APARF), onde estivemos à conversa com Carlos Santos, coordenador deste núcleo ou grupo local, mas também membro nacional da Direção desta instituição particular de solidariedade social.

    Fotos ALBERTO BLANQUET
    Fotos ALBERTO BLANQUET
    Instituído pela Organização das Nações Unidas em 1954 o Dia Mundial dos Leprosos é atualmente celebrado em 130 países com a finalidade de alertar a população mundial para as condições de sofrimento e de miséria em que viviam milhões de pessoas atingidas pela lepra. Assinalado no último domingo do mês de janeiro, este dia mantém-se atual, pois apesar da progressiva redução do número de doentes, a doença ainda não foi erradicada, sobretudo nos países mais pobres do globo onde a sua prevalência se mantém elevada. Mas já lá vamos.

    Em Portugal o Dia Mundial dos Leprosos é celebrado há 32 anos, pela mão da APARF. Mas em pleno século XXI faz sentido continuar a falar de uma doença cujos primeiros relatos de existência remontam a cerca de 4000 anos antes de Cristo? Faz todo o sentido, na voz de Carlos Santos.

    Ainda antes de abordar os contornos da realidade atual da lepra faz igualmente sentido falar na missão que a APARF tem abraçado de há 32 anos a esta parte, uma missão que na sua génese prossegue aquilo que foi iniciado pelo seu inspirador: Raoul Follereau. Quem foi este homem? Foi um escritor, jornalista e advogado francês - nascido em 1903 - que numa viagem a África - nos anos 30 - se deparou com algumas pessoas que se escondiam no meio do arvoredo aquando da sua passagem por elas. Estranhando este comportamento, perguntou ao guia que o acompanhava quem eram aquelas pessoas. São leprosos, foi a resposta. Esta imagem “tocou” Raoul Follereau, que ao questionar-se sobre o porquê destas pessoas se esconderem só porque padeciam de uma enfermidade dedicou os 50 anos seguintes da sua vida à causa dos leprosos.

    Na companhia da sua mulher, Madeleine Boudou, deu a volta ao Mundo várias vezes, visitando leprosarias/prisões, proferindo milhares de conferências sobre a causa, participou em fóruns, numa entrega total ao serviço destes estigmatizados doentes. «Este homem desinstalou-se. Ao invés de levar uma vida confortável dedicou-se à denúncia das injustiças, daquela ideia que ainda hoje temos presente num Mundo que é cruelmente egoísta, ou seja, como é que tão poucos têm milhões e tantos milhões têm muito pouco ou nada!», diz Carlos Santos, numa alusão à ligação entre a lepra e as desigualdades existentes na Humanidade.

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    Aliás, estas desigualdades respondem de certa forma à nossa pergunta inicial: porquê em pleno século XXI ainda existe lepra?. Mas voltando a Raoul Follerou, na sua condição de “vagabundo da caridade” ou “apóstolo dos leprosos”, como foi chamado, ele visitou Portugal em duas ocasiões, nos anos 50 e 60, mais precisamente o Hospital Rovisco Pais, na Tocha, antigamente chamado de leprosaria nacional, para onde iam todos aqueles a quem era diagnosticada a doença, uma unidade que no passado chegou a ter 2000 doentes. Muitos destes homens e mulheres eram para ali levados compulsivamente pelas forças da autoridade, como se fossem para uma prisão! Esta imagem verificava-se um pouco por todo o Mundo: o doente com lepra era discriminado, afastado do convívio social. Era hostilizado e ele próprio se auto-excluía da sociedade. Carlos Santos compara esta imagem do passado com a altura em que apareceu o vírus HIV/Sida, em que havia um pânico generalizado das pessoas em dar um abraço, dar um beijo, temendo o contágio da doença.

    A missão de Raoul Follereau também passou por denunciar e contrariar essa hostilização, contrariar a ideia de que não fazia sentido que os doentes que padecessem de lepra fossem socialmente discriminados. A pouco e pouco essa hostilização foi-se esfumando, e hoje, de acordo com o nosso interlocutor, as pessoas já olham para esta doença de maneira diferente, já não há o medo de tocar num doente com lepra, já não há a tal hostilização do passado. «O Papa Francisco diz uma frase muito bonita que é: “nunca ninguém sinta repulsa de tocar o pobre e o excluído”, diz Carlos Santos numa espécie de analogia. Acrescenta que alguém que padece desta enfermidade é «como ter outra doença qualquer, em que existe uma possibilidade de cura e uma grande improbabilidade de sermos afetados pela lepra», explicando ainda que o grau de contágio da lepra é mínimo, sendo que esse contágio existe se houver um contato permanente com o doente infetado, porque se não houver esse contato sistemático o nosso sistema imunitário reage bem à bactéria. Mais de 90 por cento da população mundial está hoje imune a esta enfermidade. Além disso, a lepra não é hereditária, como se julgou durante séculos, tendo a título de exemplo neste aspeto, Carlos Santos recordado que no passado muitos casais com lepra que se encontravam internados no Hospital Rovisco Pais ali tiveram filhos, e que esses descendentes não nasceram nem contraíram nas suas vidas a doença.

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    Por: Miguel Barros

     

     

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