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    Arquivo: Edição de 15-12-2018

    SECÇÃO: Crónicas


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    PASSEIOS DE BICICLETA À DESCOBERTA DO PORTUGAL REAL…

    “O cantar das aves é um paraíso”

    Nem só na quadra Natalícia se ganham prendas. Não, ainda não estava no mês em que pela primeira vez respirei, mas neste dia respirei muito ar puro. Sim estava longe das grandes urbes.

    Dia 4 de junho, sigo pela EN 13 de Cerveira até Valença e desta pela EN 101 até Melgaço. Esta vila era o meu término daquele dia. Pensava eu que ainda me daria algum tempo para uma visita. Engano meu. De Monção até à vila raiana foi debaixo de uma chuva miudinha e persistente. Fiquei pela Pousada da Juventude. Boas comodidades e inserida num complexo desportivo com múltiplas ofertas, com beleza paisagística de pinhal. Que bom banho quente tomei. O resto do tempo foi passado a admirar o enquadramento dos campos com o pinhal e trocando impressões com jovens também hospedados no mesmo complexo.

    O dia 5 acordou ainda com alguma chuva. Quer chova ou faça sol vou ter que ir para a estrada. O novo objetivo era ficar acampado em Lamas de Mouro em pleno parque Peneda/Gerês. Se assim pensei, assim o fiz. Parei na Vila, para a breve visita. Pacata vila raiana com o seu castelo e Torre de Menagem, ruas estreitas à volta do castelo dando o seu ar medieval. Tem o solar do Alvarinho, onde podemos degustar o excelente verde, caso não corra bem, temos sempre as termas para um rápido restabelecimento.

    TORRE DE MENAGEM DO CASTELO DE MELGAÇO
    TORRE DE MENAGEM DO CASTELO DE MELGAÇO
    Como as horas não param, e o sol estabeleceu concordância com a chuva, ora apareço eu, ora apareces tu, decidi ir para a estrada. Num entroncamento da mesma e ficando meio perdido, socorri-me da informação de uns naturais. Perguntei por uma estrada sem ser a nacional. Queria percorrer alguma à beira rio até Cevide e daí a Lamas do Mouro. Sorriram. Lá me indicaram uma. Desconfiado com aquela troca de olhares e sorrisos, lá segui. Passou de estrada a caminho. Caminho ora em calçada, ora em gravilha, ora em nada. Vi-me forçado a desmontar da bicicleta e levá-la à mão. Que grandes maganos, se julgavam que me tinham estragado o dia, enganaram-se.

    Um Africano o que gosta é da savana. Por aqui não há, mas temos a floresta, o som do rio Minho, dos pássaros, dos riachos, das quedas de água, era o que eu queria, ora pedalando, ora levando à mão a minha companheira por ruelas, por caminhos estreitos até passar por uma ponte sobre o rio Trancoso com dísticos Espanhóis. No outro lado da margem encontro uma pessoa. - Boa tarde amigo, o caminho para a fronteira acaba aqui? - Já estás em Espanha. Aqui é Cevide de Espanha, ali é Cevide de Portugal. Cevide de Portugal com duas habitações abandonadas. Ficamos a falar um pouco. O caminho era o antigo trajeto do contrabando. Ri. - Pena já não ser usado, sempre montavam uma banca e vendiam whisky, que eu era comprador.

    Despedi-me. - Para Castro não consegues ir a pedalar, avisou -me.

    Sim, aquelas rampas não eram para a bicicleta de estrada. Tive a companhia num pouco do trajeto de ciclistas de BTT, mas com os “pezinhos” no chão, que aquilo não era para curiosos.

    Cheguei a São Gregório e fui até à fronteira. As antigas instalações fronteiriças do lado Espanhol bem preservadas, ao meio da ponte o seu escudo. Do nosso lado nada. Quem chegasse nem se aperceberia que já estava em Portugal. Mentira. Numa casinha abandonada alguém hasteou a nossa bandeira só para chatear.

    Chego a São Gregório às 14,30. Entro num café/tasco e pergunto se servem algo que coma, como por exemplo uma sande. A jovem sorriu e sai a correr, voltando acompanhada por uma senhora de idade. -Tenho uma sopinha quente, e massa com carne guisada. Agradeço. Manda-me entrar para a cozinha e lá me serviu. Como não tenho palato, disse-lhe que estava muito apaladada. Ela sorriu. Meio envergonhada, agradeceu dizendo que por lá diziam que era uma boa cozinheira. Qual foi o meu espanto que ao querer pagar, não aceita e questiona-me se já estava mais reconfortado. Bem-haja.

    Faltavam-me 17 km para Castro Laboreiro. Comecei a pedalar que se fazia tarde. Pela M1138, Cristoval, A da Velha, Alcobaça. Para vergonha minha, e sem dizer a ninguém, tive que desmontar, agora era eu que a levava. Isto não é para novos quanto mais para velhos, rampas de mais de 20 % de inclinação. Numa dessas vezes, tirei umas fotos a umas cabras, mas estas afastaram-se. Olhei para a senhora que as guardava e sorri. - Não me diga que as assustei? - Claro senhor! Você não é da casa e elas estranharam. Sorri, por não ser da casa. Mas ficamos ali um pouco na conversa. Segui para Castro Laboreiro, Ameijoeira na fronteira, cheguei ao escurecer, voltei para trás até Lamas de Mouro. Entretanto começou a chover com intensidade e cheguei ao parque encharcado.

    Um banho gelado, embrulhei-me no que levava e lá passei a noite. Peguei no telemóvel e vi que não havia rede. Bonito. Sem possibilidade de contactar ninguém, mas tinha paz e a companhia de uns garranos.

    Por último um aviso. O cantar das aves é um paraíso, mas também são uns chatos de tanto cantar. A chuva põe-me rabugento...

    Um Feliz e Santo Natal.

    Por: Manuel Fernandes

     

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