DEBATE PÚBLICO NO CENTRO CULTURAL DE ALFENA
Independência, Monarquia e República
No primeiro sábado deste mês, dia 1 de dezembro de 2018, celebrou-se a Efeméride do Dia - a Restauração da Independência, no Auditório do Centro Cultural de Alfena, com um Debate Público sobre a “Independência, a Monarquia e a República”, como Memória, Identidade e Cultura de um Povo e de um País. A iniciativa foi do “Movimento Cívico Sinopse”, que contou com o apoio da Junta de Freguesia de Alfena, na pessoa do seu Presidente, Arnaldo Soares e do seu Secretário, Sérgio Pinto. À organização do evento associou-se, também, o movimento cívico “Maia Para Todos” na pessoa de Carlos Magalhães.
Presentes estiveram, ainda, o presidente da Assembleia Municipal de Valongo, Abílio Vilas Boas, o presidente do “Sinopse”, José Paz e os oradores convidados, Manuel Augusto Dias, Mário Duarte, Leonor Lêdo Fonseca e Mendo Castro Henriques.
Antes do Debate, o presidente da Junta de Freguesia local guiou uma visita às várias dependências da antiga escola primária transformada agora em centro cultural, incidindo a atenção do grupo na antiga sala de aula reconstituída, em termos de mobiliário e decoração, ficando muito parecida com aquela que cada um dos visitantes frequentou nos seus tempos da meninice escolar. Na parede dianteira lá estava o quadro de ardósia encimado pelo crucifixo e ao lado o retrato encaixilhado de Marcelo Caetano. A secretária do professor com a palmatória, as mesas/bancos duplos de alunos com o tinteiro ao meio e, entre muitos outros apetrechos escolares, os pesos, medidas e os sólidos geométricos de madeira, devidamente guardados num móvel próprio. Foram memórias revisitadas que souberam bem, apesar de associadas a alguma agressividade docente que naquele tempo era quase usual e resignadamente aceite pelos encarregados de educação.
Pouco depois das 15H00 o presidente do Movimento Cívico Sinopse fez a abertura dos trabalhos, chamando para a Mesa o presidente da Junta de Freguesia de Alfena e o presidente da Assembleia Municipal que usaram da palavra para se congratularem com a realização do evento na freguesia e no concelho e desejarem uma boa tertúlia, antecipando, que iria enriquecer os conhecimentos e o modo de agir, com independência e sensatez, de quantos se dignaram rumar naquela tarde até àquele Auditório.
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José Paz chamou, depois, os oradores para a mesa, fazendo um curto apontamento biográfico de cada um. Introduziu a temática do dia e deu a palavra ao primeiro palestrante, Manuel Augusto Dias. Este ligou o 1.º de Dezembro de 1640, que este ano curiosamente caiu no mesmo dia da semana que há 378 anos – um sábado, à República, uma vez que o novo regime escolheu a mesma data, mas do ano 1910, para celebrar o Dia da Liberdade e da Pátria e apresentar à Nação um dos símbolos atuais, a Bandeira. Foi no dia 1 de dezembro de 1910 que ela foi apresentada pela primeira vez em público, seguindo num Cortejo Cívico, entre a Câmara de Lisboa (onde foi proclamada a República, menos de 2 meses antes), até aos Restauradores, onde foi colocada no monumento que aí imortaliza a gesta dos Restauradores de 1640. O historiador tratou de outros aspetos diretamente ligados à Independência, à Liberdade e à República.
Leonor Lêdo Fonseca, jurista e autarca, falou das mulheres ao longo dos tempos, destacando que a igualdade de tratamento de género ainda está longe de ser uma realidade em pleno. Ao longo dos séculos, foram sempre os homens que estiveram na política e na administração, criando-se até diversos estereótipos e preconceitos ridículos de que a mulher não teria uma capacidade de raciocínio idêntica à do homem e por isso alguns contestavam a emancipação feminina apelidando de “cabeças ocas” as mulheres que lideraram esses movimentos reivindicativos.
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Mário Duarte, por seu turno, com formação superior em filosofia e direito, partilhou com os presentes, uma bem fundamentada reflexão crítica sobre os conceitos de “República”, “Democracia” e “Cidadania”, que considerou necessária e urgente num momento histórico em que «a democracia e o poder político estão reféns de uma partidocracia, ao mesmo tempo que se remete a Cidadania para uma esfera de oposição civil fragmentada e avulsa, exterior ao arco de poder e, desse modo, comprometendo a evolução dos ideais republicanos, designadamente o ideal de igualdade entre todos os cidadãos, desde logo, no acesso ao exercício de cargos políticos». A terminar, afirmaria mesmo que «a democracia e a república estão ainda por concretizar».
Mendo Castro Henriques, também com formação em Filosofia e História e ligado à Universidade Católica de Lisboa, falou da Restauração de 1640 como a afirmação da dinastia de Bragança que soube aproveitar a conjuntura favorável internacional, em que o exército espanhol se teve de dividir em várias frentes, nomeadamente na Catalunha, desde maio desse ano, para fazer triunfar a sua causa em Portugal (derrotando a Casa reinante dos Habsburgo), onde se lutou durante 28 anos, nas províncias que pegam com o território vizinho, nomeadamente, o Minho, Trás-os-Montes, Beira e Alentejo. Mas houve também lutas no Brasil (para expulsar os Holandeses de Pernambuco), na África e na Ásia, por isso há quem fale nestas guerras como o primeiro grande conflito à escala planetária.
Seguiram-se as conclusões feitas por José Paz que também abriu o debate entre os presentes e a mesa. A questão da partidocracia seria retomada por vários elementos do público que falaram de casos vividos na primeira pessoa que não podemos aqui reproduzir por falta de espaço.
O evento, dado este mês ser o da quadra natalícia, encerrou, a convite do presidente da Junta de Freguesia de Alfena, com uma fatia de bolo rei para cada um, acompanhada por um vinho fino de muito bom paladar.
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