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    Arquivo: Edição de 30-06-2018

    SECÇÃO: Destaque


    FEIRA DA REGUEIFA E DO BISCOITO & MERCADO OITOCENTISTA - Oração de sapiência

    III Capítulo da Confraria do Pão, da Regueifa e do Biscoito

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    Integrada na Feira da Regueifa e do Biscoito e no Mercado Oitocentista de Valongo, teve lugar na Igreja Matriz de Valongo, a Oração de Sapiênciado III Capítulo da Confraria do Pão, da Regueifa e do Biscoito, na tarde do passado dia 2 de junho.

    A convite dos principais responsáveis por essa Confraria foi o nosso diretor o orador desse momento alto, que trouxe a Valongo mais de meia centena de confrarias congéneres. Manuel Dias falou da importância de Valongo no fornecimento do pão ao Porto, ao longo de vários séculos e na relevância que o pão teve desde remotos tempos.

    Concretamente, referiu que pelo menos desde a sedentarização do Homem, se tornou a base da sua alimentação, há cerca de 10 mil anos, na região que simbolicamente se denominou "Crescente Fértil". Daí se espalhou por toda a parte e foi durante milénios a base da alimentação humana.

    Mas o pão tem assumido, segundo as suas palavras, várias "índoles": desde o "pão religioso", ao "pão político", passando pelo "pão económico", "pão fiscal", "pão caridade" e outros.

    O "pão religioso", consagrado em cada Eucaristia e, guardado no sacrário de cada igreja representa, para os crentes, a presença de Cristo entre o seu povo.No momento da comunhão, nas celebrações religiosas, lá está o pão, como corpo de Cristo, em que o Homem de Fé, em termos espirituais, se sente em plena união com Cristo.

    A feição "económica" do pão é o exemplo do pão de Valongo que se assumiu durante séculos como o principal "ganha-pão" dos seus moradores, e ainda hoje é uma "marca" importante na cidade.Segundo algumas fontes, o fabrico de pão em Valongo, com a intenção de produzir excedentes para "alimentar" o Porto remontará à Idade Média, mais concretamente ao princípio do século XIV, no reinado de D. Dinis, quando este monarca proibiu a cozedura de pão na cidade, certamente, para evitar os riscos de incêndio, determinando que as padeiras de trigo fossem as de Valongo.

    A entrega e a venda na cidade do Porto era assegurada por dezenas de padeiros e padeiras valonguenses que carregavam o pão em grandes canastras que colocavam sobre os seus jumentos que conduziam à arreata, durante cerca de duas horas. Saíam quase sempre de madrugada e percorriam as estradas de ligação ao Porto, via Rio Tinto, S. Roque da Lameira e Bonfim, onde se juntavam e se dirigiam às feiras, fazendo por vezes pequenas paragens às portas das casas de família ou mercearias locais. A Feira do Pão, das padeiras de Valongo, ocorria no Largo da Feira, frente ao Convento de S. Bento de Avé Maria no Porto (demolido nos finais do século XIX para no mesmo local ser construída a atual estação ferroviária de S. Bento).

    Mas o pão também foi usado com objetivos de carácter político. Já assim havia acontecido no tempo dos Romanos, quando o Imperador mandava distribuir pão pelos cidadãos romanos para evitar levantamentos populares.O "Pão político"também se fez sentir, várias vezes, ao longo da nossa história e, sobretudo, no período das Guerras Liberais e na Primeira República.

    Mas o pão assume ainda outras compleições: como "pão fiscal" foi renda e imposto, explícito em tantas cartas de aforamento e de foral, desde o norte ao sul deste reino, desde o princípio da nacionalidade até à legislação liberal de Mouzinho da Silveira, na década de 1830; ou "pão caridade" usado em alguns rituais funerários, ou sob a forma de "bodo aos pobres" característico de algumas festividades religiosas e institucionais; ou ainda pão típico da Páscoa, do Natal ou doutras datas festivas, como no "Dia de Todos os Santos".

    Manuel Augusto Dias terminou a "Oração de sapiência" do III Capítulo da Confraria do Pão, da Regueifa e do Biscoito de Valongo, com a Igreja de São Mamede completamente cheia, lendo um poema que não é prece, mas é reflexão, pela mente e pela pena de Vitorino Nemésio, que lhe chamou"O Pão e a Culpa" e cuja primeira estrofe é a seguinte:

    "Desde que me conheço sei o pão

    E o corto em companhia.

    Por ele me bate o coração,

    E em sua dobra quente

    Grelava outrora a alegria

    De mim e de muita gente.".

     

     

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