SECÇÃO: Especial

Testemunho de Casimiro Sousa

O "jornalzinho", como carinhosamente dizia o seu diretor, Manuel Ribeiro, no editorial do primeiro número da "Sopa dos Pobres", resistiu às vicissitudes que, por razões diversas, surgiram no seu caminho. Todavia, os danos causados nunca o impediram de cumprir a missão para que foi criado. Sempre demonstrou o seu préstimo e levou a conhecer aos seus leitores o que acontecia e lhes interessava.

No ano em que a "Sopa dos Pobres" se encontrou pela primeira vez com o seu público, acontecimentos importantes marcaram a vida de Portugal e do mundo: em eleições manipuladas, Américo Tomás venceu as eleições presidenciais; Humberto Delgado proferiu o célebre "obviamente demito-o" no café Chave de Ouro, no Porto; o bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, escreveu a Salazar uma carta em que fez várias críticas ao regime, o que lhe valeu um exílio de 10 anos; foi atribuído o prémio Nobel da Literatura ao escritor russo, Boris PasternaK, autor do imortal "Doutor Jivago" e entrou para a história a melodia da marcha do coronel Bogey no filme "A Ponte do Rio Kway" que arrebatou 7 óscares.

Tinha 11 aninhos, quando o homem chegou à lua e 16 quando a ditadura de Salazar/Caetano chegou ao fim.

Em 1978, tinha 20 anos e foi nesse ano que o cardeal polaco, Karol Józef Wojty?a, foi eleito Papa com o nome de João Paulo II.

Quando tinha 30 anos, em 1988, ocorreu um violento incêndio no Chiado, que destruiu 18 edifícios da zona histórica da capital.

Em 1998, já com 40 anos, fez-se a Expo 98, nome por que ficou conhecida a Exposição Mundial de Lisboa de 1998, dedicada aos Oceanos, integrada nas comemorações dos 500 anos da chegada de Vasco da Gama à Índia, recebeu representações de todo o mundo e o escritor português José Saramago foi galardoado com o Prémio Nobel da Literatura.

Quando contava 44 anos, em 2002, Timor-Leste tornou-se independente, para o que muito contribuiu a ação diplomática desenvolvida por Portugal ao longo da ocupação do território pela Indonésia.

Em 2008, já tinha meio século. Nesse ano, Barack Obama foi eleito o primeiro presidente negro dos EUA; a China deu um verdadeiro show ao mundo com os jogos olímpicos e tornou-se a primeira potência olímpica com 51 medalhas de ouro, mais 15 que os EUA; a falência do banco Lehman Brothers marcou a aceleração da crise financeira mundial, que muito sentimos, e Fidel Castro deixou, definitivamente, a presidência de Cuba.

Em 2017, no ano anterior à comemoração dos 60 anos, o papa Francisco veio a Portugal no centenário das Aparições de Fátima, tendo canonizado os pastorinhos Francisco e Jacinta; Portugal venceu pela primeira vez o festival da Eurovisão da Canção, pela voz de Salvador Sobral e os incêndios causaram a morte a 116 pessoas, devoraram mais de 1.500 casas e cerca de 500 empresas.

Muitos outros acontecimentos corridos durante a vida do jornalzinho poderiam ser enumerados, como por exemplo, a conquista por Portugal do Campeonato Europeu de Futebol em 2016, ao vencer a França com um golo saído dos pés do mal-amado Eder.

Alguns dos acontecimentos recordados foram objeto de comentários no jornal e enriqueceram, por essa via, a informação levada aos seus leitores.

De todas as bodas, a mais comemorada é a de diamante que celebra os 60 anos de vida a dois. O diamante é eterno e, neste caso, simboliza a estabilidade de uma vida temperada ao longo de tantos anos.

O jornal "A Voz de Ermesinde" está "fortalecido pela idade e valorizado pela experiência". Merece, por isso, ser acarinhado e dignamente celebrado, sem "a angústia dos 60 anos".

Por: Casimiro Sousa*

(Antigo Diretor de "A Voz de Ermesinde”)