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    Arquivo: Edição de 31-12-2017

    SECÇÃO: História


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    60º ANIVERSÁRIO DO CENTRO SOCIAL DE ERMESINDE (36)

    Mensagem de Natal de "A Voz de Ermesinde" de há 50 anos

    Há 50 anos, o jornal "A Voz de Ermesinde" evocava a celebração dos "Dias de Festa e de Família", o mesmo é dizer do Dia de Natal, com um artigo que preenchia toda a primeira página e onde procurava transmitir uma mensagem de paz e de esperança em melhores dias. Efetivamente o ano de 1967, apesar da vinda do 1.º papa a Portugal, Paulo VI (que presidiu em Fátima à comemoração do 50.º aniversário das Aparições Marianas naquela localidade ribatejana), não tinha sido bom para os portugueses.

    Portugal vivia em três das suas antigas colónias uma situação de guerra que durava há já 6 anos em Angola e que, entretanto, alastrara também à Guiné e a Moçambique. Centenas de milhares de jovens foram mobilizados para o serviço militar obrigatório e a maioria deles para a Guerra. Mais próximo da edição de dezembro de 1967, de "A Voz de Ermesinde" tinham ocorrido as dramáticas cheias e inundações de novembro (de 25 para 26) que afetaram uma vasta região da Grande Lisboa, desde Cascais a Alenquer, passando por várias vilas, cidades e aldeias dos municípios de Oeiras, Lisboa, Loures, Sintra, Sobral de Monte Agraço, Vila Franca de Xira e, entre outros, Arruda dos Vinhos). Segundo as informações da época, a chuva chegou a atingir os 170 litros por m2 por hora. A água e a lama, assim de enxurrada, levaram bairros e aldeias, tendo derrubado cerca de 20 mil casas e matado cerca de 700 pessoas.

    Mas passemos à transcrição do artigo de "A Voz de Ermesinde" de há 50 anos:

    "Um ano que se finda e outro que começa. Como sempre surgem as interrogações, formulam-se novas directrizes procura-se corrigir e alterar aquilo que nos pareceu errado ou achamos susceptível de aperfeiçoamento. É geral e louvável o esforço de se melhorar, de se criar em torno de nós e dos nossos semelhantes um clima de paz e um ambiente de felicidade. Recordamos com pesar todas as agruras que o ano que passou, nos fez sofrer, e quase sempre esquecemos o que de bom ele nos deu. Trocamos cumprimentos, sentimo-nos felizes ao desejar essa felicidade aos outros, apreciamos mais e melhor o aconchego das nossas famílias e das nossas casas, avaliamos com mais profundidade o sofrimento alheio, magoa-nos mais do que nunca o conhecimento da calamidade das guerras, da injustiça dos homens, da fúria dos elementos, da miséria e da dor.

    O Natal, o Ano Novo, os Reis, datas de festa, datas de família, sobretudo datas de Amor e de Bondade, são como águas de um lago tranquilo reflectindo as consciências puras, cercadas do mar revolto e das paixões mesquinhas num mundo em desiquilíbrio que as ameaça subverter. Não devemos contudo desesperar, a humanidade chegará à conclusão do que mais do que a força, mais do que a arrogância, mais do que o despotismo, a transigência, a humildade e a dedicação hão-de vencer e hão-de dar aos povos aquele Bem Estar a que os viajantes involuntários pelos caminhos da Vida, têm incontestavelmente direito.

    Nem tudo é mau, há muito de belo e perfeito no coração da humanidade. Ainda há muito, quem viva feliz pela felicidade quo irradia, mais do que por aquela que usufrui. Os outros, somos nós em desdobramento, e ninguém de boa formação moral poderá sentir-se na plenitude dessa felicidade se não houver contribuído por qualquer forma ao seu alcance para a obtenção da felicidade alheia. A população desta linda e progressiva vila, por vontade própria, por impulso interior que a, agiganta, num acto de solidariedade que ultrapassa as fronteiras da Vila de Ermesinde e se manifesta até naqueles que lá longe nos confins do Mundo, trabalham e vivem, recordando com saudade a terra em que nasceram, sustenta e mantem como pode, o melhor que pode, o melhor que as suas limitações o permitem, a Obra extraordinária do Centro de Assistência Social, onde despreocupadamente brincam e são alimentadas mais de meia centena de desditosas crianças que na sua inocência no total alheamento da sua posição na vida e na sociedade nem sabem a quem agradecer o amparo, o carinho, o calor humano que recebem, nem queremos que elas o agradeçam, porque somos talvez nós quem tem a agradecer a oportunidade de praticar uma boa acção, somos nós que saindo do nosso comodismo colaboramos por qualquer forma nesta Obra modesta e simples no aspecto exterior, mas grande e rica de significado cristão, bem compensadora, sem dúvida daquilo que possa constituir o nosso esforço, ou mesmo o nosso sacrifício. Por todos eles, crianças e velhos, A VOZ DE ERMESINDE, "o seu jornal" apesenta Votos de Bom Natal e Feliz Ano Novo nestes dias de Festa e de Família".

    IMAGEM DA CAPA DA EDIÇÃO DE "A VOZ DE ERMESINDE" DE DEZEMBRO DE 1961
    IMAGEM DA CAPA DA EDIÇÃO DE "A VOZ DE ERMESINDE" DE DEZEMBRO DE 1961

    PROGRESSO E RENOVAÇÃO

    Esta mesma edição natalícia de "A Voz de Ermesinde" não deixou, como sempre foi seu timbre, de reivindicar as melhorias que achava necessárias para melhorar a vida da povoação que lhe dava o nome. Assim, sob o título, "Progresso e Renovação" defendem a criação do ensino secundário para esta vila (só chegaria quase 3 anos depois, mais concretamente no dia 2 de novembro de 1970, com o início de aulas na Escola Técnica de Ermesinde), conforme podem confirmar na transcrição que se segue.

    "Várias vezes, nestas colunas, temos feito referência à necessidade da criação de estabelecimentos oficiais de ensino secundário nesta progressiva e populosa vila de Ermesinde.

    Desapareceria, assim, uma das principais preocupações de muitos chefes de família, de situação mais modesta, que não têm possibilidades de matricular os seus filhos nas escolas ou liceus do Porto, pelos onerosos encargos que daí adviriam, quando eles desejariam dar-lhe uma melhor preparação, condizente com as necessidades actuais.

    Além disso os alunos matriculados em escolas ou liceus locais poderiam ter ainda melhor aproveitamento, pois além de poderem descansar, mais não teriam o problema dos transportes, feitos nem sempre em condições ideais, e ainda poderiam ter uma vigilância mais atenta por parte dos seus progenitores.

    Ora como são às centenas os alunos que se deslocam diàriamente para a capital nortenha - a linda invicta - já com os seus estabelecimentos superlotados, é de urgente e imperiosa necessidade a criação das referidas casas de ensino, pois outras vilas e cidades, com menos justificação, já possuem os seus liceus e as suas escolas técnicas.

    Para melhor se ajuizar a precisão de tais estabelecimentos, bastará dizer que no ano lectivo, as matrículas, feitas nesta vila, nas escolas primárias, excedem muito o milhar de crianças, números concludentes e que justificam claramente a razão da nossa afirmativa.

    Há pais que se lamentam, filhos que choram a sua desdita!...

    É necessário e urgente a resolução deste magno problema.

    Não podemos ficar indiferentes e cruzar os braços em sinal de apatia e alheamento, quando nos chegam aos ouvidos as súplicas angustiantes de tantos chefes de família que não têm possibilidades de criar una futuro risonho e acolhedor aos seus descendentes.

    É imperioso que se alertem as forças vivas de Ermesinde e que, deste belo e florido rincão nortenho, se faça ouvir ao longe a razão dos seus direitos, a voz fluente e penetrante que há-de ultrapassar o muro do silêncio, além do qual, estamos certos, não haverá somente comodismo e indiferença."

    Por: Manuel Augusto Dias

     

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