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    Arquivo: Edição de 20-10-2017

    SECÇÃO: Destaque


    ELEIÇÕES AUTÁRQUICAS 2017

    Entre o céu (PS) e o inferno (PSD)

    Vitória histórica do PS em contraponto com uma derrota também histórica do PSD. Esta pode ser uma primeira e breve leitura do que aconteceu a 1 de outubro passado, dia em que os portugueses foram chamados às urnas para eleger os seus representantes locais para os próximos quatros anos. As eleições autárquicas de 2017 ficam assim na história destes dois partidos: os socialistas obtiveram o seu melhor resultado de sempre, sendo que no campo oposto estão os sociais-democratas, com o dia mais negro da sua história no que a autárquicas diz respeito. No plano individual, e no que concerne ao confronto de líderes, pode dizer-se que a popularidade de António Costa fez-se notar, enquanto que do lado oposto da barricada Pedro Passos Coelho “abriu a porta” para abandonar a liderança do PSD, facto consumado dias mais tarde com o seu anúncio de que não se iria recandidatar à liderança do partido.

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    Porém, a popularidade da "geringonça", vulgo a aliança de esquerda na Assembleia da República (AR), não terá produzido os dividendos esperados para os dois partidos aliados dos socialistas neste órgão legislativo. Bloco de Esquerda e CDU tiveram uma jornada de má memória, sobretudo os comunistas, que viram uma dezenas de câmaras anteriormente suas passar para as mãos dos socialistas.

    Mas à direita nem tudo foi uma hecatombe. O CDS-PP e a sua líder, Assunção Cristas, muito em particular, saíram radiantes destas Autárquicas 2017 em virtude dos resultados obtidos. Os populares não só conquistaram mais uma câmara do que relação às eleições de 2013 (passam de cinco para seis Municípios sob a sua tutela) como também, e aqui está quiçá a grande vitória de Assunção Cristas, alcançaram um impensável segundo lugar em Lisboa, que é o melhor resultado dos democratas-cristãos na capital, superando os 20,6 por cento obtidos em 1976. Uma nota de destaque igualmente para as muitas candidaturas independentes, com o facto mais sonante a vir do Porto, onde Rui Moreira foi reeleito, mas desta feita com maioria absoluta. Aliás, no que concerne a candidaturas independentes, elas foram em maior número nestas eleições face a 2013, e maior foi também o número de Câmaras conquistadas em relação às autárquicas anteriores: 17 (em 2017) contra 13 (em 2013). Para além da vitória esmagadora de Rui Moreira no Porto, outro independente que esteve no centro das atenções pelo seu triunfo foi Isaltino Morais, que, depois de ter cumprido pena de prisão por crimes de fraude fiscal, (re)conquistou Oeiras.

    Mas vamos a mais números. O grande vencedor da noite eleitoral de 1 de outubro, o PS, arrecadou um total de 159 câmaras (em 2013 tinha conquistado 149), obteve mais votos, 37,83 por cento (quase mais dois pontos percentuais do que os obtidos há quatro anos), aumentou igualmente, em relação às eleições de 2013, o número de maiorias absolutas, passou de 120 para 142, além de ter obtido mais mandatos nas câmaras e juntas de freguesias. Foi uma vitória expressiva para o PS, a primeira sob a liderança de António Costa. A "pedra no sapato" dos socialistas parece ter sido o Porto, onde Manuel Pizarro não conseguiu (contrariamente ao que indicavam algumas sondagens) ameaçar a supremacia do independente Rui Moreira, não conseguindo na Cidade Invicta o PS reatar o "casamento" com o autarca independente como aconteceu em 2013.

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    Uma das grandes vítimas dos socialistas foi um dos seus parceiros parlamentares, a CDU, que obteve um mau resultado, e que dá que pensar se a aliança à esquerda - com PS, sobretudo - terá sido um bom negócio, mesmo com António Costa a colocar "água na fervura" ao dizer que a estrondosa vitória do seu partido não era uma derrota de nenhum dos seus parceiros da AR. De acordo com dados mais concretos, os comunistas perderam dez câmaras (passaram de 34 para 24), quase todas para o PS, sendo que algumas delas são autênticos bastiões comunistas, caso de Almada. Barreiro, Beja, Castro Verde, Moura, ou Alandroal foram outras autarquias até aqui dirigidas pelos comunistas e que nos próximos quatro anos vão ser dirigidas pelos socialistas. Em termos percentuais, a CDU caiu cerca de dois pontos a nível nacional, passou de 11,06 por cento (em 2013) para 9,45 por cento (em 2017).

    Um "resultado modesto", foi assim que a coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, comentou os resultados do seu partido na noite de 1 outubro. Na verdade, os 3,29 por cento obtidos pelos bloquistas a nível nacional mostram que o Bloco está ainda longe de ser um partido com tradição autárquica, um partido com raízes e representação vincada nas autarquias, mas que... lentamente parece caminhar para o vir a ser, se olharmos bem para este resultado. Em comparação com as Autárquicas de 2013, o Bloco de Esquerda cresceu pouco, é certo, mas cresceu. Passou, em termos nacionais, de 2,42 por cento para os tais 3,29 por cento, conquistou mais mandatos, quer em assembleias de freguesias, quer em executivos municipais e assembleias municipais, um sinal evidente desse pequeno crescimento. Falhou no entanto, alguns objetivos nestas autárquicas, como por exemplo, reconquistar a Câmara de Salvaterra de Magos, ou eleger um vereador na Câmara do Porto, mas também é certo que festejou a eleição de um vereador na autarquia de Lisboa, quiçá o ponto alto destas eleições para os bloquistas. No arco dos partidos da "geringonça", o Bloco teve no cômputo geral um resultado modesto, como disse a sua coordenadora, mas não tão negativo como a CDU. Além da dezena de autarquias perdidas, como já foi referido, os comunistas perderam influência (o mesmo é dizer votos) em vários concelhos do Alentejo, uma região onde por tradição sobressaem. Depois do PSD, a CDU foi provavelmente o maior derrotado da noite eleitoral (este foi o maior desaire da história dos comunistas em autárquicas), fazendo assim com que as aspirações de Jerónimo de Sousa em reforçar a presença da coligação (composta por Partido Comunista Português e Partido Ecológico Os Verdes) nas autarquias saísse gorado.

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    Já Assunção Cristas era uma mulher feliz na noite de 1 de outubro. Tinha não só acabado de assegurar um segundo lugar histórico na corrida à Câmara de Lisboa, reduzindo o PSD - e a sua candidata, Teresa Leal Coelho - à insignificância, como também assistido a um ligeiro ascendente do CDS-PP em termos de representações autárquicas - no que diz respeito a dados percentuais, o partido obteve 11,7 por cento, número este que inclui as coligações feitas pelos populares com outras forças partidárias, já que, quando nas candidaturas a solo (sem coligações), os populares não obtiveram mais do que 2,60 por cento dos votos. Em consequência desta eleição, os centristas não apenas mantiveram as cinco câmaras conquistadas em 2013, como a estas somaram a autarquia de Oliveira do Bairro, além de que viram o independente Rui Moreira - que voltou a ter, nunca é por demais recordar, o apoio do CDS-PP - festejar a maioria absoluta no Porto.

    Agora vamos aos grandes derrotados da noite: o PSD. A catástrofe atingiu números impressionantes - o partido alcançou uma votação de 25 por cento, já contando com as várias coligações que fez, pois sozinho não foi além de uns históricos (do ponto de vista negativo) 16,07 por cento - e perdeu (muita) influência em vários pontos do país, sobretudo nos dois principais centros: Lisboa e Porto. Na capital, os sociais-democratas ficaram, como já vimos, bem atrás do CDS-PP, perdendo dois lugares na vereação (passaram de quatro para dois), enquanto que os populares arrecadaram quatro, e o PS (vencedor) oito. Também no Porto o papel do PSD nos próximos quatro anos irá passar quase despercebido atendendo a estes resultados, já que os social-democratas perderam dois vereadores (têm agora apenas um!) em relação a 2013.

    No "campeonato dos pequenos" existem algumas notas a salientar: Oliveira de Frades foi conquistada pelo movimento Nós, Cidadãos! (NC), enquanto que a autarquia de Santa Cruz (Madeira) foi arrebatada pelo movimento Juntos Pelo Povo (JPP), e ainda o facto de o Livre, que fez a sua estreia em autárquicas, ter vencido, ainda que em coligação com o PS, a Câmara de Felgueiras. Aliás, em relação aos movimentos JPP e NC, este não foi o único triunfo da noite eleitoral, já que, intragados numa coligação liderada pelo PS e qua contou ainda com Bloco de Esquerda e Partido Democrático Republicano, venceram a Câmara do Funchal.

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    Em termos de mapa administrativo, Portugal é agora um imenso "roserial", por outras palavras, o PS venceu sozinho em 12 dos 20 distritos do país (em termos de presidências de Câmara), sendo que noutros dois (Viana do Castelo e Viseu) divide a vitória com o PSD. Os social-democratas, por sua vez, venceram em cinco distritos, ao passo que a CDU manteve o primeiro lugar em Setúbal.

    Fazendo agora uma breve análise aos resultados verificados na Área Metropolitana do Porto, constata-se que à semelhança do resto do país esta foi uma noite em que o PS teve motivos para sorrir. Os socialistas conquistaram dez das 17 câmaras da região. E se em algumas delas não só renovaram a sua liderança como também a reforçaram com maiorias absolutas, casos de Vila Nova de Gaia, Gondomar, ou Valongo, por exemplo, noutras retiraram o poder das mãos do PSD, casos de S. João da Madeira, Oliveira de Azeméis e Paredes, câmaras de forte tradição laranja. No mapa da região o PSD manteve apenas quatro das oito câmaras conquistadas em 2013, enquanto que o CDS-PP manteve a autarquia de Vale de Cambra. No plano dos independentes, Rui Moreira foi reeleito, como já vimos, para mais um mandato à frente da maior autarquia da região (Porto) e Elisa Ferraz reconquistou Vila do Conde, embora desta feita a solo, isto é, sem o apoio do PS, como há quatro anos atrás. Uma derradeira nota para a abstenção: desceu ligeiramente, é certo, de 47,40 por cento (em 2013) para 45,04 por cento (em 2017), mas continua a ser um facto o divórcio que vem sendo consumado ato eleitoral após ato eleitoral entre os cidadãos e o dever cívico de votar.

    Por: MB

     

     

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