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Edição de 30-04-2024
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    Arquivo: Edição de 15-12-2016

    SECÇÃO: Crónicas


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    Nós e o tempo

    Entre nós e o tempo existe uma relação de necessidade, de inevitabilidade. E quando dizemos "nós", referimo-nos a tudo quanto existe, aos homens como a todos os seres vivos, o mesmo aos inertes incluindo o planeta que nos serve de morada, o sistema de que ele faz parte, e os demais sistemas que compõem o Universo. Tudo tem um princípio e um fim, o surgimento e a desaparição. No que respeita aos seres humanos como a todos os seres vivos, há um intervalo entre os dois momentos o que surge quando nascem e o que acontece quando morrem. Esse é o tempo da vida, o tempo que leva até que a âmbula superior da ampulheta deixe escapar para a âmbula inferior o último grão de areia. Nesse lapso existencial, cuja duração ignoramos, foi-nos atribuído um papel que devemos desempenhar da melhor forma possível entregando o testemunho aos que partilharam connosco minutos, dias, anos ou décadas e a que estes e os vindouros hão de dar seguimento.

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    Faço esta reflexão quando se aproxima o Natal, uma das maiores festas do calendário cristão em que se comemora a vinda ao mundo de Jesus, o Salvador. O facto de estar situada no dia 25 de dezembro não significa que essa tenha sido a data em que Jesus Cristo realmente nasceu. A História relata o facto mas não o situa no tempo. Os primeiros registos da comemoração litúrgica do nascimento de Jesus em 25 de dezembro foram apresentados, no Cronógrafo do ano 364 da nossa era, mas sabe-se que não existia unanimidade entre os cristãos dos primeiros séculos em relação a essa festividade. A Bíblia nada diz sobre o dia exato em que o Grande Acontecimento ocorreu e, por isso, a celebração do Natal não fazia parte dos costumes cristãos. Os estudiosos concordam em que tal data foi adotada para substituir a festa pagã da Saturnália que, por tradição, acontecia entre os dias 12 e 25 de dezembro. A preferência pelo dia 25 deveu-se à celebração, entre os povos pagãos, do nascimento do deus Sol no solstício de inverno (natalis invicti solis - nascimento do deus Sol Invicto) ou do deus Mitra, originário da Pérsia, cujo aniversário era celebrado nessa ocasião. Para essa escolha contribuiu também o simbolismo natural de festejar nos primeiros dias em que a luz nasce depois do solstício de inverno o que significava, na verdade, ver no Natal de Jesus Cristo "o sol de Justiça e de Verdade" que dissipa as trevas. A ressignificação do Natal foi feita pela Igreja de Cristo, no século III, para estimular a conversão dos povos pagãos sujeitos ao domínio romano. A festa efetivou-se a partir do século IV no Ocidente enquanto no Oriente ocorreu apenas no século seguinte, embora na Turquia já houvesse registos de celebrações natalícias no século II. Oficialmente, considera-se a fixação dessa data pelo Papa Júlio I no ano 350 da nossa era como o marco inicial do Natal Cristão passando a considerar-se feriado em todo o mundo. E se, de início, era simples festa, ainda que muito importante, de uma data fundamental para os seguidores de Jesus Cristo, foi ganhando, com o passar dos anos e dos séculos, importância cada vez maior, tendo-lhe sido acrescentados novos ritos religiosos e também profanos: o presépio, a árvore de Natal, os presentes do Menino Jesus, de S. Nicolau que, no século IV, foi Arcebispo de Mira na atual Turquia e que era muito caritativo (Santa Klaus na tradição germânica) e, desde o século passado, o Pai Natal cuja figura e roupagens e deram origem à exploração comercial que é por todos conhecida. Foi, sem dúvida, o presépio aquele que, primeiro e ao longo de séculos, mais emocionou os crentes e influenciou a arte. O 1º presépio do mundo terá sido Montado por S. Francisco de Assis em 1223. Nesse ano, em vez de festejar a noite de Natal na igreja como era seu hábito, decidiu representá-lo com criaturas humanas e com animais na floresta de Greccio perto de Assis para onde mandou transportar uma manjedoura, uma vaca e um burro com a intenção de explicar aos camponeses, gente simples de pouco entendimento, como aconteceu o nascimento de Jesus.

    Regressando, agora, à reflexão com que iniciei esta crónica, aquela distante noite de Natal foi o alfa da vida de Jesus enquanto homem que teria como ómega o momento da sua morte no Calvário trinta e três anos depois. Mas, ao contrário dos restantes seres humanos, este não foi o derradeiro ato da sua passagem pelo mundo porque "ao terceiro dia, segundo as Escrituras," ressuscitou, apareceu aos apóstolos e ascendeu ao Céu "onde está sentado à direita do Pai". Embora a Ressurreição de Jesus seja a festa maior dos cristãos, o acontecimento magno que demonstra a Sua divindade e justifica a nossa Fé, o Natal foi, desde os primórdios do Cristianismo, aquele que mais emocionou os fiéis. Não importa tanto o folclore que veio a ser criado por grandes empresas industriais e comerciais. Esse é o natal profano que tem como grande motivação o negócio, a materialidade. Não enjeitando o aspeto social e lúdico que congrega as famílias e demonstra o apreço pelas pessoas amigas, o Natal deverá ser, essencialmente, a manifestação de regozijo pelo Nascimento daquele que veio até nós para nos salvar.

    Por: Nuno Afonso

     

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