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    Arquivo: Edição de 15-12-2016

    SECÇÃO: História


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    60º Aniversário do Centro Social de Ermesinde (23)

    O Centro de Assistência Social em 1960

    Retomamos a entrevista ao Presidente da Direção do Centro de Assistência Social de Ermesinde, António Moreira da Silva, que foi feita no início de 1961, onde dá conta da atividade desta Instituição durante o ano anterior e das dificuldades que os dirigentes do Centro tinham de superar para continuar a apoiar humanitariamente a população mais pobre da então vila de Ermesinde.

    Pergunta (P): Certas censuras que, por vezes, fazem aos trabalhos do Centro terão alguma razão de ser?

    Resposta (R) - Perante tal pergunta, permita que a minha resposta seja devidamente esclarecedora. E então, aí vai: Sócios do Centro há - e proprietários até - que, cotizando 2$50 ou 5$00 por mês, exigiram que subsidiássemos o pai ou a mãe quando estes foram proibidos de mendigar pelas ruas vila.

    Como tal lei não tivesse chegado, ainda, não pudemos atender tal pedido. Levaram a mal e pediram a demissão de sócios. E ei-los, então, onde querem e onde podem a censurar a nossa obra, nunca confessando a sua dor e procurando encobrir seus actos... Há, também, a censura de um ou outro comerciante, que tem no "livro" um débito incobrável de um seu cliente, e como este é pobre e não paga "quem devia pagar era o Centro"; e se um inquilino, por que é pobre e tem falta de trabalho, se deixou atrasar na renda "quem devia pagar era o Centro"... Depois, a tal crítica - "O Centro não está a dar a quem precisa - compreende? - Outros, muito humanitários não dão um tostão a quem precisa, mas pregam aos quatro ventos que "o Centro não dá a quem mais precisa" ou então que "eles têm afilhados"!

    Deficiências podem existir. Ninguém as pode evitar, mas, compreende, os dirigentes do Centro só trabalham neste organismo à noite e depois de um dia de intenso trabalho que todos nós temos, e diariamente até à uma hora da madrugada; e, muitos deles seguem para as ocupações diurnas nos primeiros comboios da manhã. Aos domingos, das 15 às 21 estamos reunidos a estudar os problemas mais urgentes.

    Concordo que deficiências haja, mas agradecemos que no-las apontem para as remediarmos, pois muitas há que são mais difíceis encontrar do que "agulha em palheiro" como se costuma dizer. Quanta miséria há que até a própria vizinhança a desconhece!...

    P: O Centro tem bons colaboradores?

    R - Ai do Centro se não tivesse os bons colaboradores que tem. Graças a Deus que en-contrámos óptimos amigos, daqueles amigos com A grande, a quem a Direcção a que presido tudo deve. Que me seja permitido, porém, de entre todos destacar dois nomes-da Ex.ma Sr.ª D. Odete e do seu marido o Ex.mo Sr. Tenente-Coronel Aires Martins. A "Roseiral" - a encantadora vivenda das Arregadas - é, pode mesmo dizer-se, a segunda sede do Centro de Assistência. Ali nos reunimos com inteiro agrado dos proprietários de tão feliz Lar, sempre que necessário seja. Ao ilustre casal Aires Martins, interessa sempre a vida do Centro e o bem estar dos seus pobres. Ah, quanto, quanto lhes devemos! E quanto os pobres lhes devem! Que Deus lhes pague e faça o seu "Roseiral" tão feliz como merecem - é o nosso desabafo!

    Decerto, a todos os restantes colaboradores do Centro estamos muito reconhecidos pela sua ajuda e a todos só podemos dizer, em nome dos pobres: - Muito obrigados.

    P: É difícil tratar com os pobres os assuntos a eles ligados?

    R - Sempre que tratamos qualquer assunto com os nossos pobres, levamos connosco a Caridade e, com esta arma, nenhuma dificuldade encontramos. No entanto, há pobres bons e pobres maus... alguns mesmo muito mauzinhos!... Não podemos dizer que sejam exigentes na maneira de os tratar... querem carinhos, compreende!...

    Existem, sim, os falsos pobres, já de nós conhecidos. Esses, sim, esses são intratáveis em toda a acepção da palavra, mas nós procuramos ser correctos e quando não somos correspondidos, tomamos os meios mais apropriados para corresponder.

    P: O serviço da Cantina tem aumentado?

    R - Sim, vai crescendo dia a dia e, principalmente, neste Inverno rigoroso que se tem feito sentir no trabalhar ao tempo. Porém, o nosso dedicado chefe da Cantina, sr. Luís António, lá vai sabendo orientar as coisas de tal maneira, que tudo se remedeia.

    Ele, que já vem da fundação da "Sopa dos Pobres", é o nosso braço direito. Pena é que a sua precária saúde nem sempre o deixe trabalhar como ele próprio deseja.

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    P: Poderá dizer-nos alguma coisa sobre o futuro do Centro?

    R - Posso. Se Deus nos ajudar e nos der saúde esperamos continuar a luta para que em fins do corrente ano, em Ermesinde não haja um lar onde tenha penetrado miséria.

    P: Quanto espera a Direcção gastar em 1961?

    R - O dobro do que gastou em 1960.

    P: Será isso possível?

    R - Assim espero. Pelo menos trabalhamos para que isso aconteça. Quando tomámos em nossos ombros esta obra, nunca pensámos que a mesma chegasse onde chegou. E agora, com as raízes fortes que a obra tem, o caminho é um só - Sempre em frente e cada vez mais e melhor, pois enquanto houver um lar com miséria jamais as nossas vozes deixarão de ser ouvidas. E como filho de Ermesinde que sou sinto em meu coração a garantia desta obra, pois que são os filhos que esta terra abriga que querem que o pobre seja menos pobre.

    P: Sr. Presidente, conta ainda com mais proveitosa colaboração para o corrente ano?

    R - O número de colaboradores desta obra deve atingir cerca de 200. E, sendo assim, garanto-lhe, meu amigo, que a obra há-de dar muito que falar em Ermesinde e de Ermesinde!

    P: Fala-se numa sede com vários departamentos de assistência…

    R - Sim. O terreno já o possuímos. São 1600 metros quadrados que nos foram oferecidos pelo nosso grande amigo sr. José Carneiro Coelho de Melo e sua Ex.ma esposa, o qual está já de nossa posse e com a escritura feita. Fica situado no lugar da Cancela. O projecto da obra a construir (trabalho do nosso colaborador e amigo sr. Mário Ramalho) já se encontra em Lisboa, em poder das entidades competentes para aprovação e respectiva comparticipação do Estado. O valor total da obra está orçado em mil e duzentos contos. Tal imóvel, que muito honrará Ermesinde e o Norte do País, é composto de cantina, refeitório, lactário, creche, albergues para homens e mulheres, dis-pensários pré-maternal, maternal e infantil, consultórios, espaçosas salas de espera, gabinete da Direcção, de médico e de enfermagem e ainda um jardim-infantil.

    P: E para quando essa edificação?

    R - Se tudo correr como desejamos espero que ainda em fins do corrente ano ou princípio do próximo, algumas secções fiquem em funcionamento.

    P: Contam, claro está, com grandes auxílios além do auxílio do Estado, não é verdade?

    R - Contamos. E diversas iniciativas estão em vista, como festivais, sorteios devidamente autorizados, etc.

    P: Parece-me até, que um rancho folclórico está já formado em Ermesinde para realização desses festivais.

    R - Por enquanto, em organização, não obstante terem já alguns ensaios e reinar grande entusiasmo nesse punhado de rapazes e raparigas de Ermesinde, pelo seu "rancho" que está a ser dirigido artisticamente pelo conhecido mestre do "metier" sr. Israel de Magalhães.

    Na direcção administrativa estão elementos de valia para que o Rancho Folclórico do Centro de Assistência Social de Ermesinde venha a ser considerado um dos melhores de cá do Norte. Assim o espero.

    Por: Manuel Augusto Dias

     

     

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