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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 30-11-2016

    SECÇÃO: História


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    A primeira Guerra Mundial tem cem anos (20)

    Diário de um Prisioneiro de Guerra (parte 3)

    Nesta edição continuamos a seguir o "diário", que o Tenente-Coronel João Carlos Craveiro Lopes escreveu enquanto foi prisioneiro dos alemães, no período final da Primeira Guerra Mundial. Aí foi registando o quotidiano dos Campos de Prisioneiros destinados a oficiais, que conheceu. Hoje abordaremos, concretamente, alguns casos de tentativas de fuga por parte de oficiais portugueses, o funeral de um capitão português que morreu no Hospital, enquanto prisioneiro, e a ansiedade com que era aguardado o fim da guerra que afinal chegaria à 11.ª hora, do 11.º dia, do 11.º mês de 1918.

    O testemunho que está na base deste conjunto de artigos é do Tenente-coronel João Carlos Craveiro Lopes, escrito no período em que era prisioneiro dos alemães, durante a Primeira Guerra Mundial, tinha 47 anos. Nos sete meses em que se manteve como prisioneiro passou a escrito as vivências que ia tendo, com os seus camaradas aprisionados.

    ALGUMAS

    TENTATIVAS

    DE FUGA

    VÁRIOS MILHARES DE COMBATENTES PORTUGUESES FORAM FEITOS PRISIONEIROS DOS ALEMÃES NO DIA 9 DE ABRIL DE 1918
    VÁRIOS MILHARES DE COMBATENTES PORTUGUESES FORAM FEITOS PRISIONEIROS DOS ALEMÃES NO DIA 9 DE ABRIL DE 1918
    Para quem está preso, o maior desejo é certamente o de ficar em liberdade. E, no contexto da Guerra, dadas as péssimas condições em que os presos sobreviviam, a fuga parecia a alguns a única forma de fugir à morte, apesar de fora da prisão tudo ser estranho, pessoas, trajes, casas, língua. Tudo estava, pois, contra quem tentava a sua sorte através de um episódio de fuga.

    Mesmo assim, o Tenente-coronel João Craveiro Lopes dá notícia de algumas de que teve conhecimento ao longo do tempo que ali permaneceu. A primeira foi levada a efeito por oficiais ingleses, que estavam instalados num bloco vizinho ao dos portugueses, e rapidamente foram recapturados. As medidas tomadas contra os fugitivos não foram tão duras como seria de esperar, mas os restantes prisioneiros foram advertidos contra a tentação de lhes seguirem o exemplo.

    Em 23 de maio, Craveiro Lopes informa que "O coronel foi chamado ao comandante do campo que lhe disse para prevenir os oficiais portugueses (…) que era impossível chegarem a alcançar a liberdade e que a repetição desses factos importaria medidas que nos seriam desagradáveis, medidas de repressão que todos pagariam".

    Contudo, no mês seguinte, a 12 de junho, 3 oficiais portugueses fogem durante a noite e alguns ingleses de um bloco vizinho são apanhados, dia 25 de junho, a tentar escavar um túnel para se evadirem. Mesmo assim, os portugueses capturados a 18 dias depois, a 30 de junho, não conheceram maus tratos, tendo como único castigo, 15 dias de prisão.

    E, passados apenas três dias, ocorre uma notícia mais triste, o capitão português Simões Dias acaba por morrer no hospital, no dia 3 de julho de 1918. Pondo-se a questão do seu funeral e do respetivo acompanhamento, o Comandante do Campo permite que 30 oficiais portugueses tomem parte nas cerimónias fúnebres, desde que assinem previamente uma declaração prometendo não fugir durante o funeral.

    A cerimónia terá ocorrido sem qualquer fuga e os oficiais portugueses presos foram "acompanhados por uma banda de música e por 30 soldados alemães, não na qualidade de escolta, mas de força destinada a homenagear o falecido". Craveiro Lopes, no seu testemunho, dá ainda mais pormenores: "A força deu três descargas, a banda tocou uma marcha. Depois de agradecermos aos oficiais alemães, retirámos para o bloco levando apenas um soldado como guia, pois havíamos dado a palavra de honra de que não tentaríamos fugir".

    Este mesmo tipo de declaração foi exigida pelo Comandante do 2.º campo de prisioneiros, em Ratzeburg, aos oficiais portugueses que ali estavam detidos: "quem quisesse sair para passeio tinha de assinar uma declaração, dando a palavra de honra de que não fugia durante o passeio", e assim se terão organizado vários passeios com grupos de 40 oficiais.

    O FIM DA GUERRA

    APROXIMA-SE

    À medida que a derrota alemã se adivinhava, as condições dos prisioneiros de Guerra pioravam, agravando-se a pobreza alimentar e surgindo um ambiente mais crispado na relação com o Comandante do Campo de Ratzeburg, passando os oficiais portugueses a serem nomeados, também, para o serviço de ordenanças e para entrarem de faxina.

    Por isso não é de estranhar o estado de impaciência que começava a afetar alguns dos oficiais portugueses presos que ansiavam pelo fim da guerra, ganhasse quem ganhasse. Assim, Craveiro Lopes, escreve a 28 de maio, no seu diário o seguinte: "passei o dia deitado, lendo e jogando umas partidas de gamão. De tarde tivemos notícias de uma grande ofensiva alemã e que já tinham sido feitos 15.000 prisioneiros (...) Está tudo satisfeito, esperando o fim próximo da guerra e portanto a nossa liberdade".

    A 3 de junho, Craveiro Lopes faz referência às notícias que terá lido num jornal onde se afirma que as tropas alemãs estão a 60 quilómetros de Paris, e que o governo francês teria deixado a capital. E o oficial português acrescenta e interroga-se: "Também diz o jornal que Portugal não enviará mais tropas para França. Será o fim? Será a nossa liberdade? Deus o queira!".

    Mais tarde, ainda se regista uma nova tentativa de fuga de oficiais portugueses: cinco terão tentado a sua sorte, no dia 17 de setembro, mas debalde, seriam recapturados em pouco tempo, apenas cinco dias (22 de setembro). Desta vez, o nosso informador não dá detalhes sobre o castigo que lhes terá sido aplicado, mas o Comando do campo não mostra a mesma serenidade que nas tentativas anteriores e os outros prisioneiros também seriam penalizados, vendo reduzida a ração para metade, no pressuposto de que os mesmos teriam sido cúmplices, ou pelo menos teriam tido conhecimento dos preparativos para a evasão.

    A ASSINATURA

    DO ARMISTÍCIO

    O cessar-fogo ou o Armistício com que terminaria a Primeira Grande Guerra, de tão má memória para Portugal, entrou em vigor às 11 horas do dia 11-11-1918 - a décima primeira hora, do décimo primeiro dia, do décimo primeiro mês do ano de 1918.

    O dia 11 de novembro de 1918 encheu de contentamento muitos milhões de pessoas que se viram finalmente livres da Guerra, com a definitiva rendição da Alemanha.

    O local da reunião, que durou três dias, foi mantido em segredo: só algumas fotografias e desenhos testemunham a existência do encontro. Com a assinatura do Armistício entre as delegações dos principais países beligerantes, chegariam ao fim as hostilidades que duraram 4 anos e três meses.

    Nesta reunião em que se deliberou o fim da Guerra participaram, do lado dos Aliados, o General Weygand, o Marechal Foch, os Almirantes Britânicos Rosslyn Wemyss e G. Hope; e, do lado alemão, o Ministro de Estado Matthias Erzberger, o General Detlof von Winterfeldt do Exército Imperial, o Conde Alfred von Oberndorff dos Negócios Estrangeiros e o comandante Ernst Vanselow da Marinha Imperial.

    Por: Manuel Augusto Dias

     

     

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