ELEIÇÕES PARA O PARLAMENTO EUROPEU
Derrota histórica inquestionável da direita
A recusa da narrativa governamental sobre o processo de reequilíbrio das finanças públicas em Portugal é a mais significativa das conclusões a tirar da votação para o Parlamento Eutopeu que, mais do que eleger os deputados para Bruxelas, fez o julgamento das políticas de Passos Coelho e Paulo Portas, um e outro saindo muito mal na presente fotografia.
Essa recusa é ainda mais clara quando o eleitorado demonstra claramente também alguma desconfiança no próprio PS que, embora ganhando as eleições, vê o descontentamento em grande parte canalizado para outras forças políticas que não aquelas sujeitas ao memorando da troika.
Assim registe-se a grande onda de apoio a Marinho Pinto, que praticamente reinventa o MPT, e o crescimento sustentado da votação na CDU.
Nestas circunstâncias em que o voto de protesto é manifesto, mais clara é a derrota do Bloco de Esquerda, erodido por uma liderança bicéfala muito mais apagada do que a liderança no período de Francisco Louçã (que tinha ainda Miguel Portas e Fernando Rosas ao seu lado), e pelas cisões do Livre e do MAS.
Embora mecanicamente não se possam transpor estas votações para o que poderiam ser eleições legislativas, não pode deixar de assinalar--se que, dados a proximidade das eleições para a Assembleia da República e o nível de descontentamento registado, é bem possível termos em breve deputados eleitos pelo MPT, Livre e PAN.
A derrota da coligação PSD/CDS é mesmo histórica, sendo a sua votação não apenas ultrapassada pelo PS, mas também – e isto é significativo – praticamente idêntica à soma dos votos na CDU, Partido da Terra, Bloco e Livre, e desprezando mesmo a votação no PAN e no MRPP.
A grande surpresa e triunfador destas eleições é o Partido da Terra, ou melhor, o seu cabeça de lista Marinho Pinto, que arrastou consigo para Bruxelas um segundo deputado do MPT.
Ao nível do distrito do Porto a distância da coligação PSD/CDS para o PS é ainda maior que a votação no País. Mas como a taxa de abstenção é menor no distrito do que a nível nacional, ao passo que, no País, menos de um em cada dez eleitores votou nas forças que apoiam o Governo, no distrito do Porto PSD/CDS conseguem uma votação que vai um pouco acima dos 10%. Também aqui o aumento dos votos nulos se mantém em linha com a tendência nacional generalizada.
No plano concelhio local regista-se uma derrota ainda mais pesada da coligação PSD/CDS. Aqui se a coligação fica ainda mais longe do PS (6 842 votos contra 10 508), por outro lado, perde também claramente para a soma das votações na CDU, Partido da Terra, Bloco e Livre (que juntos somam 8 411 votos!).
A abstenção é idêntica à registada no distrito (por isso inferior à abstenção nacional, mas o descontentamento também é visível por um maior número de votos brancos e nulos.
A nível das freguesias do concelho registe-se a grande votação da CDU na União de Freguesias de Campo e Sobrado, herdando aqui as votações históricas dos comunistas na freguesia de Campo. E mesmo a grande votação no MRPP resulta provavelmente de votos equívocos destinados aos comunistas. Veja-se a muito menor votação do Bloco na união destas freguesias.
Em Ermesinde, Valongo e Alfena (aqui menos) a geometria das votações é idêntica, com uma vitória sólida do PS.
Por:
LC
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