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    Arquivo: Edição de 15-04-2014

    SECÇÃO: História


    EFEMÉRIDES DE ERMESINDE - MARÇO

    Associação Cultual de Ermesinde

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    Aquando da Primeira República e, sobretudo, após a aprovação da Lei da Separação do Estado das Igrejas, em 20 de abril de 1911, por parte do Governo Provisório da República Portuguesa, Ermesinde foi uma das freguesias que teve a sua Associação Cultual, em funcionamento pleno, a partir de março de 1912, há, portanto, 102 anos. Isto porque o Pároco de Ermesinde era uma figura monárquica e que tomou partido pela restauração da Monarquia em Portugal.

    Logo na primeira sessão da Comissão Administrativa da Junta da Freguesia de Ermesinde, após o 1.º aniversário da República, o Presidente, Amadeu Vilar, «participou que como era do dominio publico o parocho d’esta freguesia Paulo Antonio Antunes tinha abandonado o seu logar no dia um do corrente mez e em vista d’isso tinha recebido ordem do administrador do concelho para tomar conta da residencia assim como de tudo que pertencia á Igreja o que foi cumprido» (cf. ata da sessão da Junta da Freguesia de Ermesinde, de 15 de outubro de 1911).

    Amadeu Vilar, enquanto republicano com responsabilidades administrativas, teve de lutar contra a declarada hostilidade do pároco local, Monsenhor Paulo António Antunes. Este no dia 1 de outubro de 1911 abandonou a Igreja de Ermesinde, tendo-se envolvido na 1.ª incursão monárquica de 5 a 17 de outubro desse ano, após o que se exilou no Brasil.

    Por isso, Amadeu Vilar, cumprindo a legislação da Separação do Estado das Igrejas, e apesar de não ser católico, fundou uma associação cultual (designada Associação Beneficência e Culto de Ermesinde) que se encarregou da organização do culto católico em Ermesinde, entre março de 1912 e agosto de 1913, tendo como capelão, o Padre Paulo José Pereira Guimarães.

    Para conciliar o povo com a sua associação cultual, Amadeu Vilar organizou, ele próprio, a festa ao padroeiro S. Lourenço. Mas, mesmo assim, em agosto de 1913, os Corpos Gerentes pediram a dissolução da Associação Beneficência e Culto de Ermesinde, e o Administrador do Concelho, Dr. Maia Aguiar, através do seu ofício n.º 391, decidiu que ficava a cargo da Comissão Administrativa Paroquial de Ermesinde, presidida por Amadeu Vilar, «a guarda da Igreja e seus pertences».

    Recordemos que Amadeu Vilar foi um importante empresário industrial, tendo sido o primeiro sócio gerente da Fábrica de Fiação e Tecidos de Ermesinde, sita no lugar de Sá, que só há poucos anos deixou de estar em atividade. Para tornar mais cómoda e fácil a vida dos seus operários, Amadeu Vilar estabeleceu uma panificação na fábrica destinada exclusivamente ao fornecimento de pão aos operários e, mais tarde, criou uma cooperativa de consumo, onde eles poderiam abastecer-se dos géneros de primeira necessidade, a preços muito mais baixos que os do circuito comercial normal. Foi por sua iniciativa que se fez uma primeira ampliação da fábrica para melhor corresponder ao aumento da produção que se ia registando de ano para ano, e que se criou uma cantina, mais uma vez, destinada aos operários.

    Republicano convicto e histórico foi, com o Dr. Maia Aguiar, um dos fundadores do núcleo republicano local, por volta de 1908, denominando-se, depois do 5 de Outubro de 1910, Centro Republicano de Ermesinde, cuja sede se inaugurou, em edifício novo, nos começos de 1912, no lugar da Estação.

    Como Regedor e Presidente da Comissão Paroquial Republicana, a sua ação multiplicou-se em numerosas diligências que concorriam para a concretização de dois principais objetivos: melhorar a vida dos cidadãos, sobretudo dos mais pobres e desprotegidos, e trazer o povo para a República. Foi ele que propôs, na reunião da Comissão Paroquial de 6 de Novembro de 1910, «a conveniencia de se representar ao Ministerio do Interior afim de que esta freguesia passe a denominar-se freguesia de Ermezinde» (Livro de Atas da Junta, n.º 4, fls. 20 v. e 21). Foi ele que, ainda em 1910, terminou com a divisão do Cemitério, que separava os católicos dos não católicos. E é a ele, igualmente, que se deve a criação da primeira creche da região, destinada às crianças pobres. Lembrou o assunto na sessão da Junta Paroquial de 21 de maio de 1911, e ofereceu o 1.º donativo em setembro desse ano: 3 mil réis que recebeu como membro da Comissão Recenseadora, mais 400 réis a que tinha direito dos emolumentos de Regedor. A creche foi mesmo uma realidade e funcionou em parte do edifício da antiga residência paroquial, sob administração da Junta de Paróquia.

    É durante a sua presidência, no ano de 1911, que os antigos caminhos de Ermesinde passam a ter nomes de ruas. Assim, como já aqui tivemos oportunidade de referir, ao caminho da Ermida à Travagem é posto o nome de Rua de Miguel Bombarda (ainda hoje se mantém); à estrada da Formiga passa a chamar-se Rua de Cândido dos Reis (nos anos 30, passou a denominar-se José Joaquim Ribeiro Teles); à estrada que parte da Estação, Rua de 5 de Outubro; à estrada da Travagem, Rua de Elias Garcia; e à estrada da Travagem a Ardegães, Rua de Simões Lopes.

    Como livre-pensador e republicano convicto, Amadeu Vilar encarregou-se de comemorar dignamente os aniversários da Revolução Republicana em Ermesinde, de celebrar festivamente o Dia da Árvore e de aproveitar todas as oportunidades para bem propagandear o credo republicano.

    Após 1914, os desgostos da luta política, que não reconhece muitas vezes aqueles que de forma abnegada se entregam a um ideal doutrinário que não partidário, levam-no a refugiar-se, quase a tempo inteiro, na sua fábrica de tecidos.

    A partir daí abandona a vida política ativa, apesar de manter o seu interesse pelo progresso de Ermesinde e das suas instituições e coletividades. Foi, assim, que se tornou um dos fundadores e o primeiro Presidente da Direção dos Bombeiros Voluntários de Ermesinde.

    Por: Manuel Augusto Dias

     

     

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