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    Arquivo: Edição de 15-12-2013

    SECÇÃO: Editorial


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    Dançam, dançam, às vezes contra o vento!...

    Preparada para lembrar o fim do outono e os festejos de Natal deparei-me com a partida, já anunciada, de Nelson Mandela.

    Não podia deixar de lembrar «esse sorriso do tamanho do mundo» …

    A sua força na luta, a sua capacidade de diálogo, associada a uma perceção exata do tempo certo, concretizada através de pequenos gestos, fez dele uma figura ímpar da história do século XX.

    Neste outono seco as árvores encheram os jardins e as florestas de folhas douradas, desprendidas, soltas, movediças que dançam movidas pelo vento.

    Perderam a clorofila, mas dançam…

    Dançam ao sabor do vento e contra o vento, como Mandela.

    A dança tem essa magia comunicacional que o povo africano tão bem utiliza em rituais ancestrais, como nas cerimónias fúnebres.

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    «(…) A secura do sol causticou-as de rugas,

    um castanho mais denso acentuou-lhe os nervos

    e esta real e pobre criatura

    vendo o solo coberto de folhas outonais

    medita no malogro das coisas que a rodeiam» (1)

    Os poetas têm o dom de nos encherem a alma com palavras que gostamos de agarrar, especialmente quando o vazio da perda nos deixa a nós sem palavras, é o caso do poema das folhas secas de plátano de António Gedeão.

    Tal como as folhas, alguns amigos, conhecidos, ou notáveis, como Mandela, partiram: poetas, arquitetos, pintores, políticos e gente simples, mas gente que fez história, que são imortais, porque nos deixaram património, porque foram inovadores, porque lutaram por ideais, porque desenvolveram conceitos, porque amaram a vida e nela encontraram valores e saberes que nos transmitiram com beleza e sabedoria.

    Obrigado a todos os que partiram neste outono pelo que me ensinaram, pelo que construíram, pela ternura das palavras e das obras, pelo sentido universal do que fizeram, a Ramos Rosa, Alcino Soutinho, Nadir Afonso e Nelson Mandela.

    Hoje 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos, faz todo o sentido lembrar Mandela e continuar a luta pela paz e pela igualdade entre os homens.

    Em 1948 a Assembleia-geral da ONU adotou o dia 10 de dezembro como Dia Internacional dos Direitos Humanos.

    Mais tarde (1998) a Assembleia da República Portuguesa aprovou uma resolução na qual instituiu o dia 10 de dezembro Dia Nacional dos Direitos Humanos.

    «Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para os outros em espírito de fraternidade». (2)

    Mandela foi um defensor da liberdade e dos direitos dos mais desfavorecidos, lutou pela igualdade de oportunidade para todos e pelo fim de todas as formas de opressão.

    Aos 90 anos afirmou:

    «Onde quer que haja pobreza e doença, onde quer que os seres humanos estejam a ser oprimidos, há trabalho a fazer.

    Após 90 anos de vida, é tempo de novas mãos empreenderem a tarefa. Agora está nas vossas mãos».

    E há muito a fazer, sejamos dignos do seu legado.

    (1) António Gedeão, Poema das folhas secas de plátano, “Obra Completa!,

    Relógio D Água.

    (2) Artigo 1º da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

    Por: Fernanda Lage

     

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