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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 31-05-2013

    SECÇÃO: Crónicas


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    Um erro criativo

    À margem dum sonho pequenino,

    A sombra crua do viver antigo

    De trabalho insano e frugal sustento.

    Que um homem não vive só do vento

    Nem se governa com letra e fantasia.

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    Braço de menino é curto, longo o cabo da enxada,

    Duro o manejo da charrua na vessada

    E o largo quarto de lua descrito p’la gadanha,

    Mas pode segar a gabela de ferranha

    Estrumar a loja, dar de comer à cria.

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    “Trabalho de menino é pouco

    Mas quem o despreza é louco”-

    Assim diz o povo, e com razão

    Pois de geração em geração,

    A realidade sustenta a teoria.

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    Por um vidro partido, nessa manhã de inverno,

    Soprando, o vento arrepiava as folhas dum caderno

    Que o menino abandonara na carteira

    E onde deixara escrita mensagem certeira

    De um tema proposto que, em breve, interrompia.

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    Sequência de palavras que um erro intercalava:

    - “Entre parêntesis” - a mestra ensinava.

    O meu pai (tralha ) trabalha

    Segmento inconcluso, que o contexto nos valha

    Na compreensão do que o menino pretendia.

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    Ríamo-nos, tolos, daquele ato falhado

    Inconscientes do seu significado:

    Mais do que erro ortográfico, erro de escolha

    Do rumo a seguir na vida, inscrito ali na folha

    Não apenas exercício, profecia.

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    O rapaz cresceu, entre aldeia e serra

    Parco no convívio, amanhando a terra.

    Adiante foi chamado à vida militar

    E, como tantos outros, seguiu p’ro “ultramar”

    Porque era assim que, em regra, acontecia.

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    Do seu canto europeu, nem um ligeiro apelo

    A lembrança fagueira de um antigo anelo,

    Pais falecidos, herança minguada

    Entre irmãos repartida … quase nada.

    Era só o que a vida prometia.

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    Angola era uma luz mais promissora

    Pensava dia a dia, hora a hora,

    E, enquanto não findava a comissão,

    Retomava o estudo na intenção

    De alcançar o objetivo que antevia.

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    Fez a primária, o ciclo, o quinto ano

    Venceu o erro, corrigiu o engano

    Da frase que deixara interrompida

    E concluiu que em tudo, nesta vida,

    A força de vontade é nossa guia.

    Por: Nuno Afonso

     

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