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    Arquivo: Edição de 28-02-2013

    SECÇÃO: Crónicas


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    Os timoneiros

    Uma das vantagem de caminharmos muito a pé, para além de ser benéfico para a saúde, é a de termos tempo para “olhar” – ver coisas que fazem parte do nosso país real. Ultimamente nas minhas caminhadas, em trabalho, tenho tido oportunidade de ver que ainda existem muitas coletividades a que vulgarmente se chamam associações culturais e recreativas e Ermesinde não é exceção. Também a ideia que eu tinha de que quem as representava no topo da hierarquia, o presidente, o faria por uma questão de vaidade pessoal ou até “fonte de poder”, haveria de tombar por terra quando a amizade me cruzava com um colega de carteira que desempenha o papel de “presidente” de uma destas associações.

    Pessoa de carácter, de vontade férrea e de humildade quanto basta, ajudou-me a perceber que fazia jus ao “lema” da sua Associação – “O exemplo é o melhor dos sermões”, e foi a tentar perceber aquela paixão e aquele carinho por um sonho que já vinha da sua infância que mudei de atitude e de opinião sobre a importância social que tinham estas associações agora, uma fonte de interesse para a minha aprendizagem “on going”. E um lugar onde já não me coíbo de entrar e tomar um cafezinho, como aconteceu há poucos dias enquanto esperava pelo autocarro na “Milanesa”, onde percebi que era a sede de uma destas Associações.

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    Posteriormente, num outro dia via chegar a esta associação, lá em Parada, jovens equipados para a prática de desporto e eu gostei de os ver orientados pelos adultos, aqueles que se dedicam a estas causas, porque aqui não se fala em “honorários” – tudo é traduzido em altruísmo, bairrismo, amizade, convívio e tantas coisas que farão mover as pessoas que se abrigam nelas, lhes dedicam o seu tempo, o seu empenho e a sua dedicação, dando a cara à compreensão e à incompreensão, também. Quando estes “carolas” se cansam de serem apontados e criticados, atirando com a “toalha ao chão”, quase sempre se aplica a regra popular “atrás de mim virá quem bom de mim fará”, porque as pessoas às vezes têm a memória curta e não se lembram que para se chegar lá, ao objetivo que faz os outros “cobiçarem o poleiro”, é preciso sacrificar muita coisa a estas causas que dão um trabalho árduo e duro. Tendo em conta que só os diamantes serão eternos, tudo o mais se esfuma enquanto o “diabo esfrega o olho”.

    De repente, na reflexão que fazia, associava o papel das pessoas que levam a bom porto este tipo de coletividades aos dos “timoneiros”, cuja perícia, mestria e coragem os fazem conduzir em segurança e sabiamente as naus, que se modernizaram, e a evolução dos tempos transformou, e onde este tipo de profissão e desempenho ainda não foi substituído por uma máquina. Ao longo do tempo eu tenho vindo a perceber que ainda acresce a esta responsabilidade o facto de estas naus (associações, coletividades, instituições, etc.) terem à sua responsabilidade crianças e jovens – os adultos de amanhã, que irão herdar o tal exemplo que efetivamente na maioria das vezes vale muito mais que um bom sermão.

    Se na crónica anterior referia um retrocesso a que estamos a assistir no nosso País, pode ser que a crise possa ser o tal “negócio de oportunidades” para estes “teimosos” que nunca deixaram de acreditar, que servem a comunidade abrindo-lhes a porta ao convívio, à tertúlia na discussão de ideias, que em grupo são bem mais fortes do que isoladas, que possibilitem o acesso dos miúdos na procura de valores de integridade que lhes formem o carácter entregando à sociedade adultos bem formados como seres humanos que estejam habituados a partilhar, a pensar e agir no “coletivo” e, fundamentalmente, saberem gerir as emoções no saber ganhar e também saber perder, não baixando os braços, ao terem na sua retaguarda pessoas em quem eles e as suas famílias confiam e que lhes saibam incutir a coragem necessária para não desistirem e seguirem em frente, atrás de novas batalhas e novas conquistas. E aqui escolho mesmo a expressão do rosto do Miguel (um dos jovens do nosso Centro de Ocupação Juvenil, COJ) que ilustra toda a pujança própria de quem vive neste nosso mundo que sempre pula e avança e nada poderá impedir isso.

    Eu gosto da frase que se atribui a Goethe: «É na limitação que se revela o mestre», daí o tremendo respeito que me passou a merecer este tipo de associativismo, a quem desejo a continuação de bom trabalho para os seus “timoneiros” e todos os que os coadjuvam, com um bem hajam! por tudo o que dão de si a uma causa que, por ser recreativa, cultural, desportiva e até social, é um bocadinho de todos, porque o saber ganhar e saber perder sem se que cada um se perca dentro de si mesmo é e sempre será uma mestria.

    Por: Glória Leitão

     

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