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    Arquivo: Edição de 28-02-2013

    SECÇÃO: História


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    O “general sem medo” foi assassinado há 48 anos

    Foi no dia 13 de fevereiro de 1965 que o General Humberto Delgado foi assassinado, juntamente com a sua secretária brasileira, por elementos da PIDE que lhe prepararam uma cilada perto de Badajoz, em território espanhol. Contava apenas 59 anos de idade. A candidatura à Presidência da República e a convicção de que o Estado Novo só poderia ser deposto na sequência de uma Revolução ditariam o seu trágico fim.

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    Para se perceber melhor o que representou, na História de Portugal, a personalidade do “general sem medo” torna-se necessário fazer a contextualização histórica daquele período que dista de nós mais de meio século.

    A reviravolta na 2ª Guerra Mundial a favor dos Aliados exerceu uma grande influência política, económica e social na sociedade portuguesa. A nível político, ainda em 1943, surgiu o MUNAF (Movimento Nacional de Unidade Antifascista) e, em 1945, o MUD (Movimento de Unidade Democrática) que pretendiam uma democratização da sociedade portuguesa. Contudo, a esperança gorou-se completamente, houve apenas uma (re)composição ministerial, já que a conjuntura de Guerra Fria que passou a viver-se acabou por ser favorável ao regime português que continuou a perseguir todos os opositores, rotulados de comunistas.

    Mas a oposição ao Estado Novo esteve sempre ativa. Até finais da década de 1950, os movimentos de maior atividade e visibilidade eram as conjunturas eleitorais para a Presidência da República, com destaque para as candidaturas de Norton de Matos (1949) e, sobretudo, do próprio Humberto Delgado (1958). Norton de Matos reuniu à sua volta toda a oposição, prometendo a liberdade e o reconhecimento dos direitos dos cidadãos, caso fosse eleito. Não o foi, porque desistiu do ato eleitoral ao verificar que o resultado oficial seria fraudulento.

    Humberto Delgado, o “general sem medo”, em 1958, também congregou na sua candidatura todos os movimentos oposicionistas ao regime. Militar de carreira, Humberto Delgado frequentara o Colégio Militar e a Escola Prática de Artilharia, subindo muito rapidamente a longa carreira hierárquica, que fez dele, aos 47 anos, o mais jovem general da Força Aérea Portuguesa. Claro que o regime tinha nele uma pessoa de “confiança” senão nunca alcançaria o generalato. Tão comprometido estava com a situação política portuguesa, que, entre 1951 e 1952, foi Procurador da Câmara Corporativa e, ainda na década de 1950, representou Portugal nas negociações secretas para ceder a Base das Lajes, na Ilha Terceira (Açores) aos aliados americanos.

    Os seus horizontes ideológicos e políticos ter-se-ão alterado profundamente, quando, entre 1952 e 1957, se tornou chefe da Missão Militar Portuguesa em Washington, contactando de perto, com regimes claramente democráticos. A pouco e pouco foi-se afastando do regime que o formara e que servira até então.

    Surgindo, entretanto, no calendário eleitoral português as eleições presidenciais, o mais novo general da Força Aérea (que fundara a TAP em 1945, e no ano seguinte inaugurara as carreiras aéreas Lisboa – Madrid e as ligações regulares entre Portugal e Angola e Moçambique) mostrou-se determinado em levar a sua candidatura até ao fim. A sua célebre resposta: «Obviamente demito-o», referindo-se ao que faria com Salazar, no caso de vencer as eleições, catapultou-o para o incondicional apoio das massas, fazendo-o acreditar na vitória. Muitos o tentaram demover, apontando-lhe os perigos que corria.

    Mas, contra tudo e contra todos, apresentou-se ao ato eleitoral depois de uma campanha promissora, cheia de “banhos” de multidão. Mas a verdade é que os resultados “oficiais” determinaram a sua derrota e o “Estado Novo” manteve-se, como sabemos hoje, mais 16 anos.

    Finda a má experiência eleitoral, seguiram-se sete anos de exílio político. Esteve primeiro no Rio de Janeiro (Brasil), depois envolveu-se em peripécias políticas de que nada resultou, designadamente a tomada do paquete Santa Maria (1961) e o ataque ao Regimento de Infantaria n.º 3 de Beja (na passagem de ano de 1961 para 1962). Em 1963 está na Argélia onde funda a Frente Patriótica de Libertação Nacional. Mas as malhas da polícia política portuguesa infiltram-se nas suas relações, combinando uma suposta reunião política com a oposição a Salazar, para 13 de fevereiro de 1965, em Badajoz, que acabaria com o seu assassinato. Só depois do 25 de Abril o seu nome ganhou a auréola de coragem e de heroicidade que hoje lhe reconhecem e que está na origem da trasladação dos seus restos mortais para o Panteão Nacional.

    Por: Manuel Augusto Dias

     

     

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