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    Arquivo: Edição de 22-02-2013

    SECÇÃO: Crónicas


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    O jogo

    Neste apontamento vou atrever-me a falar de pessoas, tentando descolar-me ao máximo de conotações políticas. Não o faço por cobardia, mas somente porque a vida me ensinou que coisas há, e muitas, que nenhum político poderá fazer por nós e também que somos nós que temos obrigação de mudar aquilo que está ao nosso alcance fazê-lo. A caminho de fazer 53 anos e desde há algum tempo a esta parte, interiorizei que agora começo a trabalhar para fazer serenamente a minha caminhada em contagem “countdown”, suportada em tudo o que de bom e mau se terá atravessado na minha vida. Miguel Torga escreveu: «Recomeça…se puderes, sem angústia e sem pressa e os passos que deres, nesse caminho duro do futuro, dá-os em liberdade, enquanto não alcances não descanses, de nenhum fruto queiras só metade» . Eu, sentindo-me bem na pele do “lobo solitário”, registando aprendizagens em texto, encontrei nisso um desafio para mim, aliciante: jogar com estes ensinamentos feitos através da dádiva que é a vida e fazer de tudo um desafio que estabeleço através de etapas, o tal “step by step”: aprendendo, corrigindo, mudando, num ciclo ininterrupto, porque assim é a roda da vida.

    É neste jogo que descobri que muita gente está a fazer a mesma coisa e percebo isso quando ouço na televisão a intervenção dos “homens/mulheres do poder”, que infelizmente o povo pensa que nos bastidores andam todos à “batatada” como se isso verdade fosse. É-lhes difícil acreditar que isso é somente um jogo de estratégia em cenários previamente montados e ensaiados nos bastidores do poder. Todos eles sabem muito bem o que estará por trás de tudo e agora, infelizmente, pela falta de privacidade, também saberão o que estará por trás de todos e que nos transformará em “marionetas” de gente que joga sem escrúpulos por forma a atingir o fim a que se propõe, porque essa treta dos três macaquinhos – não ver, não ouvir, não falar – só resulta no que queremos se aplique a nós mesmos e nunca ou raramente no que respeita ao “outro”, cujo veneno vamos lançando a conta gotas, ao sabor da nossa vontade e também do nosso jogo.

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    Penso que é isso que nos enerva quando lemos tanta coisa, satírica e mesmo humorística, em relação a pessoas de grande visibilidade no mundo social, de política e até de futebol – os estrategas, que não mostram o jogo porque fazem disso também “o seu jogo”: vão incendiando os ânimos como manobra de distração, porque sabem que depois aparecem mesmo os resultados e os consequentes aplausos de quem os manobra à distância e nós, nesta perda do nosso tempo em que não nos focamos no essencial, em que não nos damos ao trabalho de escrutinar o jogo deles, não preparamos estratégias inteligentes de “ataque”, criando alternativas fortes e que mereçam a confiança de todo um país.

    Ninguém se estará a dar conta de que o tempo é precioso e a cada minuto que passa vamos perdendo algo de valor incalculável: bocadinhos de liberdade e de direitos contra uma cobrança de deveres que está a ir para lá da condição humana. Aqui, como reforço de credibilidade lá volto eu a citar uma pessoa de carácter mundialmente reconhecido, Steve Jobs, que a dada altura dizia: «…O teu tempo é limitado, por isso não o desperdices a viver a vida de outra pessoa. Não te deixes armadilhar pelos dogmas – que é a mesma coisa que viver pelos resultados do que outras pessoas pensaram. Não deixes que o ruído das opiniões dos outros saia da tua própria voz interior. Mais importante ainda, tem a coragem de seguir o teu coração e a tua intuição. Eles já sabem de alguma forma aquilo em que tu verdadeiramente te vais tornar. Tudo o resto é secundário…».

    Ao criarmos demasiadas expetativas nos outros, não estamos a dar-nos conta de que é chegada a altura de sermos nós que temos que assumir as responsabilidades, exigindo-lhes o mesmo rigor e a padronização do estereotipo em que nos querem amordaçar, vendando-nos os olhos, porque estamos a deixar que assim aconteça, e olhamos para as caixinhas da televisão e lemos os jornais, como se viessem de lá as soluções – como se pudéssemos transformar o nosso cérebro numa varinha de condão, que lhes colocaríamos nas mãos para que fosse cumprida a nossa vontade e tudo se resolvesse como por magia, sem nos responsabilizarmos com resultados. Claro que custa inverter as regras de um jogo que terá sido mal distribuído pela democracia, mas é esse desafio que se torna aliciante: procurar alguém que segure o leme e nos leve a bom porto mas também e sempre não nos iludindo com falsas verdades e de que tudo se irá resolver com um estalar de dedos, porque todos sabemos que isso agora é impossível e o mais difícil será mesmo perdermos tempo a olhar para dentro e não esperar dos outros aquilo que é da nossa competência fazer e adotar como atitude de “ser”.

    Os ventos de mudança são necessários mas podem ser “traiçoeiros”. Um dia destes ouvia um politólogo dizer na televisão que o problema de todas as contestações que se ouvem é que não estão a ser acompanhadas por ideias novas de mudança, alternativas seguras e sensatas, e este também é o “busílis” da questão – a quem poderemos nós confiar o leme do nosso barco? Já estamos em tempo de analisar com profundidade esta resposta e aqui não vamos pensar nas pessoas de quem gostamos, ou não, nas com quem simpatizamos, ou não, mas se calhar olhar para a estratégia do jogo e a inteligência do jogador que nos merecerá respeito, mesmo que esteja na linha do inimigo, porque todos sabemos que até esses merecem ser respeitados, se no confronto souberem olhar o país e os portugueses olhos nos olhos e de igual para igual, sem falsas modéstias, sem subterfúgios, sem falsas verdades e isto também custa a encarar, mas tem que ser porque um dia alguma vez vai ter mesmo que ser.

    Por: Glória Leitão

     

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