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    Arquivo: Edição de 31-01-2013

    SECÇÃO: Opinião


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    Melhor que euforia será mudar de paradigma

    A semana que findou a 26 de janeiro de 2013 trouxe para a classe política detentora do poder algo que a deixou em êxtase, depois de registar o que consideram ser uma vitória da estratégia de Victor Gaspar, a colocação de 2,5 mil milhões de euros de dívida a cinco anos com uma taxa abaixo dos 5% (4,891%), superior, no entanto, ao que pagamos à Troika que é de 3,4%. O acontecimento gerou, naturalmente, reações diversas e antagónicas: os governantes e os representantes dos partidos da maioria, festejaram o acontecimento enfatizando o facto de a República ter voltado aos mercados com o sucesso que foi haver investidores que subscreveriam praticamente o quíntuplo do disponibilizado. É, realmente um sucesso digno de registo por parte dos portugueses esperançados que estão que tamanha façanha tenha repercussões positivas na Economia, traduzidas por abertura da Banca no crédito às empresas, sem o que de pouco, ou de nada, valerá a euforia dos agentes políticos. Pelo lado dos partidos da oposição, o discurso é outro e praticamente alinhado no entendimento de que a “taça” deve ser entregue a Mário Draghi, pelas alterações que introduziu na instituição desde que em 1 de Novembro de 2011 assumiu a presidência do Banco Central Europeu (BCE).

    Há, contudo, neste episódio algo que deverá refrear a alegria dos portugueses caso se venha a concluir que os fundos obtidos na operação não chegam à economia real, fomentando o crescimento económico e, consequentemente, atenuando o flagelo do desemprego.

    Deixando para os entendidos na matéria, quem verdadeiramente merece que lhes sejam atribuídos os louros da estratégia, talvez que, se tivéssemos de emitir opinião, enfileiraríamos com os que entendem que o mérito é pouco do nosso ministro das Finanças e muito da alteração política do BCE que tornou possível que antes dos portugueses Espanhóis e Irlandeses voltassem aos mercados. Por estas e muitas outras razões, alinho com Miguel Sousa Tavares quando conclui: «Não vejo mesmo porque haveríamos de embandeirar em arco».

    Com efeito, sendo o problema maior de Portugal e dos portugueses a retração da economia, a falência diária de dezenas de empresas, algumas ditadas por falta de financiamento bancário para concretizar encomendas em carteira, e o endémico desemprego, quem não tiver compromissos com os partidos que suportam o governo, terá dificuldades em perceber o “folclore” que no Parlamento e na comunicação social se pôde assistir nos últimos dias da referida última semana.

    Retomando o drama do desemprego que em Portugal atingirá já cerca de um milhão de portugueses, na Europa se cifra em vinte e seis milhões, havendo quem admita que em 2013 os desempregados no mundo serão da ordem dos 202 milhões de trabalhadores, com tendência em todos os segmentos de subida, os políticos e os investidores deveriam rapidamente preocuparem-se em “desenhar” um novo paradigma para o mundo do trabalho, com enfoque na criação e distribuição de riqueza que combata o desemprego, antes que a legião de “miseráveis” se veja na necessidade de pôr em causa os pilares das democracias ocidentais, empurrados pelo filhos para quem não têm o mínimo de condições para lhes matar a fome.

    Há dias, ouvindo a parte final de um programa de rádio em que era entrevistado (julgo que um gestor), ainda lhe escutei que a evolução tecnológica dos nossos tempos tornou evidente que não são precisas tantas pessoas como anteriormente para produzir a riqueza que as populações necessitam, sendo, por isso, necessário e urgente enveredarmos por um outro paradigma em que todos têm direito a viver com dignidade, embora não deva ser direito reconhecido que todos tenham trabalho. Dizia o entrevistado qualquer coisa como o seguinte: o trabalho deve ser para alguns, mas a distribuição do produto dele resultante deve contemplar todos.

    Embora concorde com o entrevistado na parte em que defende um novo paradigma, já não o acompanho quanto à receita sugerida. É que o trabalho não deve ser visto apenas como forma de angariar proventos para satisfação das responsabilidades e aspirações dos cidadãos. Deve, também, incluir a vertente da necessidade que eles sentem de serem úteis à sociedade e não dependentes de uma qualquer “esmola” que os privilegiados do mundo do trabalho lhes concedam com maior ou menor generosidade.

    Quem tenha a paciência de ler o que tenho escrito neste espaço de “A Voz de Ermesinde” sabe que há muito defendo que o paradigma que regula as relações do mundo do trabalho precisa de urgentemente ser ajustado às realidades que as novas tecnologias nos trouxeram e continuam a trazer, tendo como consequência que, como reconhece o entrevistado na TSF, nos organizemos para que haja trabalho para todos e não apenas para alguns.

    E, assim sendo, o caminho não deverá ser continuar a produzir mais desempregados, antes enveredarmos por um modelo em que o número de horas de trabalho seja substancialmente reduzido, mantendo-se a remuneração ao nível do que atualmente se pratica, procurando reduzir o ócio, estimular a produtividade, gerar bons ambientes de trabalho e equilibrar os ganhos empresariais com a procura nos mercados. Se nada disto, ou algo de parecido se não equacionar, se a ganância do lucro continuar a ser o objetivo único dos gestores, não estará longe o dia em que as empresas atingirão o mínimo de custo para as suas mercadorias e serviços, mas não terão clientes a quem os possam vender porque a sua ambição desmesurada transformou uma sociedade consumista numa legião de pobres famintos que não têm dinheiro para coisa alguma. Os detentores do poder deveriam ouvir os alertas que chegam dos mais variados quadrantes do mundo. Continuando surdos, estarão a cavar a sua ruína e a sujeitar os povos a desequilíbrios que no passado tiveram como epílogo guerras fratricidas.

    Por: A. Alvaro de Sousa

     

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