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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 30-07-2012

    SECÇÃO: Desporto


    ENTREVISTA COM O RESPONSÁVEL PELA SECÇÃO DE KARATÉ DO CPN

    Karaté do CPN talhado para viver momentos de glória!

    Não são muitos os clubes do nosso país que se poderão orgulhar de ter nos seus quadros atletas cujo currículo ostenta dois títulos de campeão do Mundo, seja em que modalidade for. O CPN tem-nos, e um deles chama-se Diogo Guincho, um atleta que entre os passados dias 8 e 13 de julho subiu ao lugar mais alto do pódio do Campeonato do Mundo de karaté shukokai que decorreu em Atlantic City, nos Estados Unidos da América. Individualmente Diogo Guincho pode até ser o atleta mais titulado a nível nacional e internacional do emblema de Ermesinde, mas não é o único a brilhar na alta roda internacional, surgindo neste patamar nomes como Tiago Guincho (irmão de Diogo) ou Inês Catarina Santos, os quais têm contribuído, e muito, não só para o enriquecimento desportivo do CPN como também do próprio país. E na sombra destes sucessos está Carmindo Paiva, o criador, digamos assim, destes campeões, o homem que em 1998 trouxe o karaté para o CPN e que de lá para cá tem coordenado um trabalho ímpar, guiando os atletas do clube até ao topo das “montanhas mais altas” do karaté shukokai planetário.

    No sentido de conhecer um pouco melhor um trabalho que muitas das vezes não obtém o merecido reconhecimento da opinião pública – e não só –, o nosso jornal esteve à conversa com o responsável pela Secção de Karaté cepeenista, precisamente o mestre Carmindo Paiva.

    Fotos MANUEL VALDREZ
    Fotos MANUEL VALDREZ
    É com um vincado orgulho que Carmindo Paiva inicia esta pequena conversa ao recordar o mais recente feito internacional do seu pupilo Diogo Guincho. Um título normal para si, atendendo às qualidades ímpares do atleta, qualidades essas descobertas e lapidadas por si há cerca de 22 anos atrás, altura em que travou conhecimento com os irmãos Guincho (Tiago e Diogo). Recorda esse momento como se fosse hoje, «eu dava aulas de karaté na Escola Secundária de Valongo e um dia o Tiago e o Diogo, que na época eram já dois entusiastas da modalidade, foram assistir a um treino. Gostaram e inscreveram-se de imediato, passando a treinar comigo duas vezes por semana. Lembro-me de que no dia em que os conheci o Diogo estava a poucos dias de completar 7 anos de idade, e tanto nele como no irmão – que é mais velho – vi desde logo que possuíam um dom para a prática da modalidade, tendo percebido de imediato que poderiam ser bons atletas».

    A entrega dos irmãos Guincho à modalidade foi total desde o primeiro dia de trabalho com Carmindo Paiva, e para onde o mestre fosse os dois irmãos iam atrás. As duas horas semanais de treino em Valongo passariam a quatro quando Carmindo Paiva passou a acumular o seu trabalho de treinador de karaté no Atlético Clube Águas Santas. E quando foi convidado, em 1993, a assumir o leme de uma escola de karaté em Sever do Vouga os irmãos Gincho não perderam tempo a pedir ao mestre permissão para o acompanhar e aumentar desta forma o número de horas de treino consigo. E seria novamente juntos que em 1998 rumaram ao CPN, onde criariam a Secção de Karaté, numa altura em que o atual complexo desportivo do clube ainda não estava totalmente concluído, conforme recorda o nosso interlocutor. «Recordo-me que começámos por treinar no local onde está edificado o atual pavilhão do clube, que era um espaço precário, ainda em construção, mas o que queríamos era poder continuar a desenvolver o trabalho que vínhamos fazendo desde Valongo. Depois, em março de 1999, quando o CPN inaugurou o seu complexo, passámos a treinar no salão nobre, onde estamos até hoje», o local onde Carmindo Paiva tem lapidado os seus “diamantes”. Entre as “pedras preciosas” estão obviamente os irmãos Guincho, hoje em dia atletas de alto gabarito no mundo do karaté muito devido aos ensinamentos do mestre Carmindo Paiva, o homem que os moldou desde que eram crianças, que lhes ensinou as técnicas e os truques do karaté shukokai, que nunca é demais elucidar se trata de uma das muitas variantes, por assim dizer, do karaté universal.

    “TRABALHO,

    DEDICAÇÃO

    E SACRIFÍCIO”,

    EIS A FÓRMULA

    DO SUCESSO

    Num discurso humilde Carmindo Paiva diz que o sucesso dos atletas fica a dever-se a… eles próprios, «eles é que conquistam as vitórias, eles é que sobem ao pódio, não sou eu». A fórmula mágica deste sucesso é, para o treinador, fruto do trabalho que os atletas desenvolvem, aliás, do trabalho, da dedicação e do sacrifício, uma combinação de “ingredientes” essencial para alcançar o êxito. Esta tem sido a filosofia de trabalho do CPN, a qual tem sido responsável pelo aumento do número de troféus que a secção tem angariado, não só pela mão dos irmãos Guincho como pela de outros tantos atletas, que têm trazido para Ermesinde diversos títulos nacionais e internacionais. Atletas como, por exemplo, Inês Catarina Santos, “lapidada” pelas mãos de Carmindo Paiva nas “oficinas” cepeenistas e que em 2006 atingiu o ponto mais alto da carreira após vencer o título mundial – a nível individual – de karaté shukokai na vertente feminina. «Temos tido um percurso positivo aqui no CPN, com um outro percalço pelo caminho, mas de modo geral positivo. Não posso esquecer que tivemos uma fase menos boa durante a recente passagem de Augusto Mouta pela Direção do clube. Recordo-me que ele nos colocou alguns entraves, os quais nos causaram algumas dificuldades. Mas eu possuo um espírito guerreiro, e recuso-me sempre a atirar a toalha ao chão, e como tal acabámos por superar essas mesmas dificuldades».

    O DESEJADO

    E NECESSITADO

    TATAMI QUE NUNCA

    MAIS CHEGA!

    foto
    Para Carmindo Paiva esta foi uma pedra no sapato durante uma caminhada que nunca é demais repetir tem sido positiva, uma caminhada apoiada pelo clube, apesar das dificuldades pelas quais este passa atualmente. «Neste momento a Secção tem de se autogerir, e com mais ao menos dificuldades vamos tentando mover-nos», sublinha. E uma das principais necessidades do karaté do CPN, talvez mesmo a principal, era a aquisição de um tatami, que é nada mais nada menos do que um tapete específico onde os atletas treinam e competem em pé descalço, como mandam as leis. E como quem não tem cão caça com gato os karatecas cepeenistas na ausência do dito tatami são obrigados a treinar de sapatilhas no frio – em especial no inverno - chão do salão nobre do clube, o que nem sempre é benéfico em termos de competição. «O atleta que não treina num tatami vai sentir dificuldades quando compete com outro que está habituado a treinar de pé descalço nesta estrutura. É natural que aquele que treina durante todo o ano de pé descaço parte em vantagem diante daquele que treina de sapatilhas e que numa competição se vê obrigado a combater descalço. Este último atleta vai sentir uma enorme diferença, como é óbvio. E é por isso que com o tatami iriamos melhorar e muito as nossas condições de trabalho, sem dúvida alguma», explica.

    Objeto importante de trabalho que até já podia fazer parte do dia a dia da secção de karaté do CPN, conforme Carmindo Paiva faz questão de dizer, pois não há muito tempo atrás o clube estabeleceu uma parceria com a Câmara de Valongo no sentido de receber nas suas instalações crianças de vários pontos do concelho para que estas pudessem praticar desporto, inclusive karaté. Em contrapartida a secção, pela voz do clube, solicitou à autarquia a doação de um tatami, que ao que parece – e segundo a memória do nosso entrevistado – acedeu ao pedido cepeenista. Só que até hoje o tão desejado tatami nunca mais chegou!

    Necessidades à parte o que é certo é que o karaté do CPN tem colecionado êxitos atrás de êxitos, com Diogo Guincho à cabeça deste pelotão de campeões, claro está. Carmindo Paiva recorda com orgulho e emoção o primeiro título mundial individual conquistado pelo mais novo dos irmãos Guincho, em 2004, na Cidade do Cabo, em África do Sul (Nota: Recordamos aos nossos leitores que na sequência do primeiro título mundial de Diogo Guincho o nosso jornal fez uma entrevista de fundo ao atleta, onde ficámos a conhecer toda a sua história desportiva). Nessa altura o mestre fazia parte dos quadros técnicos da seleção nacional de karaté shukokai, pelo que acompanhou o seu pupilo na primeira grande vitória internacional deste. «Quando ele acabou o combate da final a primeira coisa que fez foi correr em direção a mim para abraçar-me, e nunca mais me esqueço do momento em que ele subiu ao pódio, do içar da bandeira de Portugal ao mesmo tempo que tocava o hino nacional. Nesse momento vieram-me as lágrimas aos olhos. Foi um momento único». Neste segundo ceptro mundial individual do karateca do CPN (cujos desenvolvimentos apresentámos na última edição net) Carmindo Paiva não esteve presente, até porque foi precisamente em 2004 que deixou o cargo de técnico da seleção nacional de karaté shukokai, lugar que ocupava desde 1998, mas que por desgaste (viagens constantes por todo o país de 15 em 15 dias) acabou por deixar.

    MODALIDADE

    TEM EVOLUÍDO

    AOS POUCOS

    EM PORTUGAL,

    MAS…

    E seria ainda com Diogo Guincho como tema de conversa que o responsável pela Secção de Karaté do CPN afirmaria convictamente de que caso o seu pupilo tivesse outras condições de trabalho seria ainda muito melhor do que aquilo que é. «Se ele tivesse as condições para treinar que outros atletas têm não tenho dúvida de que ele seria um atleta profissional, viveria apenas disto, como acontece por exemplo em Espanha, onde a grande maioria dos atletas da seleção são profissionais, dedicam-se única exclusivamente à modalidade. Por exemplo, lá, eles têm patrocínios, que lhes permite fazer estágios várias vezes por ano, com tudo pago! Aqui, em Portugal, o Diogo tem o seu trabalho (é professor de Educação Física) e só ao fim do dia dedica um bocado do seu tempo para o treino». No entanto, e olhando para o passado, admite que aos poucos a modalidade tem sofrido alguma evolução no nosso país quando comparada com o seu tempo de atleta, por exemplo. «Na altura combatíamos em cima de chão de cimento, sem qualquer tipo de proteções, e hoje em dia isso já não acontece. Agora, em termos de infraestruturas e apoios estamos ainda um pouco atrasados em relação a muitos países, como a Espanha, por exemplo. Além de profissionais os atletas têm o seu próprio dojo (espécie de ginásio) para treinar, patrocínios que como já disse pagam todas as suas despesas de deslocações a estágios e competições, e aqui nesse aspeto a única coisa que os nossos atletas usufruem é do pagamento – neste caso por parte da Associação Portuguesa de Karaté Shukokai – de todas as despesas de deslocação e estadia quando vão ao estrangeiro representar o país em competições, como aconteceu agora com o Diogo Guincho e restantes karatecas que estiveram presentes em Atlantic City».

    FEITOS DE DIOGO

    GUINCHO PODERÃO

    CATIVAR MAIS

    ATLETAS

    foto
    Mas apesar de todas as dificuldades que ainda circundam a modalidade Carmindo Paiva acredita que este novo feito alcançado por Diogo Guincho poderá ser benéfico para a modalidade, no sentido em que novos atletas poderão ser cativados a praticá-la. Tal como aconteceu em 2004, ano da conquista do primeiro título mundial, um feito que ao CPN trouxe aspirantes a seguir as pisadas não só de Diogo Guincho como também do seu irmão Tiago, que na altura se sagrou campeão do mundo por equipas.

    Atualmente a Secção de Karaté do clube de Ermesinde é composta por cerca de 30 elementos, com idades compreendidas entre os 7 e os 60 anos! «É verdade, temos atletas mais velhos, que andam aqui apenas pela vertente marcial, ou seja, nem todos estão virados para a competição, frequentam o clube apenas porque gostam de praticar karaté». Já outros aspiram seguir as pisadas do mestre Diogo Guincho, sim, mestre, até porque o atleta de 28 anos tem a seu cargo a tarefa de dar aulas aos elementos mais novos do grupo, enquanto que Carmindo Paiva fica com os mais velhos. «A competir temos atualmente uns 15 atletas, os quais têm trazido inúmeros títulos regionais e nacionais para o clube, e posso dizer que cinco ou seis deles ainda vão dar muito que falar», assegura. Prosseguir o trabalho que vem sendo feito é pois o objetivo imediato da Secção de Karaté cepeenista, um objetivo que traz entusiasmo ao nosso interlocutor, ou não se fizesse ele rodear de um grupo possuidor de características que ele tanto aprecia num atleta de karaté, por outras palavras, dedicação, espírito de vencedor e força, como faz questão de vincar.

    A terminar esta pequena conversa deixou um pequeno desabafo, «gostava que tanto o poder autárquico como a própria comunidade, mas em particular a nossa autarquia, dessem o devido reconhecimento ao trabalho que a secção tem vindo a fazer, com destaque para os títulos que o Diogo Guincho tem conquistado. Este novo título mundial foi bom não só para ele, como para o próprio clube, para a cidade, para o concelho, e para o país, e é com alguma mágoa que eu constato que somos um pouco esquecidos apesar de todos os êxitos que temos conquistado».

    Por: Miguel Barros

     

     

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