XIX FEIRA DO LIVRO DO CONCELHO DE VALONGO
A questão religiosa em lugar de honra na apresentação de “Ermesinde e a I República”
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Fotos URSULA ZANGGER |
O jornal “A Voz de Ermesinde” promoveu na Feira do Livro de Valongo de 2012 a apresentação do livro “Ermesinde e a I República”, de Manuel Augusto Dias, que o autor lançara quase um ano antes – já depois da Feira do Livro 2011 – em evento comemorativo da cidade, realizado então no auditório da Junta de Freguesia de Ermesinde, editora do livro.
Para este evento na noite de 14 de julho, no Parque Urbano de Ermesinde, estiveram na mesa o autor, Manuel Augusto Dias, o editor, presidente da Junta de Freguesia, Luís Ramalho, e a diretora do jornal “A Voz de Ermesinde”, Fernanda Lage.
Abriu o sessão o presidente da Junta, que assumiu com muita honra estar presente neste evento proposto pelo jornal “A Voz de Ermesinde”, seguindo-se-lhe Fernanda Lage, que agradecendo a presença ao editor e ao autor do livro, salientou também a importância de certames como esta Feira do Livro, lugar de saberes. Destacou depois a importância da obra de Manuel Augusto Dias, ao trazer para a luz do dia quem eram, o que fizeram, e porque o fizeram as figuras de muitos destes homens que se destacaram localmente na luta pela República, e os laços que tinham, ajudando assim a tornar mais compreensível o mundo próximo que habitamos.
Destacou a importância que deram à educação e a extensão que deram ao direito ao voto.
A redação do jornal “A Voz de Ermesinde” saudou também a investigação de Manuel Augusto Dias e demonstrou o seu agradecimento por ter sido nas páginas deste jornal que se fez a pré-publicação da obra aqui abordada, cuja investigação vinha assim trazer para a luz muitas figuras esquecidas pelo Estado Novo e mesmo pela urgência do que havia a fazer na Revolução dos Cravos. Havendo ainda, apontou-se, figuras a quem a cidade deve um maior reconhecimento, por nem sequer uma ruela ou praceta da cidade terem o seu nome, como é o caso de Luís Marques de Sousa, membro da primeira Comissão Republicana Municipal, que foi muitos anos presidente do Centro Comercial do Porto, situação ainda mais notória quando a Feira do Livro foi inaugurada este ano com a presença de Rui Moreira, presidente da Associação Comercial do Porto!
Seguiu-se uma preciosa lição de História.
Manuel Augusto Dias começou por destacar a importância que os republicanos deram à questão de melhorar a vida das populações e fez notar o tempo escasso desta I República, que não chegou a durar nem 16 anos completos [desde o 25 de Abril já vão quase 40 anos].
Referiu a mudança do nome da localidade, de S. Lourenço de Asmes para Ermesinde (que seria derivada do nome do ribeiro de Asmes, também conhecido como Sonhos), e declarou «muito errada» a queda do feriado do 5 de outubro, comemorativo da implantação da República, mas também, para os monárquicos, coincidentemente, dia de celebração da nacionalidade, com o Tratado de Zamora, nesse dia estabelecido, em 1143.
Ainda antes da instauração da República havia já em Ermesinde uma atividade republicana, através do Centro Republicano de Ermesinde, de que Manuel Augusto Dias destacou as figuras de Maia Aguiar e Amadeu Vilar.
O conferencista lembrou que a República só foi proclamada no concelho a 10 de outubro e o facto de muita gente a ela ter aderido (como sempre) só para não perder o poder.
Apontou depois a transferência de poderes na Junta de Paróquia de S. Lourenço de Asmes, que teve de enfrentar a hostilidade de Monsenhor Paulo Antunes, o pároco local de então que, sendo monárquico, viria até a envolver-se na incursão monárquica de Paiva Couceiro, em 1911, exilando-se depois no Brasil.
Não era esta contudo a posição de todos os religiosos, como é o caso de D. António Castro Meireles, que esteve ligado ao Colégio de Ermesinde e foi deputado eleito pelo Círculo Católico.
Manuel Augusto Dias referiu depois o nome de algumas ruas de Ermesinde que consagram a memória de republicanos ilustres, entre elas as que recorda Miguel Bombarda, médico num hospital psiquiátrico, que não chegou a viver o suficiente para ver a República, morto por um doente, dois dias antes do 5 de Outubro, ou de outras ruas em Ermesinde, como Elias Garcia ou Rodrigues de Freitas.
Por alturas da implantação da República era Ermesinde a segunda freguesia mais populosa do concelho, suplantada então por Valongo, mas em 1920, era já então a maior freguesia em termos de habitantes.
O conferencista salientou também a grande ambição dos republicanos em tornar o ensino universal, tendo criado um sistema de Educação com três níveis de ensino primário – elementar, complementar e superior, equivalendo este último, mais ou menos, ao nosso atual 12º Ano de escolaridade.
Falou ainda da imprensa de então, das associações, da instalação da Guarda Nacional Republicana.
E também da modernidade que então chegava a Ermesinde – os telefones, o elétrico. O projeto de eletrificação de Ermesinde é ainda delineado na I República.
Passou então o conferencista a abordar a controversa questão religiosa, que então opôs o Estado à Igreja Católica.
Manuel Augusto Dias explicou que, até então, todos os paroquianos pagavam a dízima, imposto arrecadado pela Igreja, sendo pois natural o surgimento de uma lei de separação da Igreja e do Estado. Para assegurar então o culto religiosos criaram-se as associações cultuais.
Explicou também, como antes, eram os não católicos discriminados no cemitério, e procurou assim fazer compreender as motivações contra a Igreja Católica, cujos bens foram então alvo de uma extensa inventariação.
Luís Ramalho fez o agradecimento e a saudação final.
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