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Edição de 30-04-2024
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    Arquivo: Edição de 15-05-2012

    SECÇÃO: Crónicas


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    Cadências da vida

    Dia 11 de maio faz um ano que partiu em viagem um conhecido meu, Laurindo Peixoto Rodrigues, um homem anónimo que fazia da música uma das suas paixões e, que sendo “tocador de ouvido”, teve a coragem de ir aprender música já muito próximo dos 50 anos de idade, colocando o seu saber ao dispor de um coro musical quando dava som ao órgão que adorava tocar, a par da viola onde também se sentia à vontade.

    Dias antes, mas pela orientação de um jovem maestro que conheço desde pequenito, pude também assistir ao desempenho – diria que sublime – de uma orquestra que orgulhosamente posso dizer que faz parte da freguesia onde moro e está identificada no nome com que foram batizados: Orquestra Filarmonia de Vermoim, um projeto musical e cultural multifacetado constituído por instrumentistas de sopro e percussão.

    Também foi com muito orgulho que li no programa que nos foi distribuído no início deste espetáculo o curriculum exemplar deste jovem António Ferreira que, com menos de 30 anos de idade e, por mérito próprio, é já o diretor artístico de uma jovem orquestra que festejava neste dia o seu 6º aniversário e nos ofereceram como comemoração este espetáculo que me fez sonhar através da música.

    No final, a “cereja em cima do bolo” foi mesmo ver um sorriso imenso no rosto de felicidade de quem sabe que fez um trabalho bem feito ao conduzir uma equipa para o sucesso – a consagração, quando todo um auditório completamente cheio se levantou em sinal de respeito, entregando-lhes aquilo que podiam para agradecer e retribuir: palmas para eles e tudo aquilo que representam, a música!

    E eu, enquanto os ouvia fui lembrando uma frase que li de Peter Drucker: «Uma instituição é como uma canção: não é formada por sons individuais, mas pelas relações entre eles».

    É verdade Sr. Drucker! As empresas também têm acordes de música muito próprios. Naquelas por onde passei, o hábito ao “cantar das máquinas” era de tal forma interiorizado que quase sabíamos as secções que paravam para almoço ou se alguma avaria que ocorria nas máquinas (isso podia ser a rebarbagem, o quebra-gitos, a serralharia, etc.. Tudo tem uma sonoridade própria, aplicando-se mesmo ao mero trânsito onde sentimos o fim de semana, porque muitas vezes “não se ouvem os carros”.

    Foto GL
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    O mesmo se aplica ao corpo humano ou a uma simples máquina de lavar, no trabalhar de um frigorífico ou até num carro que se conduza e que começa a ter um “som diferente” e isso acontece porque entrou uma pedrinha minúscula, porque saltou uma correia ou porque “gripou” um rolamento – a máquina deixou de funcionar, um coração bate descompassado, instalou-se uma enxaqueca ou seja: “a orquestra está desafinada”.

    Também tem razão quando diz que é a relação entre os sons que faz o sucesso de uma canção ou de uma música e bem lá no fundo de nós mesmos sabemos que isso é bem verdade. Tudo tem início numa família em que queremos o melhor do todo, e por exemplo se temos mais do que um filho não amamos um filho pela metade, não queremos a saúde só para um, a felicidade só para um e o trabalho só para um e isto deveria extravasar para o meio envolvente onde os inserimos, as pessoas com quem nos damos e a sociedade de que dependemos porque quando nos dizem que é a conjuntura, é o mundo, é o país isso é o reflexo de cada um de nós, aqueles que sempre farão parte de um TODO.

    Mesmo sendo a vida em si mesma e muitas vezes uma cadência, todos percebemos que a falta das pessoas não faz parar uma música, uma máquina, uma empresa ou mesmo uma família, porque tudo tem que ser tocado para a frente. Eu sinto uma coisa Sr. Laurindo – os que ainda choram muito por si quando pararem de o fazer ou quando o fizerem menos vezes e tiverem tempo para escutar a “música da vida” vão perceber que o Senhor está lá sentado num cantinho da sala que carinhosamente a sua família organizou em tributo a si.

    Nesta sala de que falo e que está situada na casa onde viveu muitos anos, onde amou muitos anos e onde também sofreu aquilo que tinha para sofrer, estão lá exibidos os seus instrumentos musicais, arquivados os seus apontamentos de música e eu gosto muito de pensar que há-de estar sempre a sorrir porque também naquela sala está lá o jovem Francisco, o Kiko, a aprender a tocar saxofone - a forma de lhe retribuir todo o amor que deu a uma família e à música também.

    Palmas para todos!

    Por: Glória Leitão

     

     

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