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    Arquivo: Edição de 30-04-2012

    SECÇÃO: Destaque


    COMEMORAÇÕES DO 25 DE ABRIL EM ERMESINDE

    Sessão solene do 25 de Abril em Ermesinde marcado por intervenções muito críticas

    A Junta de Freguesia de Ermesinde voltou a celebrar, este ano, o 25 de Abril. Mas este 38º aniversário, mais do que qualquer um até à altura, foi marcado por intervenções muito críticas por parte dos intervenientes nestas comemorações.

    As celebrações iniciaram-se no dia 21 de abril, no Fórum Cultural de Ermesinde, e prolongaram-se no dia seguinte, no auditório da Junta, com o concerto “Tributo a Zeca Afonso”, que contou com o concurso da Associação Académica e Cultural de Ermesinde, que está a celebrar o seu 13º aniversário.

    Mais uma vez estiveram expostos os trabalhos dos alunos das escolas de Ermesinde alusivos ao 25 de Abril.

    Finalmente, a sessão solene no auditório da Junta, na manhã de 25 de abril, contou com a presença das várias forças políticas representadas na Assembleia de Freguesia. Os discursos foram em geral muito críticos e é sobretudo esta iniciativa que merece um maior destaque da nossa reportagem.

    Finalmente, e devida à chuva torrencial que se abateu durante essa parte da manhã a prevista cerimónia de hasteamento das bandeiras teve de ser anulada, sendo também anulada (ou adiada) a Corrida Juvenil do 25 de Abril.

    Fotos URSULA ZANGGER
    Fotos URSULA ZANGGER
    Raul Santos, presidente da Mesa da Assembleia de Freguesia, com cuja intervenção encerrou a sessão solene, apontou a emoção da Revolução dos Cravos, há 38 anos, pondo fim a mais de 50 anos de ditadura, e «o renascer da esperança, para aqueles que durante todos aqueles longos anos lutaram por melhores condições de vida e de trabalho, do ensino, saúde, justiça e pelos direitos humanos, onde a democracia era a que mais se pedia, e tudo isto já existia na maioria dos países europeus».

    Apontando depois a evolução sofrida, traçou um quadro positivo até à atualidade: «Hoje estamos aqui para comemorar os 38 anos das conquistas de Abril, e revendo estas quase quatro décadas, verificamos que muitos dos anseios se concretizaram, com progressos enormes em quase todas as áreas, ou mesmo em todas para os menos exigente, que podem ser comprovados através das estatísticas refrentes aos primeiros 30 ano de liberdade».

    Mas focando depois a realidade presente, Raul Santos mudou de tom, para dizer que «a realidade presente contraria todas as esperanças de futuro. Com a crise que se instalou desde 2007, e que se tem vindo a agravar de ano para ano, abalando gravemente a qualidade de vida dos Portugueses, onde o desemprego tem sido um flagelo e os aumentos dos preços dos bens essenciais se tornaram insuportáveis. Assistimos hoje a um empobrecimento muito preocupante de uma grande faixa da população, onde os pobres cada vez o são mais, e até os novos-ricos são hoje novos pobres, com reflexo nas Instituições de Solidariedade Social, que estão a desempenhar um papel importantíssimo no apoio aos mais necessitados, e que já não se via assim desde a já quase extinta e esquecida sopa dos pobres.

    As constantes medidas de austeridade que têm sido impostas à custa de um défice, e de uma troika, não têm resultado, e bem pelo contrário, têm agravado a confiança dos Portugueses, que todos os dias veem empresas a fecharem, e o consequente desemprego a aumentar (...).

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    A manter-se este ritmo podemos chegar ao final do ano com 40 por cento de jovens desempregados, e 17 por cento no total geral, o que se poderá considerar um país socialmente destruído (...).

    Um país que não crie riqueza está condenado a ser pobre toda a vida. É necessário criar mecanismos de apoio às pequenas e médias empresas para estas se desenvolverem. É indispensável passar à prática no tal corte das gorduras do Estado. É preciso acreditar e apostar numa agricultura competitiva, de forma a termos produtos a preços comparáveis com os que vêm de fora, já que a nossa qualidade nunca foi posta em causa (...).

    Festejar Abril é devolver aos Portugueses a esperança e a confiança de um Portugal com futuro (...)».

    Por sua vez, Luís Ramalho, o presidente da Junta de Freguesia de Ermesinde, destacou esta como a comemoração da «data que devolveu ao Povo a Liberdade», liberdade esssa em que tinha [felizmente] vivido sempre, esta «liberdade de assumir o rumo das nossas vidas (...) que antes nos fizeram crer que não seria possível».

    Referiu depois a atual situação de crise social, com «muitas famílias com o frigorífico vazio»,

    E invocou depois a necessidade de realizar um novo Abril. Em que precisamos de aprender a viver de outro modo.

    «Temos que ser solidários. Acreditar na família a quem recorrer e a quem socorrer».

    Nestes tempos difíceis, disse ainda, «todos somos parte da solução» e temos de «mostrar a fibra e raça dos Portugueses (...), precisamos de uma verdadeira nação!», terminou, num apelo a uma unidade nacional.

    INTERVENÇÃO DE SÓNIA SOUSA

    PELA CDU

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    Nas intervenções das forças políticas, Sónia Sousa, da CDU, deu o pontapé de saída: «Hoje comemoramos o 25 de Abril, o dia da revolução, o dia em que o povo saiu em massa à rua e disse: Basta! Fruto desta revolução, surgiu em 1976 a Constituição da República Portuguesa, elaborada pela primeira assembleia eleita em Portugal por sufrágio direto e universal; consagra um amplo conjunto de direitos económicos, sociais, políticos e culturais. É a mais democrática de todas as Constituições portuguesas e culmina um longo e acidentado processo histórico.

    Essa marca genética do processo constituinte, de cariz popular e revolucionário, assente numa poderosa ação política e social das classes trabalhadoras, permitiu inscrever no texto constitucional o essencial das conquistas da revolução democrática.

    O amplo conjunto de direitos económicos, sociais, políticos e culturais consagrados na Constituição de 1976 não tem paralelo em Constituições anteriores (...) incluindo designadamente o princípio da igualdade, o acesso ao direito, ou o direito de resistência (...), o direito à vida e à integridade pessoal, a proibição da pena de morte, da tortura e de penas cruéis; o direito à liberdade e à segurança; um amplo conjunto de garantias dos cidadãos em processo penal; a liberdade de expressão e informação; a liberdade de consciência de religião e de culto; a liberdade de criação cultural; o direito de reunião, manifestação e associação; os direitos de participação na vida pública, incluindo os direitos de sufrágio, de acesso a cargos públicos, de petição e de ação popular; os direitos liberdades e garantias dos trabalhadores, designadamente à segurança no emprego, à liberdade sindical, à greve, à segurança social, à saúde, à habitação, ao ambiente e qualidade de vida, à educação, à proteção na infância, na juventude, na deficiência e na terceira idade».

    Apontou depois a descaracterização continuada da Constituição, ainda assim, «vista como um entrave ao aprofundamento das políticas neoliberais em todas as dimensões» – económica, social, cultural e política.

    E referiu, na dimensão económica «a crescente privatização da componente estatal e cooperativa e o domínio do poder económico sobre o poder político», na dimensão cultural, «a massificação das ideias que levam à resignação e à alienação e o silenciamento das alternativas», na dimensão política a alteração da legislação eleitoral e a reforma administrativa, com a redução de freguesias. Deteve-se sobretudo na dimensão social, apontando, entre outras coisas, «os ataques aos direitos fundamentais das populações e aos serviços públicos», como na saúde, na educação, nos transportes e no trabalho.

    INTERVENÇÃO DE JORGE AGUIAR

    PELA CORAGEM DE MUDAR

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    Seguiu-se-lhe Jorge Aguiar, da Coragem de Mudar, que começou referindo, de mansinho, o «ainda (...) estatuto de feriado nacional» da data, e teceu depois uma comparação entre o Antes e o Depois do 25 de Abril, apontando aquele como «país outrora acinzentado, dono de um regime definhado, ponto de embarque de jovens, filhos e pais largados numa África perdida, regime assente numa paroquial matriz ruralizada e corporativista, de sentido único, onde aos portugueses, órfãos de um Império que já o fora, lhes restava sonhar ao ritmo lento de um calendário formatado pelo destino que já não ambicionava.

    Assim, lembrar Abril, não é só um ato de comemorar um feito como, igualmente, de reter na memória um facto histórico, perpetuando-o como um ponto de viragem e de destino. Foi e continua a ser, porventura, uma das mais significativas datas na conceção de um Portugal Livre, orgulho de um Povo reprimido e habituado a ser o que os outros queriam, não querendo ser o que os próprios eram.

    Com Abril, Portugal libertou-se, emancipou-se e encorajou-se. Lavrou, em terra fértil e ávida de crescer, as sementes para a Descolonização, Democracia e Desenvolvimento. O país, como dele se esperava, organizou-se, reformou-se e levantou-se. Mas viria a cair de novo...

    Hoje, volvidos que são 38 anos, continuamos a falar de Abril. Não sobre o que foi mas essencialmente do que deveria ter sido e não é.

    (...) Abril hoje, apenas serve para falar do presente e esquecer o passado. Pouco ou nada haverá a comemorar. Cada vez mais, são menos os que podem partilhar a suposta herança do espírito de Abril. Ao português, usurparam-lhe a Dignidade e a sua condição como indivíduo. Retiraram-lhe o direito à participação e construção do todo social, acorrentando-o aos nefastos efeitos de um Portugal perdido, sem rumo, sem esperança e sem vergonha.

    (...) Vem a descrença naqueles que nos governam, nos falam, nos enrolam num discurso redondo, macio mas que, poucos acreditam ou têm paciência para se autoconvencerem.

    (...) Outrora Portugal residia no Terreiro do Paço e no Terreiro do Paço continua a residir.

    Abril, mais do que nunca, deve ser lembrado. Perante os dias difíceis em que vivemos, é pertinente falar do sonho de Abril: das suas conquistas, das suas ruturas, dos seus anseios, e das suas tremendas desilusões.

    Olhando para trás e confrontando-nos no presente com profundas mutações que a realidade não esconde, devemos, desde já, e ainda num sentido de esperança, afirmar que a essência de muitos dos valores constitucionais herdados pelo 25 de Abril continuam por realizar».

    E terminava afirmando: «Só se justifica comemorar Abril quando Abril for cumprido. E ainda não o foi...».

    INTERVENÇÃO DE ESMERALDA

    CARVALHO PELO PS

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    Numa muito curta intervenção, mas ainda no mesmo sentido muito crítico das duas anteriores intervenções, Esmeralda Carvalho, pelo Partido Socialista, apontou: «Importa pensar, em particular, naquelas [conquistas] que nos estão a ser retiradas, nomeadamente na saúde, no trabalho, na educação e na área social, em que as mudanças atualmente efetuadas e outras que virão, levam-nos a estar atentos e a manifestarmo-nos contra elas, uma vez que nos custou muito a consegui-las.

    Temos de estar em alerta e tornarmo-nos participantes em todos os atos e manifestações cívicas, com sentido de que não podemos voltar ao antes do 25 de Abril e, para isso a nossa participação na sociedade é cada vez mais necessária. Não esperemos que os outros o façam por nós».

    INTERVENÇÃO DE LUÍS VASQUES

    PELO PSD

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    Finalmente, Luís Vasques, em representação do Partido Social Democrata, e numa intervenção num sentido muito distinto das três anteriores, e parafraseando John Kennedy, começou por apontar: «Não perguntemos o que Portugal pode fazer por nós, mas o que nós podemos fazer por Portugal». E citando depois Sá Carneiro («acima do partido está a social-democracia e acima da social-democracia está Portugal»), apontou a preocupação fundamental pelos interesses de Portugal, acima de qualquer interesse particular.

    «Está a ser colocado em causa aquilo que de certo modo, o golpe de Estado, de forma indireta, nos trouxe, a democratização transversal da sociedade portuguesa; e muitas vezes é o dito “povo” que a coloca em causa ao não exercer o seu direito de voto e se alhear da participação e representação cívica e política; precisamos de um esforço coletivo que garanta a criação de emprego através de um real e sustentável crescimento económico; estamos hoje em democracia mas continuam a faltar os valores, os princípios, a moral e a ética; precisamos de uma cultura de responsabilidade que sustente esta sociedade de liberdade; precisamos de um estado de rigor, justo, austero e ao serviço da sociedade; precisamos de nos sustentar para colocar a economia ao serviço do desenvolvimento humano e social; precisamos de um ensino que promova o carácter, o mérito e a inovação; precisamos de garantir o direito ao trabalho fortalecido pelo dever de trabalhar; precisamos de uma justiça de confiança, célere e transparente como suporte e garantia do estado de direito e que combata com eficácia a corrupção; precisamos de seriedade e de honradez; falta a confiança no futuro, temos de juntos criar um grande sonho coletivo; falta afinal a revolução eficaz, não basta querer, é preciso participar e construir, é preciso primeiro dar para depois receber e é com base nestes princípios que se torna necessário e urgente redesenhar o estado social (...)».

    E avançando numa compreensão mais profunda dos problemas, apontava: «Temos na verdade que ir à raiz dos problemas, preocupamo--nos sempre com o problema social descurando o problema sociológico, nunca encontrando desta forma a solução eficaz; e o momento de crise financeira que atravessamos impõe um conceito de perda apenas por vivermos numa sociedade materialista onde o mais importante é o ter em vez do ser e do saber e em que nos habituamos a que o Estado é obrigado a dar sem ter que receber a nossa participação no esforço que há muito deixou de ser coletivo; estão por trás destas situações e comportamentos direitos individuais e corporativistas que colocam em causa os valores da sociedade como um todo; Devemos pensar e tomar decisões sobre o que realmente queremos; queremos verdadeiramente uma sociedade do saber, ou queremos continuar a desperdiçar fundos públicos, que levam mais tarde ou mais cedo à pobreza extrema, que defraudam as expetativas de todas as gerações em que os idosos sentem não ter presente e os jovens não terem futuro».

    E apontava depois o seu caminho: «Urge um maior empenho das pessoas na democracia, um empenho ativo que se traduza numa maior consciência social, política e do bem comum; precisamos de nos libertar de estigmas e de ilusões vendidas por defensores de sistemas que sempre falharam; falta unir em simbiose os princípios sociais e a sustentabilidade económica e financeira; lutar contra o descrédito e ser capaz de fazer parte; não podemos perder a capacidade de acreditar; precisamos de nos mudar a nós próprios, ouvir e relectir sobre o que dizia o filosofo Sócrates, «todos querem mudar o mundo, mas ninguém se quer mudar a si próprio»; precisamos de dignificar e credibilizar os sistemas politicos, a justiça e o ensino; precisamos de uma comunicação social que factualize mais e especule menos, que deixe de se “deitar a adivinhar”, que trabalhe mais investigando e que abandone de vez a máxima de que “mais vale nada dizer do que não dizer nada”».

    E concluiria: «E deixei quase para o fim o comentário de um jovem de apenas 22 anos, Tomás Azevedo, que disse: «A liberdade não pode tomar conta de si própria»; temos pois, hoje, criadas as condições para acreditar num futuro de sucesso e progresso para portugal, temos a coerência nas ideias e nos ideais, a coragem de determinar uma nova era e uma nova maneira de fazer política; mas para que estes ideais reformistas tenham êxito, é necessário que nos consideremos todos socialmente responsáveis e tenhamos atitudes pró-ativas, que deixem a crítica pela crítica e que todos se juntem ao esforço nacional que o governo da nação está a levar a efeito».

    Por: LC

     

     

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