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    Arquivo: Edição de 23-04-2012

    SECÇÃO: Crónicas


    "CRÓNICAs DE LISBOA"

    Tabaco, a escravatura de um vício

    Se fumar fosse uma necessidade básica do ser humano, como comer, beber, respirar, etc., o homem teria nascido com uma chaminé e tal não aconteceu. Assim, fumar é um hábito, não natural, adquirido e com graves malefícios no nosso corpo, afetando-nos a qualidade de vida e a longevidade. E porque o ato de fumar necessita de gestos do fumador, obviamente que afeta a execução, simultânea, de outras tarefas, por exemplo, falar, conduzir, trabalhar, etc.. Estudo recente, concluiu que os trabalhadores fumadores produzem, em média, menos do que aqueles que não fumam, isto é, o tabagismo afeta, de forma direta, a produtividade, pois um fumador faz, em média, 80 minutos de pausas diárias para fumar. Assim, num dia de trabalho, um trabalhador que fume um maço de tabaco por dia faz, em média, cerca de 8 pausas de 10 minutos num dia de trabalho de oito horas, o equivalente a cerca de 16% das horas de trabalho. Se antes da atual lei, as “pausas” eram relevantes, agora são-no ainda mais porque os trabalhadores ausentam-se do seu próprio posto de trabalho, muitas vezes deslocando-se para a rua. É inegável que o ato de fumar, dentro do horário laboral,prejudica a produtividade dos fumadores, pelo que neste período complicado, do ponto de vista económico e social do nosso país, e que é pedido a todos os trabalhadores que produzam mais e melhor, os fumadores terão dificuldades em serem “tão bons como os melhores”, se aqueles não forem fumadores. Assim, os trabalhadores fumadores verão a sua produtividade afetada e, por essa razão, poderão ter o seu posto de trabalho em risco, porque as leis laborais estão a “apertar a malha”. Logicamente, os trabalhadores não fumadores terão legitimidade para protestar contra essa “regalia extra”, porque 16% na produtividade é um valor muito significativo. Assim, para além de outros graves inconvenientes, os fumadores devem ter em conta esta dependência e evitar que o tabaco seja o causador de caírem no desemprego ou terem dificuldades em arranjar trabalho, se o empregador se aperceber dessa sua tabacodependência.

    Uma vez iniciado o consumo de tabaco, por várias razões mas em que “o socialmente aceite” e a imitação influenciam fortemente os jovens, rapidamente este se transforma numa dependência física e psíquica, provocada pela nicotina contida na folha do tabaco, como droga psicoativa. O consumo regular de tabaco passa a representar uma escravatura, apesar do “prazer dum cigarro” e do ato emancipador (!), e aparece relacionado com um conjunto de fatores pessoais de vulnerabilidade, sendo frequentemente associado a outros comportamentos de risco para a saúde. Acresce que o tabagismo não só é um fator de risco para o próprio fumador, mas também para todos aqueles que, não sendo fumadores, (con) vivem ou trabalham habitualmente em espaços poluídos pelo fumo do tabaco. Existe hoje a evidência científica de que as pessoas expostas, de forma crónica ao fumo passivo, têm uma maior probabilidade de vir a contrair cancro do pulmão, doenças cardiovasculares (foi o meu caso pessoal), bem como diversas patologias respiratórias de natureza aguda e crónica.

    O número de portugueses que pretende deixar de fumar tem vindo a aumentar e isso acontece, maioritariamente, por razões económicas e também por efeito da atual lei que torna mais “trabalhoso e censurável” fumar. Contudo, este vício escravizante, torna difícil a libertação de todos aqueles que, inteligentemente e sem egoísmos, entendem que o prejuízo é, no mínimo, duplo e desejam largá-lo. Tarefa muito difícil, pois enquanto 7 em cada 10 fumadores tenta largar o vício, apenas cerca de 5% o conseguem. A diminuição do consumo e dos fumadores terá que assentar, assim, nas vertentes: 1) económica, mas encarecer mais o preço dos cigarros incentiva a evasão fiscal e o contrabando; 2) psicológica, através de campanhas e aconselhamento, apesar da maioria dos fumadores conhecer os malefícios do tabaco; 3) na lei, impondo mais restrições dos locais de fumo. Se a lei em vigor foi uma “pedrada no charco”, perdão, nas “chaminés do fumo”, ela deixou ainda de fora algumas vítimas e que agora o Governo pretende incluir, nomeadamente a proteção das crianças perante o fumo dos fumadores, por exemplo, nos automóveis. Contudo, esta “agressão” pode começar ainda antes da criança ser gerada, pois a mulher fumadora tem um risco acrescido decorrente do consumo de tabaco e na sua gravidez, o consumo regular de tabaco aumenta os riscos na gestação e na criança.

    Porque somos um país de “puristas” e defensores da liberdade, logo algumas vozes se levantaram contra as medidas anunciadas, como sendo limitadoras da liberdade de cada um, esquecendo-se que “a sua liberdade termina onde começa a dos outros” e que os direitos das crianças, seus filhos ou não, precisam de leis que as defendam. Esta limitação, no que às crianças diz respeito, deveria envergonhar os fumadores da necessidade de legislação, porque o seu egoísmo não os coíbe de agredirem as crianças com o fumo do tabaco e, também pelo exemplo, contribuírem para que os seus filhos também venham a ser fumadores. Há outros males, argumentam. Sim e de muitos deles também os pais não sabem ou não querem proteger os seus filhos. Cada um é livre de fumar (apesar dos custos suportados pela comunidade com as doenças provocadas por esse vício), desde que não prejudique os outros, sejam crianças ou não.

    Por: Serafim Marques, economista.

     

     

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